Para a área técnica da autarquia, responsável pelo inquérito administrativo, há “elementos robustos, contundentes e convergentes” que são capazes de sustentar acusações a Miguel Gutierrez, ex-CEO da companhia; Marcio Meirelles, José Timotheo de Barros e Anna Christina Saicali, ex-diretores estatutários; Fabio da Silva Abrate, Marcelo da Silva Nunes e João Guerra Duarte Neto, diretores executivos não estatutários na época; e Fellipe Arantes Lourenço Bernardazzi, superintendente de contabilidade.
“No âmbito do referido Inquérito, foram enviados ofícios a corretoras de valores mobiliários solicitando documentos cadastrais de investidores, evidências de transmissões de ordens de compra e venda de ativos de emissão da Americanas S.A. e notas de corretagem. Também foram analisados negócios e realizadas oitivas de investidores. Além disso, houve troca de informações e documentos junto ao autorregulador da bolsa de valores (BSM)”, afirma a CVM, em nota.
Contudo, existem outras 12 investigações abertas para apurar os responsáveis pela fraude financeira que resultou em um rombo de R$ 40 bilhões na companhia, e os desdobramentos do caso.
Negociações suspeitas por investidores
Na última sexta (18), a CVM instaurou o inquérito administrativo número 19957.017900/2024-09 para investigar irregularidades nas negociações feitas com papéis da Americanas na época em que a fraude foi descoberta. Entretanto, o foco são investidores pessoas físicas e jurídicas sem vínculo com a varejista.
Investigação sobre a fraude de R$ 40 bilhões
Está na fase final de diligências o inquérito número 19957.000952/2023-57, que apura as fraudes sobre os resultados financeiros da Americanas. Na investigação, foram ouvidos ex-executivos e funcionários, como Sergio Rial, André Covre, José Timotheo Barros, Anna Saicali, Marcio Cruz, Miguel Gutierrez, Carlos Alberto Sicupira e Eduardo Saggioro.
“Adicionalmente, com o objetivo de compreender detalhes relacionados, inclusive, à operação de Risco Sacado e de Verba de Propaganda Cooperada (VPC), bem como as respectivas contabilizações realizadas pela companhia, a SPS promoveu inspeção na sede da Americanas S.A. no Rio de Janeiro. Na oportunidade, também foram solicitados documentos e verificados registros diretos nos sistemas da companhia”, diz a autarquia, em nota.
Divulgação de informação relevante por Sérgio Rial
No processo administrativo sancionador 19957.003980/2023-26, a CVM acusa Sérgio Rial, ex-presidente da Americanas, de divulgar informações relevantes sobre as “inconsistências contábeis” da companhia em teleconferência feita um dia após a descoberta da fraude, em 12 de janeiro de 2023, antes de divulgá-las ao mercado por meio de fato relevante. Ele também é acusado de divulgar, na teleconferência, números referentes à dívida financeira da Americanas e à exposição da empresa à possibilidade de cobrança antecipada da dívida com credores, só que de maneira incompleta e inconsistente.
Vale lembrar que Rial assumiu o cargo que antes pertencia a Miguel Gutierrez, agora acusado de insider trading e investigado por participação na fraude, mas permaneceu apenas nove dias na cadeira. João Guerra, então diretor financeiro, também é acusado de não divulgar tempestivamente fato relevante contendo informações proferidas por Rial na teleconferência.
Atuação de intermediários em oferta pública da Americanas
O processo administrativo CVM 19957.000530/2023-81 foi aberto para investigar a atuação dos coordenadores líderes em ofertas públicas de ações da Americanas. O PA está em analise pela Superintendência de Registro de Valores Mobiliários (SRE).
Investigação contra auditores PwC e KPMG
A CVM também tem investigações em curso para apurar eventuais irregularidades na atuação de auditores da Americanas. Nos processos 19957.001194/2023-94 e 19957.001600/2023-19, a autarquia analisa a conduta da PricewaterhouseCoopers Auditores Independentes (PwC) enquanto auditor da varejista entre 2019 e 2021.
Já o processo administrativo de número 19957.001192/2023-03, aberto pela Superintendência de Normas Contábeis e Auditoria (SNC), é focado na atuação da KPMG Auditores Independentes – empresa de auditoria da Americanas nos exercícios de 2017 e 2018. As três demandas estão em análise junto à SNC.
Dever de administradores fiscalizarem gestores
A conduta de ex-conselheiros de administração também está em pauta no processo administrativo CVM 19957.014394/2023-15, em análise pela SEP. Isto porque esses executivos teriam o dever de fiscalização à gestão dos diretores.
Relatório de auditor com abstenção de opinião
O processo administrativo CVM 19957.014751/2023-37, em análise pela SEP, originou-se em razão de as demonstrações financeiras referentes ao exercício encerrado em dezembro de 2021 e 2022 terem sido acompanhadas de relatório de auditor independente com abstenção de opinião. Há outra investigação no processo 19957.004746/2024-05, também em análise junto à SEP, originada por reclamação de acionista – o investidor alegava justamente irregularidades nas demonstrações financeiras de 2022, com base na abstenção de opinião pela auditoria.
Aumento de capital deliberado em maio deste ano
O processo administrativo CVM 19957.003005/2024-07 foi aberto pela SEP, e está em análise junto a mesma, para verificar um aumento de capital deliberado em Assembleia Geral Extraordinária (AGE), feita em 21 de maio de 2024. Outro processo, 19957.007997/2024-33, foi aberto para apurar reclamação de investidor acerca sobre este aumento de capital.
Adiamento de AGE
Por último, o processo administrativo CVM 19957.016228/2024-26, em análise na SEP, foi instaurado a partir de reclamação de investidor sobre o pedido de adiamento da AGE da Americanas, convocada para 5 de setembro deste ano.
“Cada um dos eventuais responsáveis será devidamente responsabilizado com a aplicação e o rigor da lei e na extensão que lhe for aplicável. No âmbito de sua esfera de competência, a CVM não tolerará ilícitos que atentem contra a higidez e o adequado funcionamento do mercado de capitais”, afirma a autarquia, sobre o caso de fraude na Americanas.