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Quantas crises (ao mesmo tempo) o Ibovespa aguenta?

Instabilidade política trouxe novas incertezas à Bolsa

Quantas crises (ao mesmo tempo) o Ibovespa aguenta?
Quando acontece um circuit breaker, bolsa alerta para momentos de grande estresse no mercado. (Rahel Patrasso/Reuters)
  • No momento em que parecia haver um uma estabilização do mercado com o coronavírus, instabilidade política trouxe novas incertezas
  • O aumento de casos de Covid-19 já tinha sido digerido
  • Agora, investidor terá de interpretar os passos do ministro da Economia, Paulo Guedes, que pode ser o próximo a deixar o governo Jair Bolsonaro

(Márcio Kroehn e Thiago Lasco/E-Investidor) O pregão de sexta-feira 24 na Bolsa de Valores tinha todos os elementos para ser desastroso, após a confirmação da saída de Sergio Moro do ministério da Justiça. O Ibovespa, principal índice da B3, caminhava para acionar o circuit breaker, o mecanismo que interrompe as negociações quando a queda passa de 10%, mas por menos de 0,5 ponto percentual o mercado se arrastou ao longo da tarde. A expectativa era o pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro e, principalmente, o futuro do ministro da Economia, Paulo Guedes. No fim do dia, o recuo de 5,6%, para 75.208 pontos, pareceu pequeno diante dos novos elementos que os investidores terão de lidar a partir desta segunda-feira 27. Além de olhar o gráfico dos casos confirmados de coronavírus e de mortes causadas pelo Covid-19, será preciso interpretar os rumos desta nova crise política que se instalou em Brasília.

“Estamos numa pandemia e numa crise política bastante ruidosa. A economia já teria dificuldade por si só. Agora, com a instabilidade política associada, vai gerar mais e mais incerteza, trazendo volatilidade aos mercados”, diz Alexandre Aoude, sócio-fundador da gestora Vectis Partners. “A minha visão é negativa porque um presidente tresloucado no meio de uma pandemia e de uma crise econômica sem precedentes corre o risco de perder mais ministros de alta qualidade.”

A principal preocupação é com a saída de Guedes. Assim como Moro, o titular da pasta da Economia tem convicções caras para o mercado financeiro. Se o superministro Moro trazia os selos de combate à corrupção e de transparência na atuação do Estado ao governo Bolsonaro, o superministro Guedes é o guardião do ajuste macroeconômico, com a realização das reformas que ajudarão o País a corrigir seus graves problemas estruturais e engatar crescimento e desenvolvimento.

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Mas, desde a divulgação do plano emergencial Pró-Brasil, feita pela equipe da Casa Civil chefiada pelo general Walter Braga Netto sem nenhum integrante da equipe de Guedes, os rumores sobre a saída dele aumentaram. Apesar da falta de clareza das medidas para a recuperação da economia brasileira, ficou claro que o governo quer privilegiar o gasto público e abandonar a seriedade fiscal, algo que contraria o pensamento e, principalmente, as ações tomadas pelo ministro da Economia.

“Com a saída de Sergio Moro, o dólar para o consumidor final bateu em R$ 7. Isso não teve nada a ver com Guedes, que continua no ministério”, afirma Guto Ferreira, sócio da casa de análise Solomon’s Brain. “O que está sendo precificado hoje pelo mercado é a política, não é a economia.”

O gráfico que importava

Antes de essa bomba-relógio política ter sido ativada em Brasília, a principal preocupação era com o aumento da curva dos casos confirmados de coronavírus no País. Só a diminuição dela vai determinar o fim da quarentena e a volta, mesmo que gradual, às atividades. Antes disso, as incertezas são tantas que as projeções acabam sendo revistas à medida que se estende o isolamento.

“Se a pandemia for controlada, com o achatamento da curva, a quarentena não vai durar tanto e já teremos uma situação de normalidade parcial em junho”, diz Luiz Fernando Missagia, gestor de renda variável da ACE Capital. “A Bolsa já teve uma melhora após o Covid-19, indo de 60 mil pontos para 80 mil pontos, porque o número de casos parou de crescer em países de primeiro mundo.”

Como os investidores buscam antecipar os acontecimentos, o gráfico do Ibovespa apresentou uma queda bastante acentuada em março. Os casos de Covid-19 começavam a aumentar no Brasil, mas o que estava acontecendo na Europa, principalmente na Itália, e nos Estados Unidos fizeram o indicador mergulhar até os 63.570 pontos em 23 de março. A valorização de quase 27% desse piso até os 80.687 pontos, registrados na quarta-feira 22, indicava que, mesmo com o aumento dos casos confirmados de coronavírus no País, o principal índice da B3 parecia se estabilizar à espera dos novos acontecimentos. O problema é que, em vez da boa notícia do fim do isolamento social ou da descoberta da vacina para combater o vírus, uma nova crise interna entrou no radar. 

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“Ficou pior e mais difícil saber como o Brasil vai sair dessa crise de saúde”, diz Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating. “Agora, junto à preocupação com o Covid-19 está o afrouxamento das regras fiscais para recuperar a economia e as reações sobre os próximos movimentos de Paulo Guedes.”

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