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Por que CVC (CVCB3), Ultrapar (UGPA3) e Azul (AZUL4) tiveram os piores desempenhos da semana na Bolsa

Por que CVC (CVCB3), Ultrapar (UGPA3) e Azul (AZUL4) tiveram os piores desempenhos da semana na Bolsa
Foto: Hannah Mckay/Reuters
  • As três ações que mais perderam preço na semana foram CVC (CVCB3), Ultrapar (UGPA3) e Azul (AZUL4)
  • CVC e Azul foram muito afetadas pelas incertezas que rondam todo o setor de turismo, com o avanço cada vez mais concreto de uma segunda onda de covid-19 no Hemisfério Norte
  • No caso da CVC, o anúncio de prejuízo líquido de R$ 1,15 bilhão no primeiro trimestre também pesou contra o valor do papel

A semana chega ao fim com a notícia de que o presidente dos EUA, Donald Trump, está com coronavírus a um mês da eleição, o que pode não apenas embaralhar o cenário para 3 de novembro, mas também a definição de novo pacote fiscal no Congresso. Assim, desde cedo, a sexta-feira foi de aversão a risco em Nova York e também na B3, onde o Ibovespa fechou em baixa de 1,53%, aos 94.015,68 pontos. O índice acumulou perda de 3,08% na semana (quinta perda semanal consecutiva) e 18,70% no ano.

No Brasil, segue de pé o propósito do governo de levar adiante o Renda Cidadã da forma que se mostrar possível, o que mantém em cima da mesa o receio do mercado quanto à preservação do teto de gastos, após o mal-estar do início da semana com a referência a precatórios e Fundeb como fontes de financiamento.

A combinação de tantos fatores negativos nesta última sessão da semana resultou em elevação do dólar, inclinação dos juros e perdas para o Ibovespa, ainda que relativamente moderadas.

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No balanço da semana, quem levou a pior foram os papéis de CVC (CVCB3), Ultrapar (UGPA3) e Azul (AZUL4). Confira o que afetou o desempenho de cada um deles.

CVC (CVCB3): -11,16%

Não é de se surpreender que CVCB3 chegou ao topo das perdas da semana. Em primeiro lugar, por causa do temor provocado pelo avanço cada vez mais concreto de uma segunda onda de covid-19 na Europa, que afetou todo o setor de turismo e não apenas as companhias aéreas.

Como se não bastasse, há outras fontes de incerteza que deixam os investidores cautelosos. Uma delas, segundo analistas, são as divergências entre governo e Congresso dos Estados Unidos em relação a uma nova rodada de estímulos fiscais. Somado a isso, o diagnóstico do presidente americano, Donald Trump, de covid-19 vem reavivar o debate sobre a postura do país frente a crise.

Gabriel Mota, operador de renda variável da RJ Investimentos, explica por que CVC e Embraer costumam acompanhar os movimentos que afetam as aéreas. “Você só vai voltar a vender pacotes de viagens ou fazer novos pedidos de aeronaves quando a situação estiver controlada.”

Além de questões conjunturais, outra relativa à própria companhia contribuiu fortemente para o mau desempenho da semana. A CVC anunciou prejuízo líquido de R$ 1,151 bilhão no primeiro trimestre de 2020. O resultado reverteu lucro líquido pró-forma de R$ 46 milhões observado no mesmo período de 2019. Devido à pandemia da covid-19 e a ajustes em demonstrações de exercícios anteriores, a companhia só publicou os resultados do primeiro trimestre na madrugada desta quinta-feira (1º).

O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado ficou em R$ 12,5 milhões no período entre janeiro e março, uma queda de 90,5% ante os R$ 131,3 milhões vistos nessa linha do balanço, também pelo critério pró-forma, com relação ao primeiro trimestre do ano passado.

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“A companhia foi brutalmente impactada durante a pandemia, com as fortes quedas na demanda, com o prejuízo líquido principalmente influenciado por itens não recorrentes como PDD resultante da pandemia de R$ 64,7 milhões, impairment de R$ 537,6 milhões, provisão para impostos diferidos ativos de R$ 278,2 milhões e outros no montante de R$ 24,7 milhões”, ressalta Luis Sales, analista da Guide Investimentos.

De acordo com o BTG Pactual, a companhia e o setor são atingidos também pela menor confiança do consumidor e maior desemprego, além de “uma abordagem de preços mais agressiva por parte dos concorrentes”, o que afeta as margens das empresas.

“Ainda vemos um cenário incerto para a CVC no curto prazo, caracterizando-se por um período desafiador para o setor de turismo no Brasil”, concluem os analistas Luiz Guanais e Gabriel Savi.

Ultrapar (UGPA3): -9,68%

Com baixa de 9,68%, as ações da empresa tiveram o segundo pior desempenho da semana, que terminam cotadas a R$ 18,85. O papel da companhia foi prejudicado após um relatório sobre o setor do Bradesco BBI.

O documento afirma ter observado uma ligeira recuperação nos volumes de venda de combustível no Brasil na semana encerrada em 27 de setembro, com destaque para o desempenho da concorrente da Ultrapar, BR Distribuidora.

Nos últimos 30 dias, as ações da empresa têm desvalorização de 8,96%. Em 2020, o papel já recuou 24,92%.

Azul (AZUL4): -9,37%

O tempo fechou para a Azul depois que um relatório do Bradesco BBI rebaixou a recomendação dos papéis preferenciais da empresa de ‘outperform’ (desempenho acima da média do mercado) para neutra. Isso e mais as preocupações com o avanço de uma segunda onda da pandemia do novo coronavírus na Europa achataram o preço da ação na terça-feira (29).

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“Existem três fatores bem claros pesando no setor aéreo: há a questão da aversão generalizada ao risco que acaba impactando os papéis, mas também a segunda onda do coronavírus e o fato deles estarem com preços bem esticados”, aponta Paloma Brum, economista da Toro Investimentos. Ela diz que a retomada econômica apresentada até aqui ajudou as ações a recuperarem parte do valor perdido desde o início da pandemia, mas as vê em um topo.

No relatório do Bradesco sobre a Azul, os analistas Victor Mizusaki e Gabriel Rezende veem que, em um cenário otimista, com a aprovação de uma vacina contra a covid-19 e sua disponibilização a uma ampla camada da população, o preço-alvo da Azul iria a R$ 40. No entanto, uma segunda onda da pandemia no País ou a alta do dólar a R$ 6 levaria o preço a cair a R$ 15.

“Tanto Gol quanto Azul são empresas que provavelmente vão ver suas operações retornando aos patamares habituais quando a situação do coronavírus se resolver. Mas esse é o grande problema, ainda não sabemos de fato quando isso vai acontecer, e essa segunda onda mostra como essa recuperação ainda é incerta”, pondera a economista.

Na quinta (1º), houve um alento para o papel depois que o Goldman Sachs elevou a recomendação de GOLL4 e AZUL4 de neutra para compra. De acordo com o banco, as empresas estão bem posicionadas em um ambiente de recuperação da demanda doméstica, com aceleração do tráfego nos próximos meses. A casa destacou ainda que ambas foram rápidas em se ajustar à crise gerada pela pandemia de covid-19.

Nesta sexta (2), porém, o sinal se inverteu novamente e as ações preferenciais da Azul voltaram a cair, porque a cautela dos investidores com relação ao ritmo de retomada da economia falou mais alto.

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Nesse contexto, “uma combinação de demanda ainda fraca devido a pandemia e combustível mais caro por conta do câmbio amplia o pessimismo no setor”, observa Jerson Zanlorenzi, responsável pela mesa de renda variável e derivativos do BTG Pactual Digital.

*Com Estadão Conteúdo

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