- Depois de início positivo, agosto teve na última semana quedas generalizadas nas bolsas globais, inclusive no Brasil
- Última semana de agosto trouxe de volta temores com um aperto monetário mais severo nos EUA
- Receio internacional e eleições no Brasil exigem que investidor tenha cautela em setembro
O mês de agosto deu sequência a um movimento positivo iniciado nos últimos dias de julho, levando o Ibovespa a uma alta de 6,16% aos 109.522,88 pontos decorrente da melhora nas expectativas de inflação e juros, além de preços descontados das ações; veja como a bolsa brasileira conquistou o melhor desempenho mensal desde janeiro.
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Isso até a última semana do mês. Depois de um início bastante positivo com apetite a risco e entrada de capital estrangeiro na B3, o fim do mês de agosto foi marcado por quedas generalizadas nas bolsas globais, inclusive no Brasil. O mau humor tomou o mercado desde que, na sexta-feira (26), o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, elevou o tom ao discursar sobre a trajetória dos juros no simpósio anual em Jackson Hole, nos Estados Unidos.
Powell afirmou que o compromisso com a estabilidade de preços nos EUA é “incondicional”, uma chamada de atenção para um mercado que vinha otimista com um aperto monetário mais leve por lá desde a última elevação dos juros em julho. O tom usado pela autoridade monetária reviveu os temores de recessão, que estavam um pouco de lado em agosto mas voltam ao jogo para o mês de setembro.
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“Tanto o simpósio em Jackson Hole quanto as outras aparições dos membros do Fed tentam trazer um choque de realidade para o mercado, que já esperava que o pior da inflação tivesse ficado para trás. O Fed agora tenta passar a mensagem de que o cenário ainda é muito complexo, mostrando que o trabalho será árduo e pode ser bastante duradouro”, afirma Filipe Villegas, estrategista de ações da Genial Investimentos.
Agora, depois das últimas palavras do Fed em Jackson Hole, o mercado voltou a questionar qual será a intensidade do movimento de alta dos juros nos EUA. Para Villegas, parece que a possibilidade de uma redução nos juros por lá ficou para 2024, cenário que mina grande parte do forte apetite a risco visto nas bolsas em agosto.
Os investidores ficarão sabendo dos próximos passos na maior economia do mundo na reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC), marcada para o próximo dia 21. No mesmo dia, o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central do Brasil, se reúne para decidir se eleva ou não a taxa de juros do País. Dois eventos importantes para o desempenho do Ibovespa em setembro.
“Se setembro for um período em que os dados da economia norte-americana não contribuírem, vejo que pode ser um mês negativo. Depois de duas altas mensais consecutivas, pode ser que tenha espaço para realização”, diz o estrategista da Genial.
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A mesma opinião tem Rodrigo Natali, estrategista-chefe da Inv: “Com novas altas nos juros por vir e os preços agora em níveis mais otimistas, o risco retorno desse mês vai ser muito diferente do que o que encontramos ao entrar em agosto. Estou mais conservador”.
Veja nessa reportagem as ações que tiveram as maiores altas em agosto e, nesta outra, as que apresentaram o pior desempenho no mês.
Eleições 2022
Além do fator macro, setembro marca a reta final do primeiro turno das eleições presidenciais, que acontecerá no dia 02 de outubro. Daqui para frente, a tendência é que a disputa política impacte cada vez mais no cenário de investimentos, com entrevistas, debates e planos de governo no radar. “Conforme a diferença entre os candidatos diminui, o evento eleição fica mais arriscado e aumenta a chance de volatilidade. Isso pode fazer o índice Ibovespa perder um pouco de fôlego em setembro”, diz Natali.
Aqui, contamos como o mercado financeiro reagiu ao 1º debate, realizado no domingo (28). Veja também a repercussão das sabatinas do Jornal Nacional com o presidente Jair Bolsonaro (PL), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB).
“Qualquer acontecimento fora da curva no período eleitoral, como a facada que o Bolsonaro sofreu em 2018, vai trazer volatilidade. A princípio, a tendência de bolsa brasileira no curto prazo é para baixo no mundo, com o Brasil ainda à mercê da disputa política”, pontua Rodrigo Cohen, analista CNPI e co-fundador da Escola de Investimentos, empresa de educação financeira.
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Com todos esses fatores no radar, a oportunidade para o investidor pode estar na economia doméstica. Os especialistas recomendam uma postura mais conservadora para setembro, mas existem opções. Como o Brasil se aproxima do fim do ciclo de altas nos juros, por aqui as empresas de crescimento podem continuar a trajetória de recuperação mesmo frente a uma piora do cenário internacional.
“Ao montar as carteiras recomendadas da Genial, meu maior fator de exposição será empresas ligadas à economia doméstica apostando na queda dos juros, mas sendo seletivo na escolha ao buscar por empresas menos voláteis, que tendem a reagir com menos intensidade nos cenários negativos”, explica Filipe Villegas. Para o estrategista da Genial, é melhor evitar uma exposição em empresas exportadoras.