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Fusões e aquisições devem continuar em 2021 apesar da crise

Mercado de M&A movimentou US$ 2,8 trilhões no mundo no ano passado

Fusões e aquisições devem continuar em 2021 apesar da crise
(Foto: Pixabay)
  • O temor global gerado pela pandemia no primeiro trimestre de 2020 provocou uma interrupção das atividades, que se recuperaram no segundo semestre do ano passado
  • “Esse movimento vai continuar porque cada vez mais as companhias estão buscando por novas capacidades, sejam digitais, de novas plataformas, ou simplesmente de novos negócios”, analisa Kai Grass, sócio da Bain & Company
  • Ganho de escala, expansão da base de clientes e avanço tecnológico são alguns dos horizontes traçados pelas companhias que buscam comprar ou se fundir a outras

As operações de fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês) atingiram um patamar importante em 2020, com 28, 5 mil transações que geraram um volume de US$ 2,8 trilhões. Em um ano marcado pela pandemia, a publicação anual M&A Report, realizado pela Bain & Company, mostra que o número ficou próximo do patamar de 2017 (US$ 2,9 trilhões), porém abaixo do que se viu em 2019 (US$ 3,3 trilhões) e em 2018 (US$ 3,4 trilhões).

O temor global gerado pela pandemia no primeiro trimestre de 2020 provocou uma interrupção das atividades, que se recuperaram no segundo semestre do ano passado. Com diversos países em estágio avançado de vacinação, as expectativas atuais são positivas para novos negócios, inclusive no Brasil, onde a crise sanitária recrudesceu recentemente.

“Esse movimento vai continuar porque cada vez mais as companhias estão buscando por novas capacidades, sejam digitais, de novas plataformas ou simplesmente de novos negócios”, analisa Kai Grass, sócio da Bain & Company.

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Quem acompanha de perto essas operações está otimista porque o M&A permanece como uma forte estratégia de crescimento para as companhias. O otimismo se deve ao fato de que, no cenário internacional, com a redução da intensidade da crise, as empresas estão voltando a direcionar para novos projetos recursos e esforços até então focados na manutenção do negócio.

“No primeiro trimestre, quando a pandemia ecoou, os investidores focaram em como fazer para que as suas empresas atravessassem melhor esse cenário. Isso naturalmente reduziu o ritmo de novos investimentos”, explica João Vitor Carminatti, co-fundador e CEO da Stark, startup conhecida como “Tinder” de M&A por fazer um match entre empresários e investidores.

“Com a pandemia um pouco mais precificada e os reflexos dela já mapeados – uma vez que os fundos garantiram que as empresas estavam indo no caminho certo -, os investidores já começaram a considerar novos investimentos”, acrescenta Carminatti.

No caso do Brasil, onde a situação é mais delicada, a leitura é de que mesmo com a possibilidade de um impacto negativo no curtíssimo prazo, as operações irão permanecer. Ainda há muito capital disponível, fruto dos recentes processos de IPO e follow-on. É o caso da Rede D’or, que entrou na bolsa em dezembro de 2020, movimentando R$ 11,39 bilhões, dos quais boa parte será destinada para aquisições, conforme o prospecto da oferta.

Para que a dinâmica de M&A se mantenha igual ou superior à escala do ano passado, Luis Felipe Costa, sócio e diretor de renda variável da Genial Investimentos, considera que o ambiente interno de capitais precisa melhorar. “Estas operações enfrentam hoje os impactos da saída do investidor estrangeiro do mercado acionário brasileiro, a maturação do negócio de cada empresa e o perfil de investidores, além do processo de normalização dos juros.”

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Grass, entretanto, avalia que a atual situação do País, com o real desvalorizado, pode atrair investidores com apetite a risco e objetivos de longo prazo, já que, neste caso, eles ficam com menos aversão ao cenário político-econômico de curto prazo. Esse movimento foi percebido no final de 2020, com entrada recorde de capital estrangeiro em busca de ativos de maior risco em países emergentes, como o Brasil.

“No médio prazo, se virmos uma seca [de ofertas] no mercado, isso vai reduzir as aquisições de maior escala, mas ainda terá as de menor tamanho”, diz o sócio da Bain.

O que investidores precisam considerar

Ganho de escala, expansão da base de clientes e avanço tecnológico são alguns dos horizontes traçados pelas companhias que buscam comprar ou se fundir a outras. No final das contas, a união das empresas deve reduzir custos ou aumentar as receitas.

Bruno Komura, estrategista de renda variável da Ouro Preto Investimentos, explica que o M&A permite às empresas a entrada em um novo mercado de atuação, bem como em outras regiões geográficas. “É o que está acontecendo agora com o Carrefour e o grupo Big. Enquanto o Carrefour tem forte atuação no Sudeste, o grupo Big tem uma forte presença no Sul e no Nordeste”, explica.

No último dia 24, o Carrefour informou ao mercado que chegou a um acordo para a compra do grupo Big, ex-Walmart Brasil, por R$ 7,5 bilhões. A informação levou as ações da companhia a registrarem a maior alta do Ibovespa naquele dia, com valorização de 12,87% e cotação de R$ 21,75.

Grandes movimentações de mercado também tendem a influenciar essas operações. A forte capitalização do IPO da Rede D’or, com fins de expansão da companhia, fez com que a Hapvida e a Intermédica buscassem uma fusão, observa o estrategista da Ouro Preto. “No passado, elas já tiveram conversas, mas acabou não dando certo. Com o IPO da Rede D’or, essa conversa voltou à tona e agora deu certo, precisa ainda da aprovação do Cade e da ANS”, lembra Komura.

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No mercado de capitais brasileiro, a Locaweb é um exemplo no movimento de M&A. Desde o IPO, que movimentou cerca de R$ 1,2 bilhão em fevereiro de 2020, a empresa de hospedagem de sites já realizou nove aquisições, segundo Rafael Chamas, CFO da Locaweb. “Nunca fazemos aquisição pensando em empilhar receita. Fazemos pensando em melhorar a nossa oferta, para que a jornada do nosso cliente seja mais bem sucedida”, afirma Chamas.

Em fevereiro de 2021, a Locaweb captou R$ 2,7 bilhões com uma oferta secundária, dinheiro que deverá ser utilizado para o pagamento de aquisições já realizadas e potenciais novos negócios.

Ainda que essas operações costumem animar investidores, não há garantias de que o negócio trará bons frutos. Em 9 de março, a Totvs anunciou a compra de 92% do capital da RD Station, uma empresa de automação de marketing digital, por R$ 1,86 bilhão. No dia seguinte, os papéis da companhia de software tiveram a terceira maior desvalorização do Ibovespa, de 4,74%. A ação liderou as perdas no dia 11, com queda de 1,99%. “O mercado interpretou que a Totvs pagou muito caro”, lembra Komura.

Quais setores devem avançar em 2021

Na opinião dos especialistas de M&A ouvidos pelo E-Investidor, alguns setores devem ter maior potencial de bons negócios neste ano. Para o CEO da Stark, por exemplo, as operações no Brasil devem se concentrar com destaque em setores como saúde, educação, tecnologia, logística e telecomunicações.

“Com certeza a aceleração no setor de saúde vai continuar acontecendo. No setor de educação, a gente espera um movimento de consolidação ainda maior no ensino básico. E o setor de telecom tem uma corrida de aquisições em provedores de internet, bastante relevante”, analisa Carminatti.

Para ele, o baixo patamar de taxa de juros força as empresas a acelerarem o crescimento, uma vez que a alternativa de deixar dinheiro parado é muito cara.

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O sócio da Bain também está confiante para um ano positivo no setor de saúde. “Não só pela consolidação, mas principalmente pela aquisição de novas capacidades. É um setor que cresceu muito em termos de avanços tecnológicos no último ano, muito por conta da pandemia, e acreditamos que vão haver mais aquisições nesse ramo”, diz Grass.

Já o setor de varejo, um dos mais impactados pela pandemia no ano passado, deverá ter um ritmo menor. “Várias empresas se saíram bem, e elas vão continuar, mas o setor como um todo, em comparação com outros, foi mais afetado”, avalia Gras.

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