O que este conteúdo fez por você?
- Para os analistas, houve ausência de propostas dos candidatos, que preferiram atacar o oponente
- "Não obtivemos resposta ou qualquer pista que seja com relação ao que gera incerteza para o mercado financeiro", afirma Pedro Patrão, sócio e especialista de Mercado HCI Invest
- "Mais um debate sem propostas, sem direções claras sobre a condução de ambas as possibilidades de governabilidade dos concorrentes, mas muito passado e acusações", afima Ariane Benedito, economista especialista em mercado de capitais
O primeiro debate entre os candidatos a presidente que passaram para o segundo turno ocorreu na noite deste domingo (16). Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL) ficaram frente a frente nos estúdios da Band em São Paulo. Os adversários se acusaram mutuamente durante boa parte do programa, defendendo o que fizeram em seus respectivos mandatos e apontando os erros do outro.
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O petista, por exemplo, acusou o oponente de ter atrasado a compra de vacinas contra a covid-19 e ser ligado a milicianos. Já o atual chefe do Executivo afirmou que o ex-presidente manteve o valor do Bolsa Família em apenas R$ 40 e que o atual Auxílio Brasil é de R$ 600, além de relembrar os casos de corrupção que vieram à tona no governo do PT.
O tema da economia foi tratado em momentos pontuais. Lula afirmou que a privatização de empresas estatais “não serve para nada”. A gestão da Petrobras (PETR4) também foi um dos assuntos. No terceiro bloco, Bolsonaro falou do chamado ‘Petrolão’, o esquema de corrupção envolvendo a estatal.
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O petista também reforçou os casos de corrupção envolvendo a petrolífera, mas disse que os atos da Operação Lava-Jato não precisavam “ter quebrado” as empresas investigadas e defendeu a prisão dos condenados. Lula também citou os 51 imóveis da família Bolsonaro comprados total ou parcialmente com dinheiro vivo. Bolsonaro ainda perguntou quem seria o ministro da Economia do petista, que não respondeu.
“Neste primeiro debate do segundo turno das eleições presidenciais não obtivemos resposta ou qualquer pista que seja com relação ao que gera incerteza para o mercado financeiro”, afirma Pedro Patrão, sócio e especialista de Mercado HCI Invest. Segundo ele, os candidatos limitaram-se a falar apenas do que fizeram em seus governos e não apresentaram nenhuma proposta concreta.
Confira a opinião de especialistas do mercado financeiro sobre o primeiro debate presidencial do segundo turno.
Alexandre Milen, CEO da Harami Research
“Foi interessante ouvir algumas propostas, principalmente aquelas ligadas à área econômica. Agora deu para ter alguma previsibilidade no que tange o cenário econômico. No geral, foi bem equilibrado. Lula fugiu algumas vezes das perguntas, mas Bolsonaro fugiu mais, principalmente daquelas feitas pelos jornalistas presentes. Ambos fizeram propostas reais, factíveis, mas o petista deu mais respostas concretas do que o atual presidente.
Um tema que realmente preocupa o mercado é o teto de gastos. Essa questão fiscal do controle da dívida pública sempre impacta na Bolsa de Valores, no dólar, na economia no geral. E os dois candidatos deram propostas viáveis para a continuidade do Auxílio Brasil.
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Bolsonaro disse que pretende continuar o pagamento do Auxílio Brasil, que terá um impacto de 4% do orçamento, um valor alto. O financiamento viria da reforma tributária e privatizações, com responsabilidade fiscal. Lula também se saiu muito bem. Falou da reforma tributária, planejamento, de taxar menos os mais pobres, que é importantíssimo, e taxar o lucro sobre dividendos dos milionários.
Faz todo sentido as propostas de ambos. Em relação à criação de empregos e universidades, Lula deixou claro que vai dar prioridade a isso se ganhar. Bolsonaro não se pronunciou. Nem sobre isso, nem sobre o aumento do salário mínimo.
Já Bolsonaro perguntou a Lula sobre quem seria o próximo ministro da economia, caso o líder do PT vença a eleilçao, e a questão não foi respondida. Isso traz insegurança ao mercado.”
Álvaro Bandeira, economista e consultor financeiro
“Só podemos lamentar esse debate. Na verdade, foi uma repetição, mais do mesmo de todos os outros debates e as palavras que nós mais ouvimos foram “mentira”, “mentiroso” e “fake news”.
As perguntas feitas pelos jornalistas sequer foram respondidas, inclusive quando se tinha a expectativa de dar um “sim” ou “não”. Portanto, os candidatos falaram o que bem entenderam, aproveitando o tempo que tinham. Não se produziu nenhuma proposta, nenhuma proposição de governo, nada de resolver os problemas do Brasil – que não são poucos.
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Principalmente déficit primário, desemprego, assistência aos mais pobres. Só se fala em passado. Por isso, acredito que não será pelo debate de hoje que alguém vai deixar de votar no Lula ou Bolsonaro, anular ou voto, votar em branco e etc.
Os eleitores estão absolutamente cristalizados e não será por esse debate que se terá uma mudança brusca nas expectativas e pesquisas que sairão a partir daí”.
Ariane Benedito, economista especialista em mercado de capitais
“Mais um debate sem propostas, sem direções claras sobre a condução de ambas as possibilidades de governabilidade dos concorrentes, mas muito passado e acusações que não solucionam os problemas econômicos do Brasil.
Nos primeiros minutos de debate, Bolsonaro afirmou que o Auxílio Brasil de R$ 600 será vitalício e que o pagamento dessa despesa virá da aprovação da reforma tributária, parcelamento dos precatórios e privatizações. Já Lula diz que é necessário planejamento para mudar o Brasil, mas não elabora qualquer tipo de estratégia para a questão e mantém um discurso mais comercial. Entretanto, na sequência, cita que fará a reforma tributária e que nela estará contida a redução de impostos para os mais pobres juntamente com a taxação de dividendos.
Quando os candidatos foram questionados sobre privatizações, politicas de preços, Petrobras e de onde virá a receita para pagamento do Auxílio Brasil, não obtivemos resposta. Esta é a principal dúvida do mercado.
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Sobre a relação com o Congresso, Bolsonaro apenas se defendeu das acusações sobre o Orçamento Secreto. Lula citou que em seu governo haverá um “orçamento participativo”, em que a população ajudará na votação do que irá compor esse orçamento. A questão é como Lula fará para aprovar tal medida com o Congresso eleito, que defende o modelo atual.
A pergunta marcante ficou por conta do questionamento de Bolsonaro ao seu concorrente, sobre quem será o ministro da economia do governo Lula. Mas a resposta não veio e o candidato mudou de assunto, usando o tema do desmatamento da Amazônia.”
Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos
“O debate teve poucas propostas colocadas. Houve até um momento em que Lula falou de isenção de impostos e Bolsonaro falou do aplicativo para educação, temas que conversam mais com o eleitor indeciso. Mas a maior parte foi uma acusação contínua entre eles sobre corrupção, apoio de governo, e isso fala mais para as bases de ambos do que para os indecisos.
Entendo que o Lula foi melhor em termos de postura e de clareza nas ideias, mas nada muito a mais. Nenhum dos dois sai com ar de superior. O debate ficou muito cru e com medidas populistas. Tivemos pouco diálogo de ideias, como o que vimos entre Simone Tebet (MDB) e Felipe d’Avila (Novo) no debate da Globo. Ali realmente vimos o que era para ser um debate entre presidenciáveis. Não vimos isso entre Lula e Bolsonaro.
Acho que é um evento que não impacta tanto os mercados, vai ser lido como mais um evento que aconteceu para colocar material nas mãos de quem já é muito apoiador. Os dois criaram munição para si”.
Juan Espinhel, especialista em investimentos da Ivest Consultoria
“Houve uma melhora na qualidade do debate, a dinâmica de ter apenas dois candidatos favoreceu, mas se falou mais do passado do que sobre o futuro. Alguns temas sensíveis ao mercado foram discutidos mais abertamente. Na abertura já se falou como eles vão honrar os compromissos de campanha sem extrapolar o teto de gastos.
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O fato de os dois terem falado sobre reforma tributária é muito bom, porque assim é possível melhorar a arrecadação pública, ainda que ainda seja preciso discutir como vai ser feito. Falaram bastante sobre a Petrobras e uma possível privatização. Bolsonaro se posicionou sobre como vai fazer para privatizar e Lula mostrou a ideia dele sobre a estatal. O petista deve utilizar a Petrobras como investimento público”.
Mario Goulart, analista de investimentos e criador do canal do YouTube ‘O Analisto’
“Todos fugiram de propostas e de assuntos econômicos. Lula começou um pouco nervoso, com uma linguagem corporal muito tensa, mas se estabilizou ao longo do primeiro bloco, e foi melhor principalmente na forma de encarar a câmera.
Bolsonaro parecia um pouco perdido, com uma linguagem corporal pouco à vontade. Olhava meio por alto, com as mãos para trás e a barriga projetada para a frente.
No segundo turno, a coisa mudou um pouco de figura, com Bolsonaro dizendo que a PEC para elevar o número de ministros do STF era da depuada Luíza Erundina (PSOL). Ao citar o Petrolão e Daniel Ortega, Bolsonaro mandou Lula para a defensiva. O petista perdeu instantes preciosos tentando falar sobre a revolução sandinista, um assunto que o eleitor comum pode não saber o que é. Assim, Bolsonaro ficou com 5 minutos livres para falar à vontade”.
Pedro Patrão, sócio e especialista de Mercado HCI Invest
“O debate ficou dentro do previsto: ataques lançados com números e agressões verbais fortes. O nível foi mantido fora do âmbito das propostas governamentais que de fato são importantes para o povo brasileiro. Lula e Bolsonaro limitaram-se a falar apenas dos feitos históricos de seus governos. Eles não apresentaram quase nenhuma proposta concreta.
Bolsonaro repetiu o mesmo discurso dos últimos debates e Lula só reforçou o que já fez. Os dois não falam o que vão fazer no futuro e não têm projeto. Neste primeiro debate do segundo turno das eleições presidenciais não obtivemos resposta ou qualquer pista que seja com relação ao que gera incerteza para o mercado financeiro.
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Independentemente de quem vencer a disputa presidencial, a principal preocupação dos investidores para o próximo governo segue sendo a agenda fiscal e a trajetória dos gastos públicos e da dívida pública do Brasil.
As principais discussões no período pós-eleitoral serão em torno da reformulação das âncoras fiscais no Brasil: o que acontecerá com o teto de gastos? Teremos outra tentativa de reforma tributária? Ainda haverá um caminho pra percorrer para termos uma visão completa dos gastos adicionais que podem impactar os próximos anos no Brasil.
O mercado espera ansiosamente pela clareza da dinâmica da execução fiscal por parte da equipe que assumirá o próximo governo. Minha percepção é de que este debate pode gerar volatilidade nos preços do Mercado nesta segunda-feira (16). Contudo, ativos financeiros brasileiros ficarão mais sensíveis a fatores externos do que ao tema político. A semana passada terminou bem feia lá fora, após os números da inflação nos Estados Unidos terem vindo o dobro do esperado”.
Thiago de Aragão, diretor de estratégia da consultoria Arko Advice e colunista do E-Investidor
“O formato do debate ajudou a dar uma fluidez e cada um dos candidatos se sentiu à vontade para bater no ponto fraco do outro. No primeiro bloco, Lula deixou Bolsonaro emparedado em relação à atuação do governo na pandemia.
No segundo bloco, os dois se saíram bem, com Bolsonaro tendo uma performance razoavelmente boa em perguntas sobre o Orçamento Secreto (estabelecido na gestão dele) e a composição do Supremo Tribunal Federal. No terceiro bloco, Bolsonaro colocou o petista contra a parede ao falar de corrupção. Com isso, Lula acusou o golpe. Na minha avaliação, o desempenho de ambos foi parelho”.
Vitor Miziara, sócio da Criteria Investimentos e colunista do E-Investidor
“O primeiro debate presidencial do segundo turno mostrou a estratégia dos candidatos: ganhar votos dos indecisos tratando temas polêmicos envolvendo corrupção e vacinas, mas deixando de lado a parte da economia.
Foram abordados temas como corrupção na Petrobras e o dinheiro que será enviado para os programas sociais, mas de novo sem qualquer contra parte em relação ao custo disso.
Lula bem de palco ,como sempre, mas a grande surpresa foi a atitude moderada e calma de Bolsonaro, que com certeza estava mais treinado. Ele trouxe dados importantes para esclarecer temas polêmicos e aproveitou para tocar em assuntos sensíveis, como o relacionamento com o Centrão. Na minha opinão, ele saiu vitorioso do debate.
O mercado deve encarar o debate como está encarando até agora o pré-eleição, com neutralidade e um pouco de apreensão já que hoje não há um vencedor claro, assim como planos de governo. Na dúvida e na incerteza, a volatilidade aumenta e a liquidez tende a diminuir nas próximas semanas.”