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- Após o otimismo gerado com a descoberta dos imunizantes contra a covid-19, que já foram precificados pelo mercado, agora a atenção dos investidores se volta para o resultado da vacinação e, principalmente, para a recuperação econômica
- Mauricio Battaglia, da Órama Investimentos, cita alguns dos aspectos que serão levados em consideração para possíveis correções de preços: 'Como está o percentual de imunização? Está tendo efeito colateral? Quem tomou a vacina está tendo reincidência?'
- Em um cenário desfavorável, Jerson Zanlorenzi, do BTG Pactual, aponta que a Bolsa poderia cair para os 90 mil pontos no final do ano, devido a algum desdobramento da pandemia que gere novos fechamentos econômicos
Em 2020, o mercado global foi sacudido pela pandemia e boa parte da recuperação que se viu em seguida ancorou-se nas expectativas por uma vacina eficaz contra o coronavírus. Após o otimismo com a descoberta e início da aplicação de diversos imunizantes, que já foram precificados pelo mercado, agora a atenção dos investidores se volta para o resultado da vacinação e, principalmente, para a recuperação econômica.
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Mais de 10 milhões de vacinas já foram aplicadas em 29 países, mostrou um levantamento de dados feito pela Bloomberg. China, Estados Unidos, Israel e Reino Unido são exemplos de nações que já começaram a vacinar a população. No Brasil, ainda não há certeza de quando o processo deverá iniciar, mas o Ministério da Saúde trabalha com um prazo até o final deste mês.
Entre as vacinas que já estão sendo disponibilizadas, algumas delas foram responsáveis por animar investidores em 2020, a cada anúncio de avanço nas pesquisas, como as da Moderna, da Pfizer com a BioNTech e da Universidade de Oxford com AstraZeneca.
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Apesar da vacinação já ter começado em várias partes do mundo, muitos imunizantes ainda estão em fase de testes. Mas, diferentemente do que ocorreu ao longo do último ano, os avanços no processo de desenvolvimento já estão precificados e não devem exercer grande influência nas bolsas, avaliam analistas ouvidos pelo E-Investidor.
“Quem investe em bolsa já conta que em 2021 vai ter uma vacina. Cada país com uma velocidade, cada região com a sua característica, mas já é uma premissa praticamente dada de que, neste ano, o mundo inteiro vai caminhar para uma vacinação”, diz Ricardo França, analista da Ágora Investimentos.
O cenário no Brasil ainda é marcado por incertezas não só quanto ao início da imunização, como também em relação à quantidade e variedade dos imunizantes à disposição na rede de saúde pública e privada, além da disponibilidade de materiais como seringas e agulhas. “Parte dessas dúvidas deve começar a ser respondida agora em janeiro”, acredita França.
O Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, que chegou a cair até 45% no auge da crise, conseguiu recuperar as perdas e encerrar 2020 com alta de 2,92%, aos 119.017,24 pontos. Parcela significativa dessa recuperação se deve justamente ao otimismo dos investidores em relação aos avanços nas pesquisas das empresas que entraram na corrida global pela vacina.
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“Boa parte da descoberta da vacina já foi para o preço [dos ativos]. Há papéis no Brasil que subiram 50%, e não é um papel que ninguém conhecia. A Vale (VALE3) subiu mais de 70% no ano passado”, exemplifica Mauricio Battaglia, chefe de operações estruturadas da Órama Investimentos.
De agora em diante, o mercado deve se voltar para o processo “prático”. Battaglia cita alguns dos aspectos que vão ser analisados e levados em consideração para possíveis correção de preços: “Como está o percentual de imunização? Está tendo efeito colateral? Quem tomou a vacina está tendo reincidência?”.
Jerson Zanlorenzi, responsável pela mesa de renda variável e derivativos do BTG Pactual digital, avalia que até o final do primeiro trimestre, as vacinas deverão começar a perder protagonismo nas notícias e, consequentemente, influência no preço dos ativos, ao passo que o aspecto econômico se destacará bem mais no noticiário e na precificação.
“O que faz mais peso hoje é a capacidade do mundo na produção e na distribuição e não mais no desenvolvimento [da vacina]”, diz Zanlorenzi. “Vamos ver se os estímulos que foram dados, como juros baixos no mundo todo e a aprovação do pacote fiscal nos Estados Unidos, vão dar resultado às economias”.
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Com uma injeção de capital nos mercados, há incerteza sobre o destino de tanta liquidez após a crise. Em novembro, a bolsa brasileira bateu recorde de entrada de capital estrangeiro, decorrente de um enorme movimento de investidores com apetite ao risco. Foram mais de R$ 30 bilhões aportados na B3 naquele mês.
“Estamos com muito dinheiro irrigando o mundo, e esses recursos vão buscar investimentos especulativos. Logo, podem e vão fazer o preço de muito ativo inflar, porque simplesmente não tem onde colocar o dinheiro. Então, o mercado vai precisar receber lastro, das notícias”, diz Battaglia.
Até onde a Bolsa pode chegar após a vacinação?
Depois de muitas projeções realizadas em 2020, o período de vacinação será uma espécie de prestação de contas, para possíveis correções de preços, avaliam os especialistas. Isso porque o mercado costuma antecipar preços e eventos, para depois acompanhar o lastro dessa antecipação, ou seja, se as expectativas se confirmaram na prática.
“Se China e Estados Unidos definitivamente começarem a caminhar, vamos andar por osmose aqui”, avalia o chefe de operações estruturadas da Órama. Para ele, em um cenário otimista, a bolsa brasileira pode fechar o primeiro semestre do ano com alta próxima de 20%, na faixa dos 150 mil pontos.
Zanlorenzi também tem visão otimista para o Ibovespa, com possibilidade de o índice alcançar os 140 mil pontos no final deste ano, se o País tiver êxito na imunização e se recuperar bem economicamente.
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“Em um cenário positivo de vacinação, mas sem todos os incentivos suficientes para reanimar a economia, ainda podemos ter uma performance mais complicada na Bolsa”, diz o responsável pela mesa de renda variável e derivativos do BTG Pactual digital.
À medida que a população for sendo vacinada, será possível observar um dinamismo maior para aqueles setores mais punidos durante a pandemia. “São basicamente os setores que dependem da maior circulação de pessoas, como o aéreo, de shoppings, de serviços no geral, turismo, viagens, hotéis, bares e restaurantes”, cita França, da Ágora.
Em um cenário desfavorável, Zanlorenzi aponta que a Bolsa poderia cair para os 90 mil pontos no final do ano, devido a algum desdobramento da pandemia que gere novos fechamentos econômicos, ou mesmo para o caso de a crise sanitária ter um desfecho positivo mas a situação econômica não evoluir como o esperado.