Nuvens sobre a sede do Federal Reserve, banco central dos EUA, em Washington 26/05/2017 REUTERS/Kevin Lamarque
Se a quarta-feira (2) foi feriado nacional no Brasil, nos Estados Unidos o mercado operou a todo vapor. O dia foi marcado pela reunião do banco central americano, o Federal Reserve (Fed), que vem travando desde março uma batalha contra a maior inflação do país em 40 anos. A instituição de política monetária seguiu o consenso esperado e elevou a taxa de juros americana em 75 pontos-base – o quarto reajuste seguido de tal magnitude e o sexto aumento no ano.
Agora a Fed Funds, a Selic norte-americana, está na faixa de 3,75% a 4,00%.
Embora a decisão do Fed tenha vindo em linha com as expectativas, o futuro do aperto monetário nos EUA ainda é incerto. Por lá, a pressão inflacionária ainda não deu trégua, o que mantém a instituição vigilante para a necessidade de novos aumentos. Jerome Powell, presidente do Fed, disse que tem o compromisso de recolocar a inflação de volta à meta de 2% ao ano. “Há uma incerteza significativa em torno do nível de taxas de juros. Dados sugerem que podemos mudar para níveis mais altos do que pensamos na reunião de setembro”, afirmou.
Ao comentar a decisão de juros, ele disse que a inflação ainda está bem acima da meta, de 2% ao ano, e o mercado de trabalho continua bastante apertado. Powell voltou a afirmar que em algum momento será necessário desacelerar o aumento das taxas.
O impacto no Brasil
A alta de juros nos EUA vem penalizando os mercados globais há alguns meses. No mês de outubro, ventos mais favoráveis ajudaram as bolsas americanas a darem um respiro, mas a possibilidade de recessão na maior economia do mundo ainda preocupa. Um cenário que também prejudicaria o Brasil.
Guilherme Loures, economista e head de renda variável da WIT Invest, explica que a alta de juros nos EUA tem duas consequências imediatas: fortalecimento do dólar e queda na atividade econômica. “O Brasil é diretamente impactado pelas duas, dólar mais alto tem impacto direto na inflação e queda na atividade econômica dos Estados Unidos afeta negativamente o desempenho de todas as economias do mundo”, diz.
Nesses cenários, é natural que aconteça uma migração para ativos mais seguros, como os títulos públicos americanos. Esse movimento acaba retirando capital dos mercados emergentes como a bolsa brasileira, como vimos no final do primeiro semestre do ano.
Em momentos de incerteza e volatilidade, os estrangeiros costumam preferir ambientes geopolíticos e econômicos mais estáveis, ressalta Carlos Vaz, CEO e fundador da CONTI Capital. “Para o investidor brasileiro, que acaba de sair de uma eleição presidencial, esse aumento de juros americano, somados a outros fatores internos, pode significar um efeito colateral no curto prazo que é a fuga de capital”, diz.
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Ainda assim, desta vez, é provável que a decisão do Fed não cause tanto estardalhaço na bolsa brasileira a partir desta quinta-feira (3). O Banco Central brasileiro foi um dos primeiros a iniciar a trajetória de juros e agora permite que o mercado comece a precificar cortes na Selic já para 2023. Uma possibilidade que tem atraído os gringos de volta para a B3 em 2022.
Essa semana conta ainda com a volatilidade política, enquanto o País inicia a transição entre o governo atual, de Jair Bolsonaro (PL), e o recém-eleito de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “Neste momento, a transição política é um fator muito mais importante. Embora o Ibov não seja uma ilha, a decisão do FED tem um impacto menor, assim como na cotação do dólar”, ressalta Andrey Nousi, CFA e fundador da Nousi Finance.