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Energia elétrica mais cara impacta nas ações da Bolsa?

Impacto da alta da energia elétrica na bolsa de valores vai muito além das ações do setor elétrico

Energia elétrica mais cara impacta nas ações da Bolsa?
Reajustes na conta de luz têm uma influência direta em ações da bolsa de valores (Fonte: Shutterstock)
  • Nos últimos oito anos, o preço médio da energia elétrica paga pelo consumidor dobrou no Brasil. O aumento influência nos custos de produção da indústria, comércio e de serviços
  • O impacto também atinge as ações das empresas que estão ligadas ao setor elétricos, mas esse efeito vai depender do serviço prestado pela empresa
  • Em alguns casos, as empresas podem sofrer com a queda no faturamento a partir do momento que há uma redução do consumo de energia devido ao reajustes, enquanto outras podem ter aumento

(Aléxis Góis, especial para o E-Investidor) – O preço médio da energia elétrica paga pelo consumidor comum dobrou nos últimos oito anos. De acordo com dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a tarifa residencial média, que era de R$ 300,2 por Megawatt-hora (MWh) em 2013, passou para R$ 602,1/MWh em 2021.

O aumento médio das taxas de eletricidade ficou bem acima do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No período, a inflação oficial acumulou 60,16%, enquanto a eletricidade subiu 100,56%.

Essa escalada de preços tem uma influência geral na economia brasileira, pois a eletricidade compõe os custos de quase todas as atividades, especialmente na indústria, no comércio e serviços. Dessa forma, o impacto dos reajustes na energia vai muito mais além das ações da Bolsa de Valores ligadas ao setor elétrico.

Qual é o motivo do aumento da conta de luz?

Baixo nível dos reservatórios de hidrelétricas pode provocar aumento do preço da eletricidade (Shutterstock/By Drone Photos Videos/Reprodução)

As tarifas de energia elétrica são compostas de fatores como impostos, custo médio da energia das grandes usinas, tarifa de uso do sistema de distribuição (Tusd), retorno sobre capital, entre outros custos do sistema energético. Os valores são revisados periodicamente pela Aneel e são diferentes para cada distribuidora do País. Um dos principais fatores que contribuem para os reajustes é o aumento do consumo e/ou a redução da capacidade de produção. Com três quartos da sua energia produzida em usinas hidrelétricas, o Brasil depende do regime de chuvas para manter níveis aceitáveis nos reservatórios responsáveis pela geração de eletricidade.

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Sem água suficiente para girar as turbinas das usinas, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) pode acionar outras fontes geradoras, como termelétricas, que são mais caras. Dessa forma, as crises hídricas têm uma relação direta no preço da eletricidade.

A variação do custo da geração de energia, desde 2015, é representada pelas bandeiras tarifárias. Além disso, a demanda de energia elétrica no Brasil vem crescendo de forma mais acelerada do que a capacidade do País de aumentar a geração. Com isso, existe um problema estrutural na geração de eletricidade que, a longo prazo, pode deixar ainda mais caras as tarifas do setor — o que é uma péssima notícia para a economia em geral.

O risco de racionamento

No início do século XXI, o Brasil passou oito meses com um risco de apagão no sistema elétrico. A crise foi provocada por problemas estruturais e conjunturais e foi superada pela rápida tomada de decisão do governo brasileiro e a adesão da população às políticas de racionalização. Na época, o sistema energético dependia muito mais da geração hidroelétrica e o Brasil tinha um equilíbrio muito frágil entre a oferta e a demanda. Em 2000, aconteceu uma das piores secas da história e as chuvas de verão de 2001 não foram suficientes para repor os níveis do reservatório.

Para evitar o racionamento, o governo resolveu elevar de forma substancial as tarifas para as famílias que não conseguissem bater as metas de redução de consumo, enquanto os consumidores que atingissem o objetivo, teriam redução tarifária. A política de sobretaxa e bônus tiveram efeito e foi evitado o racionamento de energia. O período deixou marcas profundas na memória dos brasileiros e, nos momentos de redução da disponibilidade dos reservatórios, costuma-se evocar o risco de falta de energia.

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No entanto, atualmente a matriz elétrica é muito mais diversificada e a rede de transmissão está melhor integrada. Dessa forma, uma crise energética como a de 2001 provavelmente não deve se repetir, ainda que possa haver políticas de redução de consumo.

O impacto do reajuste tarifário nas ações do setor energético

Ações de companhias geradoras de energia alternativa podem ser valorizadas com alta da energia (Fonte: Shutterstock/zhengzaishuru/Reprodução)

As ações das empresas ligadas à eletricidade, mesmo fazendo parte de um mesmo setor, sofrem impactos diferentes com relação aos reajustes ou a aplicação de bandeiras tarifárias. Tudo depende dos motivos do aumento da energia, a exemplo de uma eventual crise hídrica, e também da estratégia para superar os obstáculos, como políticas de redução de consumo ou aumento de oferta.

Geração de Energia Hidrelétrica

O aumento do preço da eletricidade, tal como a aplicação de uma bandeira tarifária, em tese, poderia beneficiar as empresas de geração de energia hidrelétrica, pois elevaria a expectativa de ganho do setor. Entretanto, não é isso que costuma ocorrer. Um reajuste tarifário geralmente é acompanhado de uma redução do consumo geral. Dessa forma, as ações do setor de geração hidrelétrica, a exemplo da CESP (CESP6), Aes Brasil (AESB3), Engie (EGIE3) e Eletrobras (ELET3; ELET6), podem ser prejudicadas com a expectativa de queda no faturamento.

Nos casos das usinas térmicas, como Eneva (ENEV3), e geradoras de energia solar e eólica, a exemplo da Omega (OMGE3), os efeitos da aplicação do aumento da eletricidade, por meio de reajustes periódicos ou aplicação das bandeiras tarifárias, costuma ser positivo. Isso porque, nestes momentos, essas empresas são mais solicitadas.

Transmissão e distribuição de eletricidade

Os setores de transmissão, transporte de energia das usinas geradoras até as concessionárias, e distribuição, que fornece a eletricidade ao consumidor final, sofrem menos impactos, com uma eventual elevação de preços. Distribuidoras de energia, tais como Copel (CPLE6), Energia do Brasil (ENBR3) e CPFL (CPFE3) mantêm uma relação próxima com as geradoras e são mais impactadas. Enquanto isso, as empresas que dependem menos da geração, a exemplo da Equatorial (EQTL3), Energisa (ENGI11), Cemig (CMIG4) e Light (LIGT3) sofrem um impacto mais leve.

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As companhias de transmissão, como Taesa (TAEE4) e Isa Cteep (TRPL4), não são influenciadas pela variação de preços da eletricidade, pois as suas receitas não estão vinculadas ao volume de energia que passam por sua rede.

Quais outras ações da bolsa são influenciadas pela alta da energia?

Os reajustes da eletricidade têm um efeito além das ações do setor elétrico, porque costumam aumentar, também, o custo de produção das companhias. Os maiores consumidores de eletricidade do Brasil são os setores siderúrgico, de mineração e de saneamento.

Assim, o aumento da energia tem um impacto negativo direto em ações do setor siderúrgico, como Gerdau (GGBR3; GOAU4), CSN (CSNA3), Usiminas (USIM5) e Ferbasa (FESA4); de mineração, a exemplo de Vale (VALE3; VALE5) e Mmx (MXMM11; MXMM3); e saneamento, tais como Sanepar (SAPR3; SAPR4; SAPR11), Sabesp (SBSP3), Casan (CASN3; CASN4) e Copasa (CSMG3).

 

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