Mercado

Mercados ignoram invasão no Congresso americano e ‘surfam’ onda azul

Mercado americano, europeu, asiático e brasileiro subiram no pregão de quinta-feira (7)

Invasão de manifestantes pró-Trump ao Capitólio americano. Foto: Leah Millis/Reuters
  • Manifestantes pró-Trump invadiram o Congresso americano durante a sessão que oficializava a vitória eleitoral de Joe Biden à presidência dos EUA na quarta-feira (6). Democrata teve sua vitória oficializada na madrugada desta quinta (7)
  • Bolsas americanas, europeias, asiáticas e brasileira subiram no pregão, apesar do cenário caótico. A blue Wave (onda azul) sustentou a valorização dos índices
  • Novos transtornos não estão descartados, mas também não devem afetar os mercados

Na tarde de quarta-feira (6), um grupo de manifestantes pró-Donald Trump ocupou o prédio do Congresso americano onde ocorria a sessão que oficializava a vitória eleitoral de Joe Biden na presidência dos EUA. A invasão do Capitólio terminou com quatro mortos, mais de 50 presos e chamou a atenção do mundo por ser considerado um ato de ataque à democracia norte-americana.

Apesar do ocorrido, o candidato democrata foi oficialmente consagrado o 46º presidente do país na madrugada desta quinta (7) e tomará posse no dia 20 de janeiro.

Apenas depois disso, Trump aceitou a derrota e informou, em comunicado, que a decisão “representa o fim do maior primeiro mandato da história presidencial”. “Embora eu discorde totalmente do resultado da eleição e os fatos me confirmem, haverá uma transição ordeira em 20 de janeiro”, afirmou o bilionário.

Mercado não foi afetado pela invasão

Mesmo diante deste cenário caótico, o mercado não reagiu negativamente. No pregão de quarta (6), Dow Jones e S&P 500 subiram 1,44% e 0,57%, respectivamente. Nasdaq foi na contramão e caiu 0,67%, mas segundo Guilherme Zanin, analista da Avenue, a queda não está ligada à invasão do Capitólio americano

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“A confirmação da chamada blue wave, com o Senado americano em maioria democrata, impactou as empresas de tecnologia, já que é esperado um aumento de impostos e de regulação do setor pelo presidente eleito”, diz Zanin.

A Blue wave (onda azul) é uma expressão que faz alusão a cor do Partido Democrata para explicar que seus políticos conseguiram a maioria no Senado e no Congresso americano, além da presidência.

Na B3, a invasão pesou negativamente e fez o Ibovespa inverter o sinal durante o dia. O índice encerrou a sessão em leve queda de 0,23%, aos 119.100,08 pontos.

Já no pregão desta quinta (7), todas as bolsas operaram em forte alta e Dow Jones, S&P 500, Nasdaq e o IBOV fecharam o dia com valorização, em ordem, de 0,69%, 1,48%, 2,56% e 2,76%. Todos os índices bateram recordes de fechamento.

Na Europa, o índice pan-europeu Stoxx 600 fechou com ganhos de 0,51%; em Frankfurt, Alemanha, o Dax subiu 0,55%; e em Londres, Inglaterra, o FTSE 100 teve valorização mais modesta, de 0,22%.

Na Ásia, o Nikkei, do Japão, encerrou o pregão em alta de 1,60%; na China continental, o índice de Xangai encerrou com valorização de 0,71%; e o Kospi, da Coreia do Sul, avançou 2,14%.

Por que as bolsas subiram

Segundo especialistas do mercado consultados pelo E-Investidor, a invasão não muda a perspectiva de futuro do mercado financeiro. Eles explicam que o ocorrido não alterará o fato de que Joe Biden foi eleito presidente e que agora os democratas controlam a Câmara, o Senado e a Casa Branca.

“O mercado ficou apreensivo em um primeiro momento, mas depois percebeu que não fazia sentido. A invasão foi mais um chilique de quem não sabe perder do que algo mais sério que vai mudar alguma coisa, tanto que o atual vice-presidente, Mike Pence, e o Partido Republicano não apoiaram Trump e ele assumiu a derrota logo em seguida”, afirma João Guilherme Penteado, sócio fundador e diretor da Apollo Investimentos.

O maior controle de Biden nas casas facilita a aprovação de sua agenda de estímulos fiscais à economia dos EUA. Com isso, as bolsas reagem positivamente à blue wave (onda azul) no dia. Até mesmo a Nasdaq, apesar da linha mais dura com as companhias de tecnologia.

“As bolsas americanas subiram com a perspectiva de recuperação da economia e tiveram um efeito cascata para as economias dependentes do país, como a brasileira”, afirma Aline Tavares, gerente de análise de ações da Spiti.

Tavares também ressalta que estes estímulos impulsionam ainda mais o Brasil, pois Biden tem uma agenda forte de infraestrutura, o que valoriza as commodities. “Isso nos beneficia diretamente, porque somos grandes exportadores de materiais básicos”.

O IMAT, que é o Índice de Materiais Básicos da B3, teve alta de 6,77% nesta quinta (7) – no agregado do ano sua valorização é de 13,74%, contra apenas 2,83% do IBOV.

Novos transtornos também não devem impactar o mercado

Mesmo que Trump tenha admitido a derrota, o bilionário ainda alega fraude na eleição e há apoiadores extremistas que acreditam em sua palavra. Por isso, não é improvável que ocorram novos protestos a favor da permanência do bilionário no poder.

Para Penteado, no entanto, novos ataques não preocupam o mercado e devem ficar em segundo plano, assim como a invasão desta semana.

“É muito difícil as bolsas sentirem de alguma forma se os protestos continuarem, porque eles não vão conseguir mudar em nada a conjuntura atual. Joe Biden está eleito e o Senado e a Câmara definidos”, afirma o sócio da Apollo.