- O ciclo de aperto monetário no Brasil e eleições formaram um “combo” perfeito para derrubar o preço das ações da bolsa
- Hoje, o investidor se depara com um mercado com empresas sendo negociadas a “múltiplos” baixos em comparação a anos anteriores
- Segundo dados do TradeMap, a mediana preço sobre lucro (P/L) das companhias listadas na B3 tem o menor resultado desde 2017
Os juros altos e as incertezas econômicas não trouxeram apenas aversão ao risco para os ativos de renda variável no mercado doméstico. Foram capazes também de criar oportunidades de investimento por conta de preços bem mais acessíveis em comparação aos períodos de “bull market”, jargão da bolsa que indica mercado em alta.
Leia também
Esse feito pode ser visto em um levantamento do TradeMap, a pedido do E-Investidor, que mostrou que as empresas brasileiras listadas na B3 estão negociando com o menor múltiplo preço sobre lucro (P/L) em seis anos. Uma realidade que cria para o investidor uma espécie de “black friday” fora de época da bolsa brasileira. Na avaliação de analistas, o atual momento abre janelas de oportunidades para o investidor realizar bons investimentos. Ou seja, comprar ações de boas empresas a preços baixo daqueles considerados justos.
Por que há investidores que enxergam a bolsa como um “grande cassino”?
Publicidade
Invista em oportunidades que combinam com seus objetivos. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos
Para Marco Saravalle, sócio-fundador da BM&C e da SaraInvest e colunista do E-Investidor, o contexto se torna ainda mais favorável com a perspectiva do início dos cortes de juros a partir do resultado do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do mês de março, que ficou abaixo do esperado.
“Tivemos uma eleição e estamos entendendo ainda o novo governo, mas o IPCA (de março) abre espaço para que tenhamos um início do corte de juros em junho ou acelerar esse processo ao longo do segundo semestre para níveis mais razoáveis”, informou Saravalle. Na última-feira, o IPCA de março subiu apenas 0,71%, enquanto no mesmo período do ano passado o índice aumentou 1,67%. Com esse resultado, a alta dos preços no acumulado dos últimos 12 meses ficou a 4,65%.
De acordo com os dados do TradeMap, a mediana do preço sobre lucro (P/L) de todas as empresas da B3 está em 6,61x. Isso significa que, ao investir nas empresas brasileiras, o investidor deve ter um retorno sobre o capital aplicado em pouco mais de seis anos. A espera por essa recompensa financeira é a menor desde 2017, quando a mediana do múltiplo das companhias seguia a 5,63x P/L.
Veja a mediana do P/L das empresas listadas na B3
Ano | Mediana P/L (x) |
2010 | 9,7x |
2011 | 8,4x |
2012 | 9x |
2013 | 8,8x |
2014 | 7,4x |
2015 | 5,3x |
2016 | 5,6x |
2017 | 8,6x |
2018 | 9x |
2019 | 11,6x |
2020 | 9x |
2021 | 7x |
2022 | 6,7x |
2023* | 6,6x |
Fonte: Einar Rivero, head comercial do TradeMap/*Dados referente até o pregão desta sexta-feira (14) |
Os múltiplos baixos têm relação, principalmente, com o alto patamar da taxa de juros que segue estável a 13,75% ao ano. “Quando o Banco Central começar a cortar a Selic, as empresas vão poder gerar mais lucro porque os juros tiram os lucros futuros”, afirma Fábio Louzada, analista CNPI e fundador da Eu me Banco. Isso quer dizer que há a possibilidade de uma valorização na bolsa com o aumento das projeções de lucro das empresas diante de um cenário econômico queda dos juros.
No entanto, mesmo com múltiplo atrativo e com essa perspectiva no radar, caso se concretize no curto prazo, os investidores precisam ser criteriosos ao montar o seu portfólio. “Você deve buscar empresas com um bom potencial de crescimento, que gerem caixa independente do cenário e que paguem bons dividendos”, recomendou Saravalle. Entre as ações que atendem esses pré-requisitos, na avaliação dele, estão a PRIO (PRIO3), Vale (VALE3) e Azul (AZUL4).
Publicidade
Já Cristiane Fensterseifer, analista CNPI e fundadora da Investe10, enxerga potencial de bons retornos financeiros nas small caps e microcaps da bolsa que são aquelas empresas com baixo valor de mercado. Para ela, são ativos que devem compor cerca de um terço do portfólio do investidor. “São essas empresas que, se tivermos alguma recuperação, vão subir muito e não podem faltar na carteira”, recomenda Fensterseifer.
Vale destacar que, embora a sua relevância no retorno financeiro, os critérios de seleção desses ativos são semelhantes ao de Saravalle. “Empresas muito alavancadas estão fora do meu portfólio. O investidor precisa pegar companhias com boa saúde financeira, com boas perspectivas de crescimento e que estejam negociando com um valuation (valor de mercado) muito baixo”, orienta Fensterseifer.
Marco Saravalle, Fábio Louzada e Cristiane Fensterseifer foram palestrantes do Gramado Summit 2023 que aconteceu entre os dias 12 a 14 de abril em Gramado, no Rio Grande do Sul. O evento, conhecido por ser uma conferência de inovação tecnológica e de empreendedorismo, contou com sete palcos que receberam mais de 200 palestrantes e mais de 500 expositores na sua feira de negócios.