- Depois da máxima na casa dos 131 mil pontos alcançada em junho deste ano, investidores veem o principal índice da Bolsa brasileira despencar nos últimos meses
- Para especialistas do mercado financeiro, a atenção ao futuro dos indicadores de inflação e juros devem direcionar o apetite ao risco da renda variável nacional
- Para quem pensa em aproveitar a baixa para ir às compras, especialistas indicam avaliar empresas maduras, pagadoras de dividendos e com boa governança
Com queda de 6,7% em outubro, o Ibovespa sofreu ao longo do mês com o cenário de aversão ao risco no País. Depois da máxima na casa dos 131 mil pontos atingida em junho deste ano, investidores veem o principal índice da Bolsa brasileira despencar. No acumulado anual, a Bolsa já está em queda, retraindo 13%.
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Enquanto a renda variável perde atratividade por conta do ambiente de incertezas, a renda fixa toma espaço, com Selic a 7,5% e IPCA acumulado de 12 meses em 10,25%.
Mesmo com a atratividade da renda fixa, a queda no preço dos papéis pode ser oportunidade de compra, mas é preciso ter atenção. Para especialistas, avaliar empresas maduras, pagadoras de dividendos e com boa governança deve ser a chave na hora de escolher ações baratas.
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Entre as razões para esse movimento de contração, a instabilidade da política monetária do País reflete diretamente no apetite de risco dos brasileiros. Com os retorno dos dois dígitos na renda fixa a aposta pode ficar para o segundo plano, sobretudo pelo cenário de cautela às vésperas de ano eleitoral.
Enquanto as projeções para o fim do chegaram a bater 150 mil pontos, a expectativa das casas de análises é que o índice finalize o ano entre 115 mil e 130 mil pontos.
Yuri Cavalcante, sócio e assessor da Aplix Investimentos
Atenção ao futuro do teto de gastos deve ser o principal fator de atenção para os próximos mês, segundo diz Yuri Cavalcante, sócio e assessor da Aplix Investimentos. Segundo ele, além das decisões político-econômicas, o investidor deve olhar atentamente ao caminho que a inflação deve seguir.
“Aumento do preço do combustível, crise energética e até a possível greve dos caminhoneiros devem entrar no radar para identificar o caminho da Bolsa nos próximos meses”, diz.
Para Cavalcante, assim como os indicadores de inflação nacional, é preciso olhar os números nos mercados dos Estados Unidos e Europa. “Quando os bancos centrais dos outros países conseguem controlar de forma mais eficiente, o próprio investidor brasileiro pode preferir alocações em economias mais seguras”, complementa.
Alvaro Bandeira, economista-chefe do Modalmais
Em análise para o E-Investidor, Alvaro Bandeira, economista-chefe do Modalmais, ressalta que a piora nos indicadores de câmbio e inflação, pioram as expectativas para o Ibovespa. “Tínhamos expectativas para que o índice chegasse à casa dos 150 mil pontos quando o indicador chegou por volta dos 130 mil pontos. Houve uma mudança e falamos agora em um Ibov de 120 mil”, aponta.
Segundo ele, até mesmo fechando 115 mil no final de 2021 seria otimista visto a situação atual. Porém, o fluxo de investidores estrangeiros fazendo compras na Bolsa brasileira é significativo. Especialmente olhando para empresas maduras, pagadoras de dividendo, com boa governança e posicionamento ESG, como explica Bandeira.
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“Para novembro e dezembro devemos ver uma acomodação da Bolsa, sobretudo no aguardo de alguma decisão sobre os precatórios, que pode amenizar as taxas de juros mais esticadas. Apesar da atratividade da renda fixa, o momento é mais ideal para tomar posições de médio e longo prazo no mercado acionário”, indica.
Stefany Oliveira, analista de investimentos da Toro
Para Stefany Oliveira, analista de investimentos da Toro, a tendência de queda observada desde junho deve continuar em novembro e dezembro. Por conta disso, o desconto nos preços torna-se oportunidade de compra para diversos ativos listados na Bolsa.
Historicamente, segundo ela, o último trimestre tende a refletir um aumento sazonal de demanda em setores como varejo, shopping centers e turismo.
“Inflação e aumento de juros impactam diretamente o desempenho de empresas relacionadas à atividade econômica. Isso acontece pelo fato de, o aumento de preços impactar o consumo das famílias e aumento de juros implica no aumento do custo do crédito”, detalha.
Dessa forma, mesmo que exista um crescimento da demanda, deve ser com menor amplitude se comparado aos últimos quatro anos, de acordo com Oliveira. Apesar disso, esse crescimento só é observado na divulgação dos resultados do quarto trimestre, que acontece no início de 2022.
Segundo a especialista da Toro, os resultados do terceiro trimestre podem indicar quais setores estão mais elásticos ao crescimento da demanda, ou seja, sofrendo menos o impacto. Além disso, essa época é quando é possível fazer a melhor análise já que o mercado já acomodou os acontecimentos do primeiro semestre e projeta números do fechamento do ano.
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“Na comparação anual, as empresas têm apresentado crescimento importante, porém, na comparação com o trimestre anterior deste ano, estamos observando queda”, avalia. Apesar de não refletir a visão de longo prazo para as empresas, os números são relevantes para compreensão do direcionamento dos fluxos.
Complementando, ela aponta que a elevação da Selic para 7,75% sinaliza um aperto monetário em linha do que era esperado já que a inflação tende a crescer ainda mais por conta do cenário fiscal e da possibilidade de mudança no teto de gastos do governo.
Rodrigo Knudsen, gestor da Vitreo
Para o gestor da Vitreo Rodrigo Knudsen, o número baixo do Ibovespa já reflete as notícias ruins das últimas semanas. Segundo ele, a saída dos 130 mil pontos até chegar à casa dos 100 mil é consequência da concretização do furo no teto de gastos.
“Em novembro, acredito que o índice fique neutro ou levemente positivo caso seja apresentada alguma reforma para contenção de gastos após confirmação do Auxílio Brasil”, aponta.
Ainda de acordo com Knudsen, outro ponto a observar é o valuation de empresas que está, em grande parte, positivo, especialmente pelo quase total controle da pandemia, o que permite reabertura de serviços e atividades.