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Análise técnica indica tendência de queda nos papéis da Embraer

As ações estão cotadas abaixo de R$8 e ainda há espaço para queda

Análise técnica indica tendência de queda nos papéis da Embraer
Embraer é a empresa do Ibovespa que mais cresceu em agosto de 2021 Foto: Balibouse/Reuters

A divulgação do balanço financeiro da Embraer (EMBR3) na última quarta-feira (5) reforça o estado delicado nas contas da companhia em 2020, o que já era esperado pelo mercado devido aos efeitos da pandemia no setor aéreo. Uma análise técnica feita com exclusividade pela Easynvest para o E-Investidor aponta uma tendência de queda para as ações da empresa na bolsa, hoje cotadas na casa dos R$7.

“O viés atual é negativo e, ao cair abaixo dos R$ 8, existe espaço livre para correções mais acentuadas”, diz o especialista em renda variável da Easynvest, José Falcão.

Caso os papéis voltem a se consolidar acima dos R$ 8,80, o cenário fica mais positivo para as ações e pode indicar uma retomada de confiança dos investidores na companhia.

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A ação da fabricante de jatos comerciais chegou a cair mais de 70% entre 20 de fevereiro e 14 de maio, enquanto o índice Bovespa recuava em torno de 30% no período. Após atingir a mínima do ano aos R$ 5,89, a Embraer iniciou um processo de recuperação até R$ 10,70 (+82%) e reverteu a tendência para alta.

Após a forte recuperação, o que se viu a partir de junho foi o enfraquecimento do movimento de alta. “Desde então, as ações da Embraer seguem em um movimento lateral em torno de R$ 8. O mercado parece precificar o resultado negativo do último trimestre neste nível”, observa Falcão.

Como o mercado vê as ações da EMBR3?

O setor aéreo foi um dos mais afetados com a crise de saúde pública. A constatação se dá não só pelas contas das companhias, como na confiança do mercado. O analista da Ativa Investimentos, Marcio Loréga, por exemplo, tem recomendação apenas de venda para os papéis da companhia, na casa dos R$ 6, e não tem previsão de quando isso poderá mudar.

“Não recomendamos os investidores se posicionarem no papel neste momento. Se a ação reverter esse quadro em um prazo rápido, surpreendendo o mercado positivamente, podemos revisar isso”, afirma Loréga.

O analista da Ativa explica que, apesar do cenário de liquidez e solvência não inspirar grandes preocupações, operacionalmente, ainda há muitas dúvidas em relação ao futuro da empresa, o que se constata pelo último balanço financeiro.

Guide: É a pandemia que vai ditar o ritmo de retomada

Além de alto prejuízo líquido em 2020, R$ 1,68 bilhão no segundo trimestre e R$ 2,9 bilhões no primeiro semestre, a Embraer reduziu consideravelmente a entrega de aeronaves. Foram 17 (4 comerciais e 13 executivas) entregues entre abril e junho, contra 51 (26 comerciais e 25 executivas) entregues no mesmo período do ano passado. A empresa também sofreu com o fim do acordo com a Boeing, que acabou não se concretizando.

“O ciclo de produção tende a reduzir a marcha. Ou seja, não temos uma visão para frente de que a produção de aeronaves será impulsionada e isso acaba mitigando o cenário de longo prazo”, diz Loréga.

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Até às 14h desta sexta-feira, a ação da companhia seguia cotada em R$ 7,47. Em agosto, ela acumula queda de 1,84%. No ano, a queda é de 62,14%.

O analista da Guide Investimentos, Henrique Esteter, tem recomendação neutra para as empresas do setor de turismo como um todo, o que se estende às companhias aéreas. Para ele, o mercado ainda tem muitas dúvidas a serem respondidas.

“Entender melhor o tamanho dos impactos e quando essas companhias poderiam retomar suas operações de forma rentável eram as principais perguntas no começo da pandemia. Até hoje o mercado não tem resposta”, diz Esteter.

No caso da Embraer, a baixa produção de aeronaves e as contas indicam que não há mudança de perspectiva no curto prazo. “As pessoas não se sentem confortáveis em voar e, se não tem demanda para voos, as companhias aéreas vão diminuir suas ofertas. Se vão diminuir, não tem porque buscar novos aviões”, analisa Esteter.

A Embraer atua na fabricação de aviões comerciais, executivos, agrícolas e militares, peças aeroespaciais, bem como em serviços e suporte na área. Apesar de a empresa recorrer a empréstimos para melhorar as contas, a volta por cima dependeria de uma mudança conjuntural relacionada à pandemia, como a descoberta de uma vacina para a covid-19.

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“A companhia só vai voltar para um processo de apreciação dos papéis com uma mudança de perspectiva do setor aéreo, que vai ocorrer com o retorno às atividades interrompidas pela pandemia”, opina Esteter.

Quais são as soluções buscadas pela Embraer?

Recorrer às linhas de financiamentos é um dos caminhos adotados pela EMBR3. Em 23 de julho, a empresa informou que assinou contrato para contrair US$ 300 milhões em empréstimos com cinco bancos públicos e privados. O objetivo é financiar o capital de giro para exportações. Em junho,  já havia ventilado a intenção de captar até US$ 600 milhões. Com os US$ 300 milhões em caixa, agora ela busca mais R$ 300 milhões junto ao BNDES.

O professor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), Silvio Paixão, lembra que é importante haver um socorro a empresa devido ao seu papel no mercado.

“A Embraer tem um aspecto extremamente estratégico por conta de tecnologia e porque a indústria aeronáutica é de ponta. Prestigiar essa indústria, seja ela privada ou militar, é fundamental também para preservar empregos de maior valor agregado”, frisa Paixão.

Outra notícia de interesse para as aéreas chegou na última terça-feira (5), quando o presidente Jair Bolsonaro assinou, com três vetos, a conversão em lei da medida provisória de socorro ao setor aéreo.

Apesar de ter vetado a possibilidade de saque do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para aeronautas e aeroviários, Bolsonaro manteve no texto a previsão de uso do Fundo Nacional de Aviação Civil (Fnac) para empréstimos ao setor e o fim do adicional de US$ 18 cobrados na tarifa de embarque internacional a partir do ano que vem. A lei foi publicada no Diário Oficial da União desta quinta-feira, 6.

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O analista da Guide reforça que os empréstimos configuram mais um “respiro” do que a resolução definitiva para os problemas da companhia como um todo. “O auxílio do governo é mais um respiro do que uma mudança de perspectiva. No fim das contas é a pandemia que vai ditar o ritmo de retomada”, conclui Esteter.