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Nord: aversão ao risco deve garantir que 2022 seja o ano da renda fixa

Colunista do E-Investidor e especialista da Nord, Marília Fontes afirma que 2022 vai ser o ano da renda fixa

Nord: aversão ao risco deve garantir que 2022 seja o ano da renda fixa
Marilia Fontes, especialista em renda fixa, sócia-fundadora da Nord Research e colunista do E-Investidor (Foto: Ricardo Augusto
O que este conteúdo fez por você?
  • Marília Fontes, colunista do E-Investidor e sócia-fundadora da Nord Research, explica quais cuidados o investidor precisa tomar para escolher ativos de renda fixa
  • "Toda vez que gastamos muito mais do que é arrecadado e não mostramos para o mercado quais serão as resultantes de uma política mais assistencialista, pode resultar nessa completa instabilidade que vemos hoje", diz
  • "O problema não é Bolsa Família, Auxílio Brasil ou Auxílio Emergencial, mas todas as outras contas que vão continuar iguais enquanto surge uma outra", avalia

A partir da divulgação do mais recente relatório do Boletim Focus, do Banco Central, a expectativa de aumento de mais de um ponto percentual na taxa básica de juros foi sentida pelo mercado. Sendo confirmada nesta quarta-feira (27), o Comitê de Política Monetária elevou a Selic para 7,75%, 1,5pp acima que a taxa anterior.

A mudança impacta diretamente a carteira de investimentos, tanto em ativos como o Tesouro Selic e o Certificado de Depósito Interbancário (CDI), como na visão macro da tendência econômica do País.

Mesmo o Ibovespa tendo iniciado a semana em alta, o cenário nacional de volatilidade e impacto de Brasília faz com que a Bolsa sofra com a aversão ao risco e com que os investimentos em renda fixa sejam mais atrativos ao observar retornos. Apesar disso, é essencial que haja avaliação e cuidado para conseguir bons rendimentos enquanto a inflação é projetada em números desafiadores. Ainda segundo o Focus, a expectativa é que a Selic encerre o ano em 8,75%, valor menor que os 8,96% do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

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Colunista do E-Investidor e sócia-fundadora da Nord Research, Marília Fontes explica o que o aumento da Selic representa para o investidor, e como alcançar ganhos. Com mais de 12 anos de experiência no mercado financeiro e autora do livro ‘Renda Fixa NÃO é fixa!’, ela aponta que, em cenários de incerteza, o ideal é não se prender a ativos de longo prazo. Segundo ela, a aversão ao risco deve garantir que 2022 seja o ano da renda fixa.

E-Investidor – O que um novo aumento da taxa Selic, chegando a 7,75%, sinaliza para o investidor?

Marília Fontes – Com o aumento da Selic, podemos ver que o Banco Central está comprometido em tentar colocar a inflação de volta na meta. Isso sinaliza que o BC está preocupado com a inflação e, por conta disso, o investidor deve ter esse olhar também. Visualizando não só as análises de ativos, como os retornos que deve buscar nas aplicações. Essa alta gera diversas consequências para os investimentos e todas elas precisam ser consideradas ao fazer uma aplicação.

E-Investidor – Algumas casas de análise já apontam o fechamento da Selic em dois dígitos neste ano. Como esse novo patamar afeta as carteiras?

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Fontes – As casas e bancos que ainda projetam o fechamento na casa dos 8% devem revisar, principalmente após o IPCA-15 elevado. Com o novo panorama, a Selic com pelo menos 10% faz mais sentido.

Olhando as expectativas do Boletim Focus, os números estão começando a desancorar, o que faz com que o BC tente evitar o aumento ainda maior da inflação. Entretanto, é um risco grande, sobretudo no Brasil, onde temos uma economia muito indexada.

A aceleração em mais de um ponto percentual é fruto de uma surpresa em relação à perseverança dos componentes inflacionários nos dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Muitos analistas e especialistas do mercado, assim como eu, imaginaram que alguns itens mais voláteis do IPCA já voltassem à estabilidade, mas isso não aconteceu. As altas estão se mostrando persistentes.

Além disso, temos um choque da crise hídrica que causou aumento do preço de energia. Tudo isso faz com que o BC precise readequar a política para fazer frente à alta da inflação e fazer com que a crescente inflacionária não resulte em uma desancoragem das expectativas de inflação.

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Já que o Copom só tem mais uma reunião no ano, acredito que não chegue a fechar 2021 a 10%, mas podemos esperar o acumulado anual em 9,25%.

E-Investidor – Vimos a prévia da inflação, o IPCA-15 saltando 1,20% em outubro, sendo a maior alta para o mês desde 1995. Como isso impacta os investimentos?

Fontes – É um número muito preocupante, principalmente quando olhamos para o índice de serviços subir, é um número que já estava mostrando uma desaceleração na margem, o que parecia que a alta da Selic que começou no ano passado já estaria fazendo efeito no setor. Entretanto, o dado mostrou uma volta da alta da inflação no setor de serviços. Parecia que estávamos vendo uma melhora, mas isso não se consolidou e segue piorando.

É um dado ruim porque a alta está em níveis avançados. É diferente ter a persistência de crescimento em um ou dois itens subindo pouco, o que não comprometeria tanto a inflação de longo prazo, mas falando de inflação de mais 1% ao mês. Isso é uma das variáveis mais importantes do BC para acelerar a Selic

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E-Investidor – É a volta do cenário ‘natural’ dos juros no Brasil?

Fontes – Representa uma volta do cenário de tensão fiscal que já vimos. Em 2014, por exemplo, também tivemos um cenário de mais gastos e mais populismo na política econômica, o que fez aumentar bastante as projeções de inflação na época.

Toda vez que gastamos muito mais do que é arrecadado e não mostramos para o mercado quais serão as resultantes de uma política mais assistencialista, pode resultar nessa completa instabilidade que vemos hoje.

Quando não é mostrada responsabilidade fiscal e formas de como diminuir a dívida pública, temos o mesmo cenário com dólar piorando, gerando inflação, afetando as expectativas e fazendo com que o BC seja obrigado a subir juros.

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É sempre a mesma história, quando começamos a ficar bem, vem a pressão fiscal. Chegando perto de um ano eleitoral, isso é intensificado. O Brasil tem essas voltas. Nosso País brinca muito com o populismo e volta-se muito para a política estimulativa.

O problema não é Bolsa Família, Auxílio Brasil ou Auxílio Emergencial, mas todas as outras contas que vão continuar iguais enquanto surge uma outra. Caso o governo faça as mudanças, mas compensasse de alguma outra forma, reduzindo subsídios ou alguma outra alteração, seria uma política que faria sentido no momento. No Brasil, já há uma tradição de aumentar os gastos e não trocar.

E-Investidor – Então ao ver esse cenário, o que deve estar em uma carteira de renda fixa? O que deve pesar para mais ou para menos?

Fontes – Olhando para uma carteira de renda fixa hoje, é essencial ter duas coisas: liquidez e segurança. Investimentos de longo prazo são os piores neste momento.

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Os investidores devem procurar ativos com liquidez diária ou de até um ano, especialmente porque o cenário eleitoral deve ficar ainda mais conturbado. Depois, quando houver uma definição maior sobre a próxima política econômica, podemos rever as indicações.

Além disso, é importante olhar para investimentos seguros, como por exemplo os títulos públicos e bancos. Não é hora de se aventurar em títulos de crédito privado de longuíssimo prazo. Essa é a pior decisão que você pode fazer no cenário atual.

E-Investidor – Passamos por um ano de quedas sequentes na taxa de juros. Quais são as principais consequências desse movimento contrário e também acelerado da Selic?

Fontes – O investidor de renda fixa tem que perceber que o cenário mudou. Desde 2016 até meados de 2020, havia uma tendência de quedas nas taxas. Isso fez com que títulos públicos, principalmente os de longo prazo, performassem muito bem. Agora, temos um cenário inverso e as taxas estão subindo. Os títulos públicos prefixados passam a dar prejuízo de marcação ao mercado.

Quando olhamos para a aba de rentabilidade acumulada do Tesouro Direto, vemos que neste ano todos os títulos prefixados atrelados à inflação estão dando prejuízo de até 32,45%, como o Tesouro IPCA+ 2045. Isso acontece porque houve uma mudança de tendência.

O investidor de renda fixa deve estar muito atento ao cenário macroeconômico para saber quando há um direcionamento de queda ou de alta. Somado a isso, investidores de Bolsa também são impactados. Na crise da pandemia, a Bolsa caiu e voltou a subir em pouco tempo porque a Selic foi para 2%. O que fez os brasileiros migrarem para a renda variável em busca de retornos maiores.

Agora, com os juros a caminho dos dois dígitos, é natural que haja uma busca por ativos mais conservadores e que estão pagando mais, prejudicando a Bolsa. O cenário macroeconômico brasileiro impacta muito os investimentos, o que faz com que os investidores precisem ficar bastante atentos.

E-Investidor – Com título prefixado do Tesouro chegando a quase 12% para 2024, é uma boa hora para entrar?

Fontes – Vale a pena travar prazos mais longos quando vislumbrar uma estabilidade de política econômica. Até lá, a taxa, que é alta, pode continuar subindo. Quando o Tesouro Prefixado 2031 chegou aos dois dígitos, muitos investidores me perguntaram se seria um bom negócio. Mas logo depois vimos ele chegar a 11%, 12% e chegou a 13%.

Não é uma questão de taxas, mas de cenário. Enquanto o governo continuar com políticas populistas vislumbrando as eleições, a taxa de juros vai continuar subindo.

Uma decisão de longo prazo deve ser tomada quando for vista uma política econômica fiscalmente responsável, uma equipe crível no Ministério da Economia que busque pela estabilidade. Até lá, no curto prazo, é necessário liquidez e segurança.

E-Investidor – As últimas semanas foram conturbadas no Planalto. Com a saída da equipe econômica do Guedes e a sinalização do governo em descumprir o teto dos gastos. É possível proteger o portfólio do vai e vem de Brasília? Como?

Fontes – Foi um recado importante para o mercado de que o governo não está mais comprometido com a rigidez fiscal, o que desencadeou outros movimentos de aversão ao risco no mercado. Estamos a menos de um ano das eleições e, com isso, o governo anuncia que “vale tudo”.

Como se proteger desse cenário? É com liquidez e segurança, como comentei anteriormente.

E-Investidor – Dá para dizer que 2022 será o ano da renda fixa?

Fontes – Vai ser um ano que a renda fixa conservadora, o Tesouro Selic, vai pagar juros de dois dígitos, o que vai diminuir os estímulos para investir em ativos de risco em um cenário extremamente caótico. Sim, acredito que será o ano da renda fixa.

E-Investidor – O que esperar de juros e inflação em 2022? Como se preparar?

Fontes – Vejo que ter Tesouro Selic ou CDB de bancos bons, sendo no curto prazo,  podem ser ativos de mais segurança. Quando tudo for resolvido ou amenizado, vai ter tempo de fazer alocações.

É importante ver qual governo vai ter mais probabilidade de ganhar no ano que vem, quem vão ser os líderes das cadeiras econômicas, entre outros fatores. Quando o investidor sentir que foi resolvido o problema da instabilidade, pode voltar aos ativos de risco. Até lá, sugiro a renda fixa líquida e segura.

E-Investidor – Existe um cenário ideal mais aguardado pelo mercado para 2022, sendo ano eleitoral?

Fontes – Hoje, o mercado vê [Luiz Inácio] Lula (PT) e [Jair] Bolsonaro (sem partido) da mesma forma. Os dois entendem que é preciso respeitar o mercado, mas na prática optam pelo populismo, o que os tornam bastante similares na política econômica.

O mercado gostaria de uma terceira via mais liberal, mas o próprio mercado acha isso muito difícil de acontecer. Entre Bolsonaro e Lula, vejo o mercado indiferente.

E-Investidor – Como a economia mais fraca no ano que vem pode afetar os ativos de renda fixa?

Fontes – O mercado já prevê recessão para o ano que vem. Com a Selic sendo revisada para cima, faz muito sentido pensar que isso deve ser uma realidade sim, o que é bastante ruim para a Bolsa porque não há crescimento. Para a renda fixa, se a inflação aumenta, o governo paga mais para o investidor.

Na renda variável, seria o pior cenário possível porque além de não ter crescimento, tem a inflação. Nesse caso, seria bastante desafiador. O que sugiro é buscar ativos que não dependem diretamente da atividade econômica, empresas que se beneficiam do câmbio e da Selic.

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