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- Em agosto, o investidor ainda não soube o que é ver o Ibovespa fechar um pregão no azul
- Até a terça-feira (15), o índice acumulava onze sessões consecutivas de desvalorização - a maior série de baixas desde 1980
- Baixas sequenciais são alimentadas pelos temores em relação a EUA e China, além das questões fiscais domésticas
Em agosto, o investidor ainda não viu o Ibovespa fechar um pregão no azul. Até a terça-feira (15), o índice acumulava onze sessões consecutivas de desvalorização – a maior série de baixas desde 1980, segundo levantamento feito por Einar Rivero, head comercial do TradeMap. No mês, a queda é de 4,73%, aos 116.171,42 pontos.
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Esse cenário não lembra em nada a situação dos últimos quatro meses, período em que uma maré de dados econômicos positivos e o otimismo com a redução da taxa de juros fizeram a bolsa brasileira subir 20% entre abril e julho.
EUA e China na balança
Para Thiago Lourenço, operador de renda variável da Manchester Investimentos, o que colocou "água no chope” do Ibovespa em agosto foi principalmente o agravamento das condições econômicas norte-americana.
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A agência de classificação de risco Fitch rebaixou a nota da dívida dos EUA de “AAA” (melhor avaliação de crédito da escala) para “AA+” (qualidade de crédito muito alta).
Em outras palavras, a percepção da Fitch é de que a maior economia do mundo terá mais dificuldades para pagar suas dívidas nos próximos anos. “Isso já deixou o mercado global um pouco mais avesso a risco”, afirma Lourenço. O aumento do sentimento de insegurança foi captado pelo Índice Vix, conhecido como Índice do Medo, que sobe 20% em agosto.
O rebaixamento da nota também estressou a curva de juros americana. Ou seja, o mercado passou a entender que os juros no país de Joe Biden podem ser maiores no longo prazo - o que resultou em um salto nos rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA.
Historicamente, a alta nas rentabilidades dos “treasuries”, considerados os títulos públicos mais seguros do mundo, diminui a atratividade da renda variável global. Especialmente em países emergentes, como o Brasil, em que o risco é maior. Essa movimentação explicaria, por exemplo, a diminuição do fluxo de investimento estrangeiro na Bolsa brasileira.
Segundo o TradeMap, até o dia 11 de agosto (último dado disponível), os investidores estrangeiros retiraram R$ 4,7 bilhões da B3 - a maior saída mensal de recursos no ano. Paralelamente, o dólar se valoriza no mundo. “Para o Brasil, acaba sendo um pouco ruim essa valorização do dólar porque pode ter algum efeito na inflação também”, diz Lourenço.
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Alex Carvalho, analista CNPI da CM Capital, ressalta outro fator de risco que ajudou a elevar a aversão a risco global: o rebaixamento dos ratings de bancos americanos, situação que reacende temores quanto à estabilidade do setor financeiro nos EUA.
Contudo, não é só o cenário complexo dos EUA que azeda o humor dos investidores, mas a situação da China. O país dá sinais de uma nova crise no setor imobiliário, principal propulsor do crescimento local.
Na última semana, uma das maiores construtoras do país, a Country Garden, não honrou os pagamentos de juros de debêntures. O temor, agora, é de que a empresa quebre e provoque um efeito em cascata.
“Isso tem assustado muito e tende a trazer risco para um mercado de maneira geral. Por isso, muitos índices vem caindo, inclusive o Ibovespa”, afirma Carvalho. O Brasil tem uma relação estreita com a China, principal consumidora de insumos produzidos no mercado doméstico, como o minério de ferro. Carvalho lembra que há correção nos preços do minério de ferro, o que tem pressionado as ações da Vale (VALE3), com boa participação no Ibovespa.
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Victor Miranda, operador de renda variável da One Investimentos, resume a situação do Ibovespa, com riscos de EUA e China no radar. “China com bastante dificuldade de reaquecer economia, o que piora as perspectivas de mercados emergentes no geral. EUA começando um linha de aversão a risco, com fuga de liquidez para o mercado de juros americano. Isso tem feito com que nossa moeda perca força e que recursos do mundo inteiro sejam levados para os EUA”, diz.
Agosto de polêmica fiscal
Também voltaram as dúvidas relacionadas à situação fiscal do País. Em agosto, o Executivo precisa entregar o orçamento para 2024.
Para alcançar a meta de déficit primário zero no ano que vem, estabelecida no arcabouço fiscal, o governo deve encontrar maneiras de aumentar a receita em cerca de R$ 100 bilhões. “Todas as medidas de levantamento de orçamento para 2024 devem ser pautadas na Câmara até o dia 31 de agosto. Portanto, teremos atualizações destas pautas até o fechamento do mês e isso aumenta a incerteza para o cenário interno”, afirma Miranda.
Parte do movimento de baixa no Ibovespa também pode ter ocorrido em função de uma realização de lucros pós início dos cortes na taxa básica de juros Selic. No dia 2 de agosto, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu reduzir os juros em 0,5 ponto percentual, para 13,25% ao ano, com vistas a fazer novas reduções de mesma magnitude nas reuniões subsequentes.
“Após a divulgação do corte, o mercado entrou num modo de realização de lucros e chegou a pressionar a curva de juros, precificando um possível corte de 0,75 p.p em alguma reunião desse ano”, ressalta Andre Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital. “Só que essa perspectiva foi frustrada pela ata do Copom, que deu a entender que o BC devem manter os cortes de 0,50 p.p até o fim do ano. Isso fez muitos investidores venderem suas posições.”
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Entretanto, Fernandes também vê que, para frente, será a discussão a respeito do arcabouço fiscal e do Orçamento de 2024 que ditará o ritmo do Ibovespa.