- Faltando 16 dias para o primeiro turno das eleições, a distância entre os dois principais candidatos ao cargo de presidente da República nas pesquisas de intenção de voto é cada vez menor
- Na visão dos analistas ouvidos pelo E-Investidor, a possibilidade de uma vitória em primeiro turno é pequena. Mas, se acontecer, também não deve causar tanto impacto para a Bolsa de valores
- A preocupação do mercado gira em torno da situação fiscal e das medidas econômicas a serem adotadas pelo futuro presidente, independe de ser Lula ou Bolsonaro
O mercado financeiro vem acompanhando de perto – e com cautela – a chegada das eleições presidenciais de 2022. Contamos nestas reportagens como o mercado reagiu ao primeiro debate presidencial e às sabatinas do Jornal Nacional, da TV Globo, com Jair Bolsonaro (PL), Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB).
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Faltando 16 dias para o primeiro turno das eleições marcado para o dia 02 de outubro, a distância entre os dois principais candidatos ao cargo de presidente da República nas pesquisas de intenção de voto é cada vez menor.
Uma análise feita pelo PPZ Agregador de Pesquisas mostra que o presidente Jair Bolsonaro (PL) cresceu seis pontos percentuais desde março, enquanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que esteve durante todo o período à frente na corrida presidencial, subiu apenas 0,5 ponto percentual.
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Considerando a média das pesquisas divulgadas em setembro, Lula tem 43% das intenções de voto, frente a 33% de Bolsonaro, 7% de Ciro Gomes (PDT) e 4,5% de Simone Tebet (MDB). Brancos e nulos somam 4,5% dos votos, mesmo percentual dos indecisos.
Erich Decat, analista de risco político da consultoria DKPG, explica que parte da alta nas intenções de voto em Bolsonaro tem a ver com a distribuição de benefícios sociais promovida pelo governo, uma tendência que parece já ter se estabilizado. A recente queda da inflação também ajudou.
“Acreditamos que a queda no custo de vida dos eleitores, sobretudo os da classe média, conseguiu segurar uma possível vitória de Lula no primeiro turno”, diz o analista. “Mas Bolsonaro não conseguiu avançar mais pelo fato de que a inflação ainda machuca muito as classes menos favorecidas”, afirma.
A recuperação do atual presidente na busca pela reeleição não foi suficiente para virar o jogo a seu favor, mas ajudará a levar a decisão para o segundo turno, marcado para o dia 30 de outubro. A vitória no primeiro turno, de qualquer um dos candidatos, ainda é possível, mas não é o cenário base do mercado financeiro.
“Não acreditamos que Lula vá conseguir nesta reta final os 12,5% que restam para ter a maioria necessária. Mesmo considerando um cenário totalmente extremado em que 100% dos votos de Ciro migrem para Lula, ele não conseguiria a vitória no primeiro turno”, ressalta Decat.
E se Bolsonaro ganhar?
Se uma vitória de Lula no primeiro turno parece improvável, uma arrancada de Bolsonaro para levar as eleições já no dia 02 de outubro tem ainda menos chances. Na visão dos analistas ouvidos pelo E-Investidor, o cenário base do mercado financeiro é que a disputa seja resolvida somente em segundo turno.
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Mas, se mesmo que o atual presidente surpreenda e consiga virar o jogo, a vitória não deve causar tanto impacto para a Bolsa de valores. “Não me parece que a reeleição do Bolsonaro faria muito preço”, diz Leandro Petrokas, diretor de research e sócio da Quantzed, casa de análise e empresa de tecnologia e educação para investidores. “Talvez até aconteça uma euforia de curto prazo, com Bolsa em alta e dólar em queda, uma reação momentânea visto que entre Bolsonaro e Lula, o mercado realmente prefere o Bolsonaro”, afirma.
Para Petrokas, o bom humor com uma vitória do atual presidente, porém, não duraria muito. Assim como no caso de uma vitória do candidato petista, como explicamos nesta reportagem, as preocupações estão voltadas ao cenário fiscal mesmo em uma eventual reeleição de Bolsonaro.
Segundo os analistas, o mercado quer ter certeza que o próximo governo possa se comprometer em não gastar mais do que arrecada e de que a equipe econômica tomará decisões técnicas. “Bolsonaro deve permanecer com a mesma equipe econômica, porém em 2022 aumentou o gasto governamental com políticas populistas. Fica o ponto de interrogação de como isso será pago nos futuros orçamentos, pois o auxílio Brasil de R$ 600 acarreta em uma despesa pública que não era esperada”, ressalta Marcus Labarthe, sócio-fundador da GT Capital.
Com essa volatilidade fiscal no radar, a Bolsa de valores e o câmbio devem caminhar a depender deste cenário. Gastos maiores aumentam o risco no mercado, o que penaliza as ações na Bolsa e faz o real se depreciar frente ao dólar.
No entanto, ao contrário de em uma vitória petista, a reeleição de Bolsonaro poderia ajudar no desempenho de companhias estatais, com a expectativa de menos interferência política nas gestões e planos de privatização.
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“Caso o presidente seja reeleito, tudo indica que as privatizações devem ganhar mais força, o que beneficiaria os acionistas das empresas estatais ou com participação do governo. Mas ainda está incerto se o teto de gastos, hoje já praticamente abandonado, será reestruturado e se algumas reformas importantes voltarão a ser prioridade”, diz Juan Espinhel, especialista da Ivest Consultoria.