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Azul (AZUL4) estuda comprar a Gol (GOLL4); negócio é bom para o investidor?

Analistas enxergam pontos positivos e negativos na aquisição, mas dizem que Cade pode ser a pedra no sapato

Azul (AZUL4) estuda comprar a Gol (GOLL4); negócio é bom para o investidor?
(Imagem de jcomp no Freepik)
  • A Azul contratou o Citigroup e o Guggenheim para estudar uma compra da Gol
  • Analistas enxergam a compra como interessante, mas há risco de ser barrada pelo Cade
  • Questionadas pelo E-Investidor, Gol e Citigroup não comentaram o assunto. A Azul não respondeu a solicitação

A Azul (AZUL4) fez um pedido de estudo para o Citigroup e o Guggenheim para uma possível compra da Gol (GOLL4), segundo informou a agência Bloomberg nesta terça-feira (5). A informação foi confirmada pelo Estadão, como você pode ler nesta matéria. Com a notícia, as ações das duas companhias saltam no pregão desta terça-feira (5).

As ações da Azul subiram 3,87% no dia, cotadas a R$ 12,36. Enquanto isso, os papéis da Gol decolavam 2,78% a R$ 2,59.

O E-Investidor entrou em contato com as empresas envolvidas. A Gol não comenta o assunto, assim como o Citigroup. A reportagem também entrou em contato com a Azul, mas a empresa não respondeu de imediato.

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Após a publicação da reportagem, a companhia disse que está sempre atenta às dinâmicas estratégicas do setor aéreo e a possíveis oportunidades de parcerias, podendo como prática regular contratar consultores para apoiar a empresa nesses esforços. “Até o momento, a Azul não negociou nem aprovou nenhuma transação específica”, disse a empresa em nota enviada ao E-Investidor.

O possível negócio surge após a Gol entrar com pedido de reestruturação de dívida nos Estados Unidos, chamada de “Chapter 11”. O pedido foi realizado no último dia 25 de janeiro.

A medida foi acionada após a empresa encerrar o quatro trimestre de 2023 com uma dívida de R$ 20,17 bilhões e um patrimônio líquido negativo de R$ 23,35 bilhões. O patrimônio líquido é tudo que a empresa possui e que é possível vender menos tudo que ela deve. Com essa insolvência de patrimônio líquido negativo, a companhia se viu obrigada a pedir a recuperação judicial.

Segundo Acilio Marinello, professor da Trevisan Escola de Negócios, a notícia é boa para as duas empresas por uma questão operacional, visto que a Azul tem mais linhas regionais, enquanto a Gol possui grande parte dos seus voos concentrados entre São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.

“Não há tanta sobreposição assim na malha da Azul com a Gol, o que seria positivo para a Azul assumir as operações da Gol, pois ela passaria a ter a possibilidade de explorar essas rotas que são bem mais lucrativas em termos de volume de passageiros frequência de voos, o que vai agregar bastante valor e potencial de crescimento de receitas da companhia”, afirma Marinello.

Já Enrico Cozzolino, sócio e head de análise da Levante Investimentos, explica que a união das duas companhias pode significar uma forte redução de custos. “Se as empresas se unirem o que acontece é um ganho escala, que tende a aumentar o market share, possibilitando a redução dos custos da operação e também da precificação futura da dívida da companhia”, explica Cozzolino.

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Por outro lado, os analistas lembram que a fusão das duas empresas geraria uma gigante do setor aéreo com uma dívida total de R$ 44,07 bilhões, somando o endividamento de R$ 23,9 bilhões da Azul no terceiro trimestre de 2023 com o endividamento da Gol de R$ 20,17 bilhões da Gol no quarto trimestre. A Azul ainda não divulgou o seu endividamento do quarto trimestre de 2023, que deve sair apenas no balanço, que está previsto para o dia 28 de março.

Na visão dos analistas da Ativa Investimentos, esse endividamento é preocupante para os acionistas minoritários, pois eles podem ser diluídos na operação. Isso porque, embora a Azul tenha negociado a dívida com os credores, a empresa dificilmente teria acesso a uma nova dívida para fomentar uma operação desta magnitude.

“Desse modo sobraria para a Azul a possibilidade de avançar rumo a uma proposta através de emissão de ações, que iria necessitar da anuência de uma série de minoritários que viriam a ser diluídos e necessitariam passar a acreditar que dispor de uma menor parte de uma empresa maior seria vantajoso”, explicam os analistas da Ativa.

Outro ponto visto pela Ativa é que essa fusão dificilmente seria aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE). “Ambas partilham de fortíssimo poder sobre os preços e, num setor que atualmente conta com apenas três grandes empresas, convencer o Cade a aprovar uma operação que une duas destas, sem nenhum tipo de remédio, não seria simples”, argumentam.

Vale a pena comprar as ações da Gol e Azul?

Ainda assim, caso a o CADE aprove a aquisição, os analistas comentam as duas empresas oferecem oportunidades de lucro para o investidor arrojado. “Os papeis da Gol e Azul são boas oportunidades de investimentos para aqueles investidores que não tem medo do risco de grandes perdas de dinheiro na Bolsa em busca de grandes lucros que podem surgir na volatilidade do mercado”, explica Acilio Marinello, da Trevisan, que não vê o papel interessante para os demais investidores por causa dos riscos que o setor aéreo oferece.

Enrico Cozzolino, da Levante, reafirma a ideia de Marinello. Ele comenta que para saber se a ação é interessante é necessário saber o perfil do investidor. Todavia, ele não revelou sua recomendação de forma direta e nem seu preço-alvo, pois, segundo, ele é necessário ser assinante da casa de análise para ter acesso a essa informação.

“Ter Azul e Gol na carteira depende muito de fatores como patrimônio do investidor, e apetite ao risco. E também do valor da transação entre Gol e Azul, que ainda não foi divulgado. Esse valor deve ser fundamental para guiar o investidor, por isso, o mais sensato a falar agora é ‘depende’, pois as informações ainda não estão completas “, comenta Cozzolino.

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Por fim, a Ativa é mais direta e não acredita que o investidor deve comprar a ação das empresas agora. A corretora tem recomendação neutra, pois enxerga o setor aéreo ainda com muitas dificuldades desde a pandemia, quando as medidas restritivas para combater a Covid-19 fecharam os aeroportos.

“Consideramos a possibilidade da compra da Gol pela Azul como algo possível, porém difícil, o que deve deixar o investidor cauteloso, por isso, nossa recomendação é neutra”, conclui a Ativa. A corretora calcula um preço-alvo de R$ 32 para Azul, o que representa uma alta de 168,9% na comparação com o fechamento de segunda-feira (4), quando o papel encerrou o pregão a R$ 11,90.

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