O ano de 2020 trouxe bastante dor de cabeça aos investidores. Além da pandemia da covid-19, que derrubou as bolsas de valores ao redor do mundo, as crises domésticas contribuíram para aumentar ainda a mais volatilidade do Ibovespa. Entre os problemas internos, o que mais causa tensão no mercado é a questão política, pois é o que define os rumos da economia do País e a impede de crescer em momentos de desgaste entre os poderes.
A partir do dia 26 de setembro, inicia-se oficialmente as campanhas para as eleições municipais. Na data, começam as propagandas eleitorais, que se estendem até 15 de novembro, dia do primeiro turno. Caso seja necessário um segundo, o calendário se estende até o dia 29 do mesmo mês para a escolha da população entre dois candidatos.
Neste cenário, será que a disputa ao pleito na cidade de São Paulo pode trazer mais oscilação ao mercado, sendo mais um ponto de atenção dos investidores? Para responder a esta pergunta, é necessário primeiro averiguar qual foi o comportamento do Ibovespa nas duas últimas duas eleições.
Em 2012, Fernando Haddad (PT) foi eleito no segundo turno com 55,57% dos votos válidos na disputa contra José Serra (PSDB) no dia 29 de outubro. Na ocasião, o Ibovespa encerrou em alta de 3,20%, ante ao início das eleições, aos 57.177 pontos.
Já em 2016, em um cenário totalmente oposto do vivido em 2012, João Doria (PSDB) foi eleito, no dia 2 de outubro, no primeiro turno com 53,29% dos votos – primeiro candidato a vencer no 1º turno em SP desde 1992 -, com Haddad em 2º lugar com apenas 16,70%. Na data, o Ibovespa encerrou o calendário eleitoral com valorização de 1,03%, aos 59.461 pontos.
Vale lembrar que na eleição de Haddad, a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) estava com sua popularidade em alta. Já na de Doria, quem comandava o País era o ex-presidente Michel Temer (MDB), pois Rousseff havia sido impichada no dia 31 de agosto.
Apesar dos momentos distintos, especialistas do mercado consultados pelo E-Investidor, afirmam que o desempenho positivo do IBOV nas duas últimas ocasiões não teve nenhuma relação com o pleito.
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“Não há registro de causalidade das eleições municipais sobre o principal índice da B3”, diz André Galhardo, economista-chefe da Análise Econômica Consultoria.
Eleição municipal deve ficar em segundo plano
Embora o momento seja de instabilidade, os especialistas não acreditam que a disputa ao pleito cause novas dores de cabeça aos investidores.
“A escolha do novo prefeito não influi em nada nas políticas monetária e fiscal federal, que é o que importa para o crescimento do País e, consequentemente, para o mercado”, afirma José Francisco Cataldo, head de research da Ágora Investimentos.
Ou seja, sendo o vencedor alinhado ou de oposição ao governo federal, ele não tem força para alterar os rumos da bolsa brasileira.
“Não é que a escolha do prefeito não seja importante, mas tem tantos fatores macro que a política no âmbito municipal vai ficar em segundo plano”, salienta Galhardo.
Mercado não está livre de riscos
Ainda que as eleições municipais não tragam mais volatilidade a Bolsa, isso não significa que o Ibovespa está livre de riscos e não pode performar mal no período, apenas que a disputa não deverá ser o motivo para isso.
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“A reforma administrativa, privatizações, vacina contra a covid-19, a segunda onda da doença e crises políticas são direcionadores mais fortes e continuarão ditando o ritmo”, afirma Cataldo.
Assim, é importante o investidor continuar atento aos mesmos fatores que preocupam o mercado desde o começo do ano. “O Ibovespa tende a sentir bastante os desdobramentos desses casos”, diz Galhardo.
Além disso, em novembro tem ainda a eleição presidencial nos EUA, que eleva as incertezas no por lá e também repercute no Brasil. “As bolsas americanas devem sentir muito, pois ainda está muito incerto que vai ganhar”, comenta o head da Ágora.
Galhardo ressalta que a política de Donald Trump é distinta da de seu concorrente. E é justamente essa diferença de propostas em uma disputa indefinida que gera volatilidade aos mercados. “Joe Biden está na frente das pesquisas, mas isso não significa nada, pois a Hillary Clinton também estava em 2016”, lembra.