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Jair Bolsonaro: como o mercado viu a entrevista ao Jornal Nacional

E-Investidor conversou com analistas para entender o impacto das falas do presidente durante a sabatina

Jair Bolsonaro: como o mercado viu a entrevista ao Jornal Nacional
Jair Bolsonaro é entrevistado no Jornal Nacional. Foto: Rede Globo
  • Jair Bolsonaro (PL) abriu a rodada de entrevistas com os presidenciáveis do Jornal Nacional, da TV Globo
  • Em 40 minutos, ele tratou de assuntos polêmicos do seu mandato, como o ataque às urnas eletrônicas, condução da pandemia e aproximação com o centrão
  • Para os analistas consultados pelo E-Investidor, o saldo da entrevista foi positiva para o atual presidente

Nesta segunda-feira (22), o presidente da República Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, abriu a rodada de entrevistas com os presidenciáveis do Jornal Nacional, da TV Globo. Em 40 minutos, ele tratou de assuntos polêmicos do seu mandato, como o ataque às urnas eletrônicas, condução da pandemia e a aproximação com o centrão.

No campo econômico, prometeu continuar na mesma toada do início da gestão em 2019. A repercussão da sabatina foi intensa nas redes sociais, com apoiadores e opositores divergindo sobre o impacto das falas de Bolsonaro.

Pelo menos na Bolsa de Valores, não houve prejuízos – pelo contrário, o Ibovespa abriu a sessão em forte alta.

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Até às 12h23, o principal índice de ações da B3 subia 1,79%, aos 112.474,51 pontos. Para os analistas consultados pelo E-Investidor, o saldo da entrevista foi positiva para o atual presidente. Agora, resta entender de que forma o posicionamento de Bolsonaro no JN pode afetar as pesquisas de intenção de voto.

“O Presidente teve um desempenho relativamente bom. Os eventos abordados pelos jornalistas não foram novidade e o presidente teve, além de traquejo de argumentação, sabedoria emocional”, afirma Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos.

Já para Mario Goulart, analista de investimentos e criador do canal do YouTube ‘O Analisto’, apesar do desempenho considerado positivo, ainda não há um franco favorito no mercado financeiro. De acordo com o especialista, ainda estamos longe de ter uma definição do resultado da corrida eleitoral – ainda que as pesquisas apontem o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, à frente.

“Todo mundo achava que Lula ganharia no primeiro turno, mas a campanha vai começando e começamos a perceber que talvez a diferença não seja tão grande assim”, diz Goulart.

Nesta terça- (23), é a vez de Ciro Gomes (PDT) comparecer à bancada do JN. Na quinta (25), Lula será sabatinado. Por último, na sexta (26), Simone Tebet (MDB) será entrevistada.

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Leia na íntegra a opinião dos analistas:

Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos

“O Presidente teve um desempenho relativamente bom. Os eventos abordados pelos jornalistas não foram novidade e o Presidente teve, além de traquejo de argumentação, sabedoria emocional para se esquivar dos nítidos ataques.

Avalio que o Presidente deverá colher frutos da aparição no programa, a despeito do mérito das questões. O perfil controlado frente aos ataques trazem à Bolsonaro um saldo positivo do evento.”

Mario Goulart, analista de investimentos e criador do canal do YouTube ‘O Analisto’

“Difícil dizer qual foi o saldo do desempenho do presidente para o mercado. O mercado ainda não sabe o que é melhor para ele, se é Bolsonaro ou Lula. Não sabe o que será mais conveniente.

Para mim, a entrevista de ontem não mudou nada na cabeça de ninguém. Quem gosta do Bolsonaro afirma que ele “jantou” o Willian Bonner e a Renata Vasconcellos e quem não gosta diz que ele mentiu e se esquivou o tempo todo. Não há uma diretriz geral, as interpretações estão bem dispersas.

O que eu acho cansativo é essa insistência do Bolsonaro nessa história das urnas eletrônicas, sinalizando que poderia não respeitar o resultado democrático. Mas também acredito que na hora do ‘vamos ver’ ninguém vai ter coragem de fazer nada. Militar não vai ter tempo e nem paciência para ir atrás de golpe.

Do ponto de vista de bolsa de valores, não houve prejuízo. O Ibovespa está subindo hoje com os investidores empolgados com Vale (VALE3), Banco do Brasil (BBAS3) e etc, ou seja, não prejudicou. Em relação ao mercado financeiro, definitivamente a entrevista não foi mal aceita.

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Todo mundo achava que Lula ganharia no primeiro turno, mas a campanha vai começando e começamos a perceber que talvez a diferença não seja tão grande assim. De qualquer forma, não se tem nesse momento um franco favorito, como se tinha em 2018, que o Bolsonaro veio junto a Paulo Guedes, e o sentimento do mercado foi muito bom. Quando ele tomou a facada, a bolsa subiu muito, porque isso alterou os rumos da eleição.

Em 2002 também foi terrível. A eleição do Lula provocou uma disparada de dólar e uma fuga dos investimentos em bolsa, porque não se sabia o que ele iria fazer. Hoje não está assim, se o Lula não falar nenhuma baboseira na entrevista com o Jornal Nacional, o mercado também vai gostar.”

Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos

“Em alguns momentos ele deu material para os apoiadores dele colocarem nas redes, para repercutirem como se ele tivesse ido muito bem. Em outros, desagradou aqueles eleitores mais de centro, que esperavam um candidato mais moderado. No caso da economia, conseguiu falar mais para o centro, mas em relação a ataques ao TSE foi mais para seus apoiadores. Nem agregou nem prejudicou muito, vemos a entrevista como neutra”.

Pedro Paulo Silveira, diretor de gestão de investimentos da Nova Futura Investimentos

“Acredito que o mercado ficou satisfeito com a performance, já que não trouxe nenhuma novidade negativa e referendou aquilo que é bem vindo no programa do presidente. Os riscos de ruído foram contidos e houve uma percepção positiva.”

João Beck, economista e sócio da BRA

“Para o mercado, nenhum impacto foi precificado. Na inflação, o mercado espera uma política monetária mais responsável e sem desvios políticos, como o Banco Central oficialmente independente. No plano fiscal, é um avanço que dependerá mais do congresso do que do Executivo. Pela entrevista de ontem, pouco se conclui sobre o tema.

Em geral, o mercado pode esperar uma boa agenda econômica em linha do que ocorreu no primeiro governo, sem a pandemia como pano de fundo. Uma agenda microeconômica forte com desentraves no setor produtivo de logística e infraestrutura, abrindo concorrência junto com o capital privado; financiamento das empresas junto ao mercado ao invés do governo e, principalmente, se o congresso estiver alinhado, uma boa agenda de reformas.”/ COLABOROU ABEL SERAFIM, ESPECIAL PARA O E-INVESTIDOR.

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