- No 2º trimestre de 2023, o PIB avançou apenas 0,8% em relação ao trimestre anterior, o que foi lido como uma "estagnação"
- Os dados de importação e exportação também decepcionaram e, adicionalmente, o mercado teme que o país esteja vivendo uma crise no setor imobiliário
- E uma China crescendo menos, significa também menos importações de insumos brasileiros - o país é o destino de mais de 30% das exportações do Brasil. Setor de mineração e siderurgia devem ser os mais impactados caso os temores de dese confirmem
O mercado voltou a se preocupar em agosto com as sinalizações emitidas pela China. Após implementar no ano passado uma política rígida de lockdowns para combater o covid-19, campanha que ficou conhecida como “Covid Zero”, o país asiático viu seu crescimento econômico cair para 3% em 2022, segundo pior resultado em quase 50 anos.
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Entretanto, a expectativa para este ano era de que a economia chinesa voltasse a acelerar frente ao fim dos lockdowns, com um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de pelo menos 5%. Essa perspectiva, porém, está ameaçada. No segundo trimestre de 2023, por exemplo, a atividade econômica avançou apenas 0,8% em relação ao trimestre anterior, o que foi lido como uma “estagnação”.
Os dados de importação e exportação também decepcionaram e o mercado teme que o país esteja vivendo uma crise no setor imobiliário – um dos motores de crescimento chinês. Isto porque, na última quinta-feira (17), a gigante chinesa do setor imobiliário Evergrande entrou com pedido de proteção à falência nos Estados Unidos. Paralelamente, outra grande gestora de ativos ligada ao segmento na China, a Zhongrong International Trust, não pagou os juros de produtos financeiros.
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E uma China crescendo menos significa também menos importações de insumos brasileiros – o país é o destino de mais de 30% das exportações do Brasil. “A China é uma das grandes preocupações, pois além de ser uma das potências mundiais é um parceiro muito forte do nosso mercado. Logo, caso ocorra uma recessão mais firme por lá, isso poderá acarretar em uma diminuição nas exportações no nosso País”, diz Marco Monteiro, analista CNPI da CM Capital.
Flávio Conde, analista da Levante Ideias de Investimentos, também aponta para essa relação. “A China está em primeiro lugar na balança comercial brasileira, por isso preocupa o mercado”, diz o especialista. Segundo ele, o primeiro impacto desta perspectiva de desaceleração chinesa pode ser visto no comportamento do dólar frente ao real.
“Com o Brasil exportando menos para a China, vai entrar menos dólares na nossa economia e isso explica também por que a moeda, que chegou a R$ 4,74 em junho, veio para R$ 4,94 em agosto”, afirma Conde.
Mineração e siderurgia nos holofotes
Companhias listadas de vários setores na B3 possuem relação com o mercado chinês, como os de mineração, siderurgia, papel e celulose, frigoríficos e exportadoras ligadas ao agro. Entretanto, os impactos mais negativos de uma possível desaceleração da China devem ser sentidos nos segmentos mais ligados à indústria e infraestrutura, na esteira de uma possível crise imobiliária. Ou seja, mineração e siderurgia, cujos principais nomes são Vale (VALE3), CSN (CSNA3), Usiminas (USIM5) e Gerdau (GGBR4).
“A desaceleração econômica da China é muito mais na parte industrial do que na parte da vida das pessoas, como o consumo de carne, por exemplo”, diz Conde. “O consumo de papel e celulose também não deve ser impactado, porque os produtos estão ligados ao hábito do chinês.”
Para os papéis mais impactados, Conde só possui recomendação de compra para Gerdau, que apesar de exportar aço para a China está muito ligada à construção civil no Brasil. “A situação para a empresa está piorando um pouco no exterior, mas aqui dentro vai bombar de vender”, diz o analista da Levante. “Também acho que as ações da Gerdau estão muito baratas”, afirma.
Marco Monteiro, analista CNPI da CM Capital, por sua vez, é categórico e afirma não recomendar a compra de nenhuma das companhias do setor de mineração e siderurgia em função dos sinais preocupantes vindos do gigante asiático. Possivelmente menos impactado, o especialista também está cauteloso com o segmento de proteínas.
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“Não recomento a tomada de posição agora em nenhuma das empresas citadas, mas quem já tem posições nos ativos, também não recomendaria a saída de imediato”, diz Monteiro. “O interessante seria o investidor montar uma operação de hedge dessas posições.”
Evolução das recomendações
De acordo com um levantamento feito por Einar Rivero, head comercial do TradeMap, com a ferramenta “Consensus”, das 15 instituições as quais a plataforma tem acesso e que cobrem Gerdau, pelo menos 10 recomendam a compra do papel e 5 sugerem a manutenção, sem nenhuma indicação de venda. No ano, os papéis GGBR4 caem 11,8%, aos R$ 24,80.
A Vale, atualmente, também não possui nenhuma recomendação de venda entre as 13 instituições verificadas pelo TradeMap – em agosto, eram 9 indicações para compra contra 4 de manutenção.
Contudo, a visão de mercado sobre VALE3 já foi melhor, já que em maio o ativo tinha 11 recomendações de compra e 3 de manutenção. Em julho, a XP, por exemplo, foi um dos players que cortou a recomendação para Vale de compra para neutro, de olho na diminuição de produção de aço na China.
No acumulado de 2023, os papéis da Vale caem 30%, aos R$ 62,32.
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Já Usiminas e CSN viram as recomendações de venda do papel aumentarem nos últimos três meses. USIM5 saiu de uma indicação de venda para três entre maio e agosto, enquanto CSNA3 passou de nenhuma venda para duas recomendações de venda no período.
No acumulado de 2023, as ações da Usiminas e da CSN cedem 2% e 18% respectivamente, aos R$ 6,88 e R$ 24,80.
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