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Cerveja vai aumentar. Como isso afeta as ações da Ambev (ABEV3)?

Reabertura de bares e restaurante puxa recuperação do consumo

Cerveja vai aumentar. Como isso afeta as ações da Ambev (ABEV3)?
Logo da Ambev (ABEV3) (Foto: Paulo Whitaker/Reuters)
  • Especialistas dizem que o reajuste envolve o repasse do aumento dos custos de produção e também uma tentativa de recompor as margens e manter a operação competitiva
  • Migração do consumo de cerveja dos bares e restaurantes para os supermercados contribuiu para que os prejuízos nas vendas não fossem tão intensos e também aumentou a participação das latas sobre as garrafas
  • Papel é visto como defensivo e resiliente, sem desconto no preço e também sem perspectiva de grande valorização

Depois de meses de seca, o mercado de cerveja ainda não voltou a brindar com gosto. Mas um relatório elaborado pelo Credit Suisse junto a fabricantes de bebidas aponta que Ambev (ABEV3), Heineken e Petrópolis devem aumentar os preços de cerveja em cerca de 5% ao longo de setembro.

No documento, a analista Marcella Recchia diz que as tendências de avanço nas vendas de cerveja para julho e agosto da Ambev continuaram “saudáveis” e “positivas”. E considera que o uso de tecnologia por parte da Ambev tem sido um “grande diferencial” para aumentar as vendas em relação às duas rivais Heineken e Petrópolis.

O E-Investidor conversou com analistas para entender o atual momento do mercado e de que forma esse movimento da Ambev pode impactar as ações da empresa.

Aumento de preços é natural

Para o leitor desavisado, um aumento nos preços pode até parecer um contrassenso. Afinal, o setor sofreu um baque com a pandemia, que forçou o fechamento de bares, restaurantes, casas noturnas e hotéis e, com isso, derrubou a demanda pela bebida. Mas os especialistas garantem que o reajuste é natural.

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“Todas as fabricantes sofreram com a diminuição do volume vendido. Como a alavancagem operacional delas é menor, principalmente com o fechamento do foodservice (segmento que reúne o consumo de alimentos e bebidas fora de casa), elas compensam com o aumento de preços”, explica Marcel Zambello, analista da Necton Investimentos. “Se o volume caiu, elas sobem o preço e, assim, conseguem aumentar as margens, que caíram muito nos últimos meses”.

Ricardo França, da Ágora Investimentos, argumenta que os insumos encareceram e que é normal que o aumento dos custos de produção seja repassado ao consumidor final.

“Eles poderiam segurar o reajuste, mas precisam se manter competitivos dentro do mercado”, diz o analista, que considera que esse é um momento muito oportuno para subir preços. “Ainda que os preços de comida e bebida estejam subindo, a cesta de inflação está barata, já que outros produtos e serviços estão com preços baixos.”

Henrique Esteter, analista da Guide Investimentos, lembra que a praxe da Ambev era fazer um reajuste anual em julho, mas, com a pandemia, a companhia optou por segurar o aumento. “Na divulgação do último balanço, ela afirmou que aguardaria a volta da demanda, e agora já deve estar vendo movimentos positivos nesse sentido”, diz.

As vendas estão se recuperando

Embora ainda seja cedo para comemorar, a verdade é que a pandemia não foi tão cruel com a Ambev como se supunha. O fechamento dos estabelecimentos jogou contra, mas uma parte considerável dos consumidores passou a comprar bebidas no supermercado e tomar em casa.

“Em termos de volume de cerveja, os resultados da Ambev foram bem melhores que o esperado inicialmente. Estimávamos um impacto muito intenso e que acabou não acontecendo”, comenta França. “E a tendência natural, como se verifica em outros países, é que o consumo cresça a partir de agora, ainda que talvez não volte aos níveis pré-covid-19.”

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Para Zambello, o feriado de 7 de setembro reforçou a crença de que o setor terá uma recuperação em “V”. Isso porque, cansada após meses de clausura, a população aproveitou os dias de folga e sol e correu para as mesas de bares e restaurantes.

“As pessoas estão ansiosas e relaxaram muito as medidas de isolamento, apesar dos riscos para a saúde. Isso está acelerando a recuperação do setor”, afirma.

Mais latas, menos garrafas

Outro dado notável é o aumento da produção de cerveja em lata, enquanto as garrafas perdem espaço. Não se trata de uma medida de redução de custos, já que a lata sai mais cara para a empresa, mas sim do resultado de uma mudança de comportamento.

Com o isolamento social, o mix de vendas passou a ter maior peso dos supermercados, em que se vendem principalmente latas, e menor participação de bares, onde as garrafas são mais consumidas.

França acredita que, mesmo após o fim da pandemia, a compra de cerveja no mercado não perderá força. E, nesse ambiente, o vasilhame de vidro não funciona bem. “A garrafa só sai barato quando é retornável. Mas levar garrafas retornáveis para o mercado imporia um custo de logística reversa, não seria algo tão simples”, explica.

Projeções ainda não fizeram preço no papel

Embora o cenário pintado pelo Credit Suisse e pelos analistas seja positivo, a verdade é que esses ares otimistas ainda não fizeram preço no mercado. Rafael Panonko, chefe de análises da Toro Investimentos, conta que o provável reajuste antecipado pelo relatório não chegou a repercutir na cotação de ABEV3.

“Hoje o movimento do papel chegou a cair mais forte, depois retomou e ficou no zero a zero. Não me parece que o mercado esteja refletindo muito essa notícia”, diz.

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Para o investidor, as chances de conseguir lucro rápido com a valorização da ação são pequenas. O papel já está bem precificado, com pouco espaço para descontos e também para altas expressivas.

“É uma empresa com excelentes fundamentos e reconhecida capacidade de adaptação a diferentes cenários. Por isso, não opera com grande desconto em relação ao seu potencial. Portanto, o upside é relativamente limitado”, comenta França.

Apesar de ver o reajuste de preços como positivo, Esteter vê o papel com cautela. “A Ambev tem tido dificuldade de entrega de resultados há algum tempo. Ela tem atuação expressiva na Argentina, mas o cenário econômico de lá não ajuda. Além disso, a concorrente Heineken está ampliando seu market share“, pondera.

Zambello, por sua vez, tem visão “entre neutra e positiva” para ABEV3. “O papel andou de lado por um bom tempo, mas, nos R$ 12 atuais, é atrativo. Pode ser bom para compor um portfólio de ações mais defensivas e que pagam dividendos“, afirma. “Mas, como o principal driver é a retomada do foodservice, há o receio de que um novo surto de covid-19 volte a fechar os estabelecimentos.”

Já Panonko vê no papel uma boa oportunidade de compra para o investidor que busca uma empresa resiliente. “Ninguém vai deixar de tomar cerveja daqui a dez anos. A Ambev mostrou que tem gestão eficiente, é um case conservador e resiliente”, diz.

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Ele não considera que o papel esteja caro, já que empresas que têm previsibilidade de retorno e pagam bons dividendos acabam sendo precificadas de forma diferenciada pelo mercado. “Elas são boas presenças na carteira em momentos de turbulência. Não dá para comparar uma empresa já consolidada com outra em crescimento, que tem risco bem maior”.

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