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O fundo brasileiro que ganhou dinheiro com a vitória de Milei na Argentina

O Zaftra, da Gauss Capital, é a primeira aplicação voltada a eleições do mundo

O fundo brasileiro que ganhou dinheiro com a vitória de Milei na Argentina
Javier Milei, o novo presidente da Argentina (Foto: Reuters/Matias Baglietto)
  • Posicionado em dólar contra o peso argentino e em títulos de dívida do país, o fundo multimercado Zaftra conseguiu ganhar dinheiro em cima da volatilidade provocada pela vitória de Milei
  • A aplicação, gerida pela Gauss Capital, é considerada a primeira do mundo a focar a estratégia em eventos eleitorais
  • Desde o início do produto, em abril de 2023, o retorno acumulado é de 13,16%, o equivalente a 115% do CDI

O libertário Javier Milei venceu em novembro do ano passado a corrida eleitoral disputada com o peronista Sérgio Massa e se tornou presidente da Argentina. Os efeitos do resultado no mercado do país vizinho foram substanciais: desde a vitória do ultraliberal, o dólar disparou 141% em relação ao peso argentino, segundo dados levantados por Einar Rivero, da Elos Ayta.

Posicionado em dólar contra o peso argentino e em títulos de dívida do país, o fundo multimercado Zaftra conseguiu ganhar dinheiro em cima da volatilidade provocada pela vitória de Milei, com um impacto positivo na performance de 7%. A aplicação, gerida pela Gauss Capital, é considerada a primeira do mundo a focar a estratégia em eventos eleitorais.

“Esperávamos que uma vitória de Milei teria um impacto positivo na economia do país, já que ele teria mais chances de promover as reformas necessárias e deixaria o peso argentino se desvalorizar de forma abrupta, uma vez que antes da eleição, estava estagnado em torno de 350 dólares, com o Banco Central vendendo reservas para conter sua desvalorização”, afirma Felipe Sze, gestor da Gauss, em entrevista ao E-Investidor. O líder argentino foi eleito com promessas polêmicas, como dolarizar a economia do país e fechar o Banco Central.

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Já o adversário Massa era visto como centro-esquerda, uma via que representava a continuidade do antigo governo. “No primeiro turno, o porcentual de votos em Massa chegou a surpreender, e todos os ativos de risco acabaram caindo por conta disso”, diz o gestor. “Mas diferentemente da maioria, nós já víamos uma probabilidade maior de Milei sair com a vitória.”

Desde o início do produto, em abril de 2023, o retorno acumulado é de 13,16%, o equivalente a 115% do CDI. Contando com as primárias, primeiro e segundo turnos das eleições na Argentina, a aplicação já se posicionou em sete eventos eleitorais, em países como Turquia, Polônia e Taiwan. Agora, acompanha o avanço das discussões eleitorais na Índia, África do Sul, Parlamento Europeu, Bélgica, México, Uruguai e Estados Unidos, onde Donald Trump e Joe Biden devem se encarar nas urnas. No ano que vem, é a vez das definições na Venezuela, Reino Unido e Austrália.

O fundo é destinado a investidores profissionais (com potencial de gerenciamento de riscos) e possui taxa máxima de administração de 1,5% ao ano.

Eleição lucrativa para o fundo

Para ser interessante ao Zaftra, o evento eleitoral precisa cumprir alguns critérios. Um deles é de que a corrida eleitoral mexa com os preços dos ativos no mercado. Geralmente, isso acontece quando há uma grande dose de polarização na corrida eleitoral, de forma que a vitória de um ou de outro candidato represente a adoção de políticas públicas e econômicas completamente diferentes – e por vezes, diametralmente opostas.

Outro critério é de que a equipe de gestão consiga fazer uma análise proprietária das possibilidades para o resultado da eleição. Por vezes, os gestores até mesmo viajam ao país para entenderem melhor o quadro eleitoral. “A combinação de uma eleição relevante para os preços dos ativos com a nossa capacidade de fazer uma análise proprietária é o que vai validar a decisão de nos posicionarmos ou não”, afirma Sze.

Para se posicionarem em uma eleição, os trabalhos de pesquisa e definição de estratégia se iniciam cerca de um mês antes da votação, quando ocorre uma reunião com o time de gestão da Gauss para apresentação dos dados econômicos daquele país. Depois, acontece uma segunda reunião com o economista e pesquisador político Maurício Moura, ex-CEO do Instituto Ideia de inteligência de dados e um dos idealizadores do Zaftra.

“O Maurício vai fazer um background político do país para a equipe de gestão. E a partir daí, gestores e traders da Gauss começam a avaliar os tipos de ativos possíveis de realizar operações”, detalha Sze. “Conversamos também com muitos bancos e casas de sell-side e buy-side. E a partir daí, estipulamos uma matriz de probabilidades e cenários precificados pelo mercado. Tentamos chegar nessa matriz cerca de 1 semana antes da eleição.”

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Se detectadas boas oportunidades dentro dos possíveis cenários eleitorais, as posições são montadas entre 24 a 48 horas antes do evento eleitoral. “Depois de passar o evento, a gente tem a discricionariedade para definir quando zerar esses trades, mas geralmente a isso é feito até duas semanas depois do evento. Vale lembrar que após o evento, não fazemos nenhum trade novo”, diz Sze.

Lula ou Bolsonaro?

O Zaftra teve seu início cinco meses após à vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre Jair Bolsonaro (sem partido), em outubro de 2023. Contudo, as estratégias do fundo já estavam sendo rodadas em ambiente de testes. “Enxergávamos que independentemente se desse Lula ou Bolsonaro, o prêmio de risco dos ativos no Brasil seria reduzido. Isto porque as incertezas reduziriam também”, destaca Sze. “Tudo estava sendo precificado como extremamente negativo, isso tanto na bolsa, quanto em juros e moedas.”

Nos testes, a gestão do Zaftra entrou com apostas otimistas em real, contra uma cesta de moedas emergentes, e em juros no Brasil. “E mesmo que o Lula tenha saído vitorioso, alguns meses depois, esse prêmio de risco realmente reduziu e o mercado andou favorecendo os ativos brasileiros”, afirma o gestor. Entre a vitória de Lula, em 30 de de outubro de 2022, até o fim de 2023, o Ibovespa subiu 18%.

Para Sze, o erro dos investidores que tentam realizar trades em eleições é não se preparar para diferentes cenários e “apostar” em um resultado muito óbvio e em ativos que já incorporaram aquela possibilidade nos preços. “É muito difícil se posicionar para eleições, tem que estar acompanhando de perto o preço dos ativos”, diz Sze. “Na Gauss, a gente tem uma organização, um processo para realizar esse tipo de investimento.”

De olho na Índia

As eleições gerais na Índia são o próximo “alvo” do fundo Zaftra. Polarizada, a gigantesca população indiana com seus mais de 900 milhões de eleitores deve ir às urnas em 19 de abril. O evento eleitoral tem sete fases, com encerramento no dia 1º de junho.

“Enxergamos recentemente uma mudança na dinâmica das eleições, que está provocando esse maior impacto nos mercados financeiros”, afirma Sze. “As eleições estão sendo decididas por margens percentuais muito baixas. Cerca de 90% das eleições do mundo estão sendo decididas por até 4% de diferença. Depois, tem o ponto da polarização, que é um fenômeno global. E o terceiro ponto é que quem realmente decide a eleição vai tomar essa decisão ali muito próxima do dia da votação, o que deixa muitas incertezas no mercado.”

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