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- Mesmo que a principal matriz energética do Paíse seja renovável, por meio das hidrelétricas, há espaço para diversificar das fontes. Entre as mais promissoras, está a energia gerada pelos ventos
- Para Bruno Vilela, CEO da Aeris Energy, mesmo sendo um ano atípico para o mercado como um todo, a companhia foi uma das poucas com alavancagem em ano de pandemia
- "Offshore, hidrogênio verde e baterias vão ser o foco de qualquer conversa sobre riscos na matriz energética. Com certeza, vamos ver o aumento do apetite do governo e do mercado livre para parques eólicos", diz o CEO
O histórico de crises do setor elétrico no Brasil não é recente. Mesmo que a principal matriz energética do País seja renovável, por meio das hidrelétricas, há espaço para diversificar as fontes. Entre as mais promissoras, está a energia gerada pelos ventos. Com menos de um ano após o IPO, a Aeris Energy (AERI3) chama a atenção dos investidores pelo potencial de atuação e crescimento.
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Com foco na fabricação de pás eólicas, a empresa alcançou uma receita líquida de R$ 591,9 milhões no segundo trimestre. Em 2020, o acumulado foi de R$ 2,2 bilhões, resultado 164% maior do que o registrado em 2019. Para Bruno Vilela, CEO da Aeris Energy, mesmo sendo um ano atípico para o mercado como um todo, a companhia foi uma das poucas com alavancagem em um período de pandemia.
Vilela atribui os resultados positivos à maior demanda de energia renovável no Brasil, não apenas por influência da crise enfrentada pelas usinas hidrelétricas, mas como um crescimento natural de busca por diversificação de matrizes energéticas em todo o mundo, e que o País também está seguindo.
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Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), atualmente a energia eólica representa 10,7% da matriz elétrica brasileira e a expectativa é que chegue a 11,2% até o fim deste ano. Na Região Nordeste, a produção de energia eólica para carga e exportação é equivalente a 38% da produção total do País. Os números foram levados em consideração na escolha da instalação da Aeris no Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP), no Ceará. Além de ser estratégico para exportação, o local tem mão de obra especializada no setor.
O CEO conversou com o E-Investidor sobre os projetos da empresa e o caminho que o setor deve tomar para os próximos anos. Confira os principais trechos da entrevista:
E-Investidor – Vivemos em situação de crise hídrica, o que afeta diretamente o setor elétrico. Como o potencial da energia eólica, especialmente em um cenário como este, pode ser desenvolvido?
Bruno Vilela – No curto e médio prazo vemos o uso de turbinas com capacidade de 5MW a 6MW. Para o mercado onshore (instalado no continente), estamos com uma nova geração de turbinas que vai durar os próximos quatro ou cinco anos.
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O que vemos de novidade para o médio prazo é em relação ao mercado offshore, que está virando uma realidade. Sempre ouvimos falar, mas os custos mais altos e a falta de regulamentação sempre inviabilizaram.
No Brasil ainda temos a barreira regulatória, mas acredito que deve haver um desenvolvimento nesse sentido, o que vai ser promissor para o setor nacional. Junto com o desenvolvimento das instalações existem muitas discussões sobre atrelar o offshore com o hidrogênio verde.
Outro equipamento que já surgiu, mas que ainda não é competitivo em larga escala é o uso de baterias. Não conseguimos estocar o vento, mas vamos conseguir estocar a energia gerada pelo vento, e isso é um diferencial.
Por exemplo, venta à noite. Se for desejado despachar a energia nesse período, armazena-se a energia em uma bateria e, assim, a mesma poderá ser despachada para consumo.
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Offshore, hidrogênio verde e baterias vão ser o foco de qualquer conversa sobre riscos na matriz energética. Com certeza, vamos ver o aumento do apetite do governo e do mercado para parques eólicos.
E-Investidor – O que o IPO no fim de 2020 representou para a empresa? Quais foram os maiores desafios?
Vilela – Falamos internamente que não existe empresa em uma situação melhor que a nossa. Estamos ainda vivendo em uma pandemia, além de uma crise política e econômica, se colocarmos em uma visão macro, nosso tipo de negócio tende a crescer não só no Brasil, mas mundialmente.
As previsões de crescimento aumentam a cada dia. Então achamos agressivo hoje, mas sabemos que os governos ou até organizações corporativas podem apresentar novos investimentos em renováveis.
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Somos um setor crescente no mundo e no Brasil, não só por questões pontuais como o risco de apagão por conta da baixa reserva nas hidrelétricas e aumento de preço de energia, mas vem crescendo desde 2010.
Por outro lado, quando olhamos para a empresa, temos demanda contratada até 2024. Qual empresa, hoje, saindo de uma pandemia, já tem vendas garantidas até 2024? O que que nos faltava era ter a robustez financeira para crescermos na velocidade em que o mercado está demandando.
Estamos finalizando a construção da terceira fábrica. A nossa capacidade já está integralmente tomada para os próximos três anos. Estamos em uma situação em que outras empresas gostariam de estar, especialmente com o foco de crise energética no Brasil.
Não existe uma fonte mais barata e com mais rapidez de instalação do que a eólica. Por conta desse baixo custo e facilidade, estamos bem posicionados.
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E-Investidor – De que forma a pandemia impactou os resultados e interferiu nos negócios?
Vilela – O impacto da pandemia para a nossa empresa foi em aumento de custo. Por exemplo, testamos os nossos cinco mil funcionários com muita frequência. Chegamos a gastar mais de R$ 2 milhões em testes para evitar o contágio dentro da fábrica.
Além disso, utilizamos equipamento de proteção individual (EPI) na fábrica, muitos deles são os mesmos usados em hospital, o que elevou o preço.
Além dos gastos mais elevados do que foi orçado, impasses logísticos por conta do fechamento de portos ao redor do mundo também influenciaram. Entretanto, em relação à demanda, não fomos afetados.
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E-Investidor – Empresas do segmento de energia elétrica são companhias consolidadas na Bolsa, especialmente quando se fala em distribuição de dividendos. Em relação a AERI3, o que os investidores podem esperar no médio e longo prazo?
Vilela – Nossa política é de fazer distribuição de dividendos, é uma intenção. Estamos em uma intercessão entre o setor de energia e de máquinas, é comum ver analistas divididos. Entretanto, não nos comparamos com outras empresas em relação à concorrência, preferimos olhar internamente e observar que o nosso crescimento é grande, com margens boas.
Alguns analistas nos comparam com a Weg (WEGE3) e Omêga (OMGE3), mas temos o foco em nós mesmos. Temos um crescimento já previsto e estamos em busca de novas oportunidades, que são muitas no Brasil e no exterior. Já temos a maturidade para alcançar as possibilidades em outros países também.
E-Investidor – Em relação ao setor de empresas com foco em energia eólica, como a terceirização dos processos de produção contribui para a evolução do segmento?
Vilela – Quando a produção é terceirizada, como exemplo da Aeris, que produz para diversos clientes, existem vários ganhos. O primeiro é a garantia da eficiência. Sendo especialistas, conseguimos produzir uma pá com qualidade superior.
O outro benefício é relacionado aos custos, o que é muito relevante. A fabricação de pá e de turbina eólica é resultado de muito capital intensivo, o que exigiria muito gastos dos nossos clientes, caso eles assumissem todos os processos. Ou seja, comprando de fabricantes específicos, nossos consumidores conseguem alocar o recurso financeiro deles para desenvolver novas tecnologias. Por conta disso, utilizam esses fornecedores especialistas para produzir os componentes.
Como resultado, há ganho tanto em agilidade, como em eficiência e em custo. Como o nosso cliente passa a ter mais disponibilidade de tempo e de capital, é possível investir em tecnologia e inovação. Dessa forma, a produção torna-se mais eficiente e impulsiona o setor.
E-Investidor – A localização da Aeris no Brasil é estratégica tanto para a instalação dos parques eólicos, como para exportação. Mesmo assim vocês expandiram para um braço da empresa nos Estados Unidos. Como foi esse processo e o que motivou essa aposta no mercado norte-americano?
Vilela – A empresa foi fundada em 2010, no Ceará. Na época, analisamos outras regiões do País, porém, a região Nordeste como um todo tem condições para melhores benefícios para as empresas se instalarem. Por conta disso, a proximidade do potencial eólico brasileiro foi uma das motivações.
Além disso, constatamos que o estado já tinha mão de obra especializada para trabalhar com material composto. A produção de pás é muito labor intensive, ou seja, requer muita mão de obra. Muitas vezes não é fácil encontrar trabalhadores já com conhecimento do segmento.
Estamos localizados em uma área não só de industrialização, como de exportação, o Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP). Dessa forma, conseguimos exportar as pás para o mundo todo e receber matéria-prima, especialmente dos Estados Unidos e da Europa.
O início das atividades nos Estados Unidos, por meio da Aeris Service, aconteceu porque o país é o maior produtor de energia do mundo, excluindo a China. Passamos a exportar bastante para os EUA, mas um dos riscos do setor eólico é parar uma turbina. Pensando em garantir conforto para os clientes e observando os nossos números, decidimos que seria justificável a montagem de uma empresa lá.
Porém, como as nossas pás não estão com necessidade de reparos, passamos a vender serviços. Hoje, temos a Aeris Service como geradora de lucros.
E-Investidor – A empresa surgiu a partir do know-how de funcionários da Embraer, o que mostra a possibilidade de atuação na fabricação de materiais compostos no geral. Além da fabricação de pás eólicas, existem outras áreas que a Aeris visa atuar?
Vilela – Muita gente do mercado especula se os nossos próximos investimentos serão voltados para energia ou para a indústria. Nos vemos mais como indústria, já que nossa expertise é em material composto.
Quando falamos da eletrificação do mundo, estamos falando que cada vez mais serão utilizados partes e peças fabricados por materiais compostos. Isso porque é uma base até melhor que o aço, além de ser muito mais leve. Na montagem de carros, ônibus e caminhões elétricos, é importante diminuir o peso dos veículos para colocar uma bateria mais pesada.
Além disso, estamos olhando oportunidades no setor de transporte para fabricação de peças e componentes de material composto.