- Apesar de recorde no valor nominal em 2020, valor real da moeda em 2002 foi de R$ 7,64
- Dólar continua alto e supera valor real da crise de 2015, mas não deve atingir o patamar de começo do século
- Moeda teve sua mínima real histórica em 2011, quando a cotação nominal foi de R$ 1,53 e a real de R$ 2,15
Nesta quarta-feira (6), o dólar voltou a operar em forte alta e bateu mais um recorde de cotação nominal. Com expectativa de um novo corte na taxa Selic, a moeda americana terminou o dia em alta de 1,96% e subiu para R$ 5,70.
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A redução da economia fiscal na Câmara do projeto de socorro para Estados e a mudança do rating brasileiro para “negativa” pela agência de classificação de risco Fitch Ratings também são fatores que contribuíram para o fortalecimento da moeda.
O preço pode assustar, mas ainda está longe do valor máximo real que a moeda já atingiu. No dia 21 de outubro de 2002, a cotação nominal da moeda americana foi de R$ 3,96. Porém, com o poder de compra ajustado, o valor real hoje seria de R$ 7,64.
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A pedido do E-Investidor, o Centro de Macroeconomia Aplicada da FGV EESP elaborou um levantamento que aponta o valor nominal e real do dólar desde a criação do Plano Real, em 1994. Enquanto o primeiro é a taxa de câmbio em dado momento da história, o segundo é o preço corrigido pela inflação para valores presentes.
Ou seja, o cálculo leva em conta a inflação brasileira e a americana do período para comparar as cotações passadas com a atual.
O pico, atingido em 2002, ocorreu às vésperas do 2º turno das eleições presidenciais, onde havia grande incerteza sobre qual seria a política econômica do governo Lula, prestes a ser eleito naquela disputa.
“Foi um período de pânico da economia brasileira, com a eleição e com as contas externas em uma situação muito difícil”, diz Emerson Marçal, professor e coordenador do Centro de Macroeconomia Aplicada da FGV EESP.
Mas o dólar está caro ou barato?
Para o professor da FGV, mesmo longe da máxima real histórica, o valor atual ainda é alto.
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Como exemplo, Marçal cita o pico da moeda em 2015, onde o valor nominal foi de R$ 4,19, sendo o real de R$ 4,70. “O dólar está mais alto em valores reais hoje do que no período da crise do impeachment da ex-presidente Dilma.”
Apesar disso, ele afirma que dificilmente vamos nos aproximar do pico de 2002, mesmo com a pandemia da covid-19 e o momento político conturbado que o País vive. “O grande medo é o risco político. Mas olhando friamente e, se tudo se mantiver no caminho em que está, o mercado de câmbio deve se acalmar e não vamos ter um novo recorde real.”
Qual será o novo normal do valor do dólar?
Cristiano Lima, superintendente de derivativos da Ágora Investimentos, diz que não existe mais um novo normal para o preço do dólar desde o início do novo governo.
Segundo ele, a grande atratividade para investidores estrangeiros no Brasil sempre foi a taxa de juros. Com a Selic em sua mínima histórica (3% a.a) e a crise da covid-19, no entanto, houve foi uma forte saída de capital.
Neste contexto, o câmbio foi elevado ao atual patamar. “Manter o dólar um pouco mais alto é mais atrativo e ele acompanha o mercado.”
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Apesar disso, Lima pondera que a pandemia e o cenário político conturbado fizeram a taxa subir ainda mais.
Ou seja, em sua visão, a tendência é o real se valorizar quando o ambiente político e econômico estiverem mais controlados. “A moeda se estabilizou na última semana por esses dois fatores”, afirma o especialista.
Marçal também concorda que não há um novo normal e de que o dólar está mais alto do que deveria. “O grande medo é o risco político. Então não podemos cravar nada”.
Desde o pedido de demissão de Moro, o governo tem agido mais para tentar apaziguar os ânimos do mercado. Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro reafirmou que Paulo Guedes seguirá no cargo com total autonomia e buscou uma reaproximação com Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados.
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Com isso, após atingir seu pico nominal de R$ 5,66, o dólar fechou em R$ 5,49 na semana passada.
Qual foi o menor valor real do dólar?
O ponto mais baixo, em termos reais, da cotação do dólar desde a criação do Plano Real foi em 25 de julho de 2011. No dia, a cotação nominal foi de R$ 1,53. Com o ajuste, o valor seria equivalente a R$ 2,15 hoje.
Segundo o professor da FGV, o real brasileiro estava muito valorizado na época devido à descoberta do pré-sal e ao período de juros reais bem baixos no mundo.
Ele afirma que não devemos esperar que a moeda volte a este patamar. Para ele, o valor não é sustentável e o contexto mundial também é outro. “Estávamos mal acostumados, o dólar não aguenta ficar nem muito alto, como em 2002, nem muito baixo, como em 2011”, diz Marçal.