Mercado

Corte na Selic não é consenso entre economistas

Especialistas divergem sobre impacto da redução da taxa de juros

Corte na Selic não é consenso entre economistas
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. (Foto: José Cruz/ Agência Brasil)
  • O Comitê de Política Monetária anuncia o novo patamar da Selic nesta quarta-feira, 6
  • Mercado espera queda de pelo menos meio ponto percentual e mais cortes até o fim do ano
  • Especialistas alertam sobre possíveis efeitos negativos para a economia

Nesta quarta-feira (6), o Comitê de Política Monetária (COPOM) irá anunciar o novo patamar da taxa básica de juros. Com a Selic atualmente em 3,75%, a expectativa majoritária no mercado financeiro é que ocorra um corte de, pelo menos, meio ponto percentual. A redução seria uma tentativa do Banco Central de estimular o crédito e reativar a economia, fortemente impactada pela crise do coronavírus.

Entretanto, a medida não é consenso entre os economistas. Uma das preocupações levantadas é de que um corte brusco nas taxas de juros assuste os investidores estrangeiros e intensifique a fuga de capitais do País – o que só aprofundaria a crise. A eficácia da baixa na Selic para reativar a economia, principalmente em momentos críticos, também é contestada. Entenda abaixo a opinião dos especialistas.

Cautelosos

Eduardo Correia, professor do Insper

“Eu tenho um certo ceticismo sobre isso. A gente tem observado não só na economia brasileira, mas na economia de outros países, que a eficácia dessas políticas de redução de juros para aumentar o crédito e injetar liquidez na economia tem sido muito pequena. Em situações de crise, como a de 2008 e 2009, que o cenário de incerteza é muito grande, mesmo que você injete liquidez na economia, os bancos, principalmente os privados, que trabalham com avaliação de risco, têm muita dificuldade em avaliar a viabilidade dos empréstimos, ou seja, os rumos do País estão tão incertos, que fica difícil para quem concederia crédito, decidir se vale a pena ou não.

Eu acho que quem propõe uma grande redução na taxa de juros está insistindo em um caminho que não é muito eficaz e pode ser perigoso, já que o Brasil tem um problema fiscal permanente e já lutou muito contra a inflação. O caminho para sair da crise é fazer políticas fiscais focalizadas: deixar claro onde investir, qual o custo e em quanto será aumentada a dívida. Fora isso, pior que tentar fazer uma política monetária agressiva, é a ideia de alguns economistas de emitir moeda para combater a crise.”

Marcelo Kfoury, coordenador do Centro Macro Brasil da FGV EESP

“Tem economistas que estão em um tom arriscado, querendo que a taxa vá para as mínimas imediatamente. Eu acho que não é apropriado, já que o risco dessa queda ser muito rápida é ter fuga de capitais. Se você corta demais os juros você incentiva as pessoas a não fazerem poupança no Brasil, isso pode piorar o câmbio e a percepção de risco do País. Por outro lado você tem uma conjuntura em que a atividade econômica foi fortemente abalada. Tem que balancear, é uma faca de dois gumes.”

A favor do corte

Everton Gonçalves, superintendente da Assessoria Econômica da Associação Brasileira de Bancos (ABBC)

“A gente acha que é momento, sim, de cortar as taxas de juros. O que está ocorrendo na economia nessa crise toda é que os preços estão sendo pressionados para baixo, é um choque desinflacionário. Inclusive, no curto prazo, os números estão quase negativos. Então a gente acha que é importante reduzir a Selic, principalmente por conta da inflação, que está baixa, e a atividade econômica que também está praticamente paralisada, com muita capacidade ociosa, tanto no trabalho, quanto na indústria. Então o momento é oportuno para reduzir 50 pontos percentuais. Esperamos que no final do ano a taxa termine a 3%, mas vai depender de como a economia vai reagir.”

Nelson Marconi, coordenador do Centro de Estudos do Novo Desenvolvimentismo da FGV EAESP

“Eu acho que é essencial reduzir a taxa de juros agora, porque a economia está absolutamente estagnada. Hoje saiu um dado sobre a produção industrial mostrando uma queda de 9%, o PIB do ano também deve cair pelo menos 5%, então nada justifica manter a taxa de juros estável ou em alta. É importante lembrar que só a queda na taxa de juros não será suficiente para estimular a economia, mas ela ajuda a reduzir o custo de rolagem da dívida, ajuda a reduzir outras taxas de juros no mercado de crédito, ou pelo menos deveria. Então, a redução que o COPOM irá definir na taxa de juros, se é que vão definir, deveria ser muito significativa.

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Nesse momento, não vai ser a taxa de juros que vai determinar a atratividade ou não de investimentos do exterior. Os países estão tentando se fortalecer, no sentido de ter mais caixa, mais capital, ter risco menor. Em resumo, está todo mundo tentando ir para ativos de menor risco e não vai ser o Brasil mantendo a taxa de juros ou não, que ele vai conseguir atrair investimento estrangeiro em um cenário desse. Pelo contrário, se ele diminui a taxa de juros mostra que o País está tentando recuperar a atividade com maior rapidez, e isso vai levar a economia a circular mais rápido.”

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