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De risco ao esperado, analistas divergem sobre preço da Eletrobras

Patamar é similar ao já negociado na bolsa, mas deve proteger a privatização da empresa no futuro

De risco ao esperado, analistas divergem sobre preço da Eletrobras
Precificação terminou em patamar semelhante ao que as ações da Eletrobras já negociam na bolsa. (Foto: Wilton Júnior/Estadão)
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  • A precificação da oferta de ações da companhia foi concluída na noite de quinta-feira (9), totalizando R$ 29,294 bilhões e o valor de R$ 42 por papel
  • Ao todo, a demanda pelo investimento feito a partir do saldo do Fundos de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) alcançou R$ 9 bilhões, superior ao limite imposto de R$ 6 bilhões imposto pelo governo
  • Mesmo com a alta procura por reserva das ações, os ativos acabaram em um patamar de preço similar ao que ELET3 e ELET6 já vinham sendo negociadas no Ibovespa. Por causa disso, a precificação não surpreendeu analistas

Os investidores brasileiros finalmente conheceram o preço por ação da Eletrobras (ELET3/ELET6), maior empresa de geração e transmissão de energia da América Latina, agora na fase de desestatização. A precificação da oferta de ações da companhia foi concluída na noite de quinta-feira (9), totalizando R$ 29,294 bilhões e o valor de R$ 42 por papel. O preço foi recebido de diferentes maneiras pelos analistas consultados pelo E-Investidor, que enxergam desde risco de uma futura estatização até um preço esperado por conta dos valores que a empresa já mostrava na bolsa.

Em fato relevante, a Eletrobras definiu as condições da oferta como “satisfatoriamente verificadas”, com a oferta pública de distribuição de inicialmente 627,675 milhões de ações ordinárias, incluindo os ADRs (certificados de ações de empresas negociados nos EUA), e secundária de 69,8 bilhões ações de titularidade do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Inicialmente, o prospecto da operação considerava o valor da ação em R$ 44, o que representaria uma arrecadação de cerca de R$ 35 bilhões.

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Ao todo, a demanda pelo investimento feito a partir do saldo do Fundos de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) alcançou R$ 9 bilhões, superior ao limite de R$ 6 bilhões imposto pelo governo. Mas, mesmo com a alta procura por reserva das ações, os ativos acabaram em um patamar de preço similar ao que ELET3 e ELET6 já vinham sendo negociadas no Ibovespa.

Na quinta-feira (9), enquanto investidores aguardavam a definição do preço da ação a ser negociada a partir da semana que vem, os papéis da Eletrobras arrancaram um movimento de alta, na contramão do dia negativo para grande parte do Ibovespa. A ELET3 encerrou o pregão com valorização de 2,14%, a R$ 43,04, enquanto ELET6 subiu 2,09% a R$ 42,50.

João Beck, economista e sócio da assessoria de investimentos BRA, afirma que, por se tratar de uma ação que já é negociada na bolsa, não havia muito espaço para surpresas na precificação. Ainda assim, faz uma avaliação positiva do patamar estabelecido. “O que foi revelador é o interesse de grandes e conceituados fundos na aquisição da empresa que tem posicionamento privilegiado no setor elétrico brasileiro. É uma privatização que fica como destaque pra história”, diz.

Apesar de não ser uma surpresa, visto que é similar ao preço que as ações da companhia negociam na bolsa, o valor de R$ 42 por papel é visto como um patamar de risco por alguns analistas. Principalmente dado a aproximação do período eleitoral e a possibilidade de uma troca no comando do País em 2023, explica João Abdouni, analista de investimentos da Inv.

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“Vejo os R$ 42 como um patamar de risco de estatização por parte de um possível governo de esquerda em 2023. Caso o preço fosse colocar a melhora que pode ser gerada na companhia por uma nova gestão, sairia possivelmente 50% acima desse valor por ação”, destaca.

A expectativa de melhora na eficiência da Eletrobras após a privatização é um dos grandes motivos por trás do otimismo do mercado com a operação; o que inclusive levou muitas pessoas a montar posições na companhia na perspectiva de ganhos futuros. “A empresa tem agora um caminho livre para propor as medidas de ganho e eficiência e traçar uma agenda de redução de custos”, afirma Leonardo Piovesan, analista fundamentalista da Quantzed, empresa de tecnologia e educação para investidores.

O analista destaca ainda duas “poison pills” – medidas de autorregulação do mercado contra movimentações que afetam o interesse das companhias – presentes na privatização que podem proteger a empresa no futuro. No processo de desestatização, ficaram estabelecidas algumas normas para qualquer acionista que venha a deter mais de 30% ou 50% dos ativos.

“Essas poison pills existem para barrar qualquer governo mais à esquerda de estatizar a empresa de novo, caso venham a assumir o poder. Isso torna muito caro a reestatização, então a companhia está bem blindada quanto a isso”, explica.

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O registro das ações ocorre nesta sexta-feira (10), sob a orientação dos coordenadores da oferta brasileira e instituições intermediárias. Segundo o cronograma da Eletrobras, o início das negociações das ações na B3 está previsto para a próxima segunda-feira (13).

Relembre a privatização

A oferta bilionária de ações da Eletrobras marca a retirada do governo do controle da companhia, que terá sua participação diluída de 72% para 35%. Esta é a maior privatização no Brasil desde a venda da empresa de telecomunicações Telebras em 1998, segundo levantamento feito pela Fundação Getulio Vargas (FGV) a pedido da Reuters.

A operação de desestatização da Eletrobras estava prometida pelo governo federal desde 2020. Foi aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo presidente da República em meados do ano passado. Desde então, aguardava a permissão do Tribunal de Contas da União (TCU) para avançar, o que só ocorreu no último dia 18 de maio.

Assim como aconteceu no processo de privatização da Vale e da Petrobras, o TCU autorizou que os brasileiros utilizassem até 50% do saldo do Fundos de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) para comprar as ações da Eletrobras. O valor mínimo para aplicação era de R$ 200, válido para qualquer trabalhador do País com carteira assinada e que tenha dinheiro em conta no FGTS.

A reserva das ações poderia ser feita por meio de Fundos Mútuos de Privatização ligados ao FGTS (FMP-FGTS) até a quarta-feira (8).

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Os investidores que aproveitaram para montar posições precisam manter as ações por um período mínimo de 12 meses. Depois disso, se quiserem vender os ativos, o dinheiro pode voltar para o saldo do FGTS.

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