BB Investimentos mantém carteira fundamentalista e projeta índice em 172 mil pontos até dezembro de 2026. (Imagem: Adobe Stock)
O balanço do terceiro trimestre de 2025 (3T25) deve mostrar o Banco do Brasil (BBAS3) no fundo do poço, disseram analistas de Ágora Investimentos, Genial e Banco Safra. A estimativa é que a estatal reporte lucro líquido ajustado entre R$ 3,22 bilhões e R$ 3,48 bilhões, queda de 63,4% a 66,1% na comparação com os R$ 9,51 bilhões de igual período do ano passado.
Os analistas do Safra, que estimam lucro de R$ 3,48 bilhões, dizem que o 3T25 será provavelmente o pior trimestre do ano para a BB , com impacto da sazonalidade que deve levar a maior parte da inadimplência do agronegócio para o estágio 3 de provisionamento. Nesse estágio, o cliente é visto com altíssimo risco e deve ter todo o risco de calote provisionado, como se desse default, principalmente quando atrasa acima de 90 dias.
“Esperamos crescimento de 1,59 ponto porcentual na inadimplência acima de 90 dias em relação ao trimestre anterior. A carteira de Pequenas e Médias Empresas (PMEs) também deve continuar a pressionar a qualidade dos ativos, impulsionando um aumento de 0,14 ponto porcentual no índice de inadimplência da empresa em relação ao trimestre anterior“, dizem Daniel Vaz, Maria Luisa Guedes e Rafael Nobre, que assinam o relatório do Safra.
Desse modo, o banco espera que as Provisões para Devedores Duvidosos (PDD) cheguem a R$ 17,28 bilhões no terceiro trimestre, disparada de 71,42% na comparação com o igual período de 2024.
Já a Genial Investimentos possui a pior perspectiva para as provisões do Banco do Brasil. A corretora estima que o banco estatal deve reservar R$ 19 bilhões de seu resultado para cobrir os calotes de clientes, uma piora de 88,4% na comparação com o 3T24. O resultado deve se deve ao avanço da inadimplência acima de 90 dias, de 1,28 ponto porcentual, encerrando o trimestre em 4,6%, conforme as estimativas.
“A alta continua sendo puxada pelo segmento Agro, impactado pelo início dos vencimentos do Plano Safra 2024, que não estão sendo honrados no ritmo esperado. O cenário permanece desafiador, com a inadimplência no setor seguindo em escalada, refletindo o desequilíbrio entre endividamento elevado e margens mais pressionadas dos produtores”, afirmam Eduardo Nishio, Luis Degaspari e Bernardo Noel, que assinam o relatório da Genial.
A rentabilidade do Banco do Brasil é outro tema que pode assustar o investidor. Os analistas projetam um Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE, na sigla em inglês) por volta de 7%, muito abaixo do custo de capital, que está em 15% ao ano – patamar da Selic atual. Segundo a Genial, nem mesmo a Medida Provisória 1.314, que criou um programa de renegociação de dívidas no agronegócio, deve salvar o BB.
Vale lembrar que a MP possui duas etapas. A primeira prevê até R$ 12 bilhões via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para alongar dívidas de produtores afetados por eventos climáticos. A segunda permite que a instituição financeira use recursos próprios: a cada R$ 1 emprestado o banco terá R$ 1 de benefício em suas obrigações tributárias, o que é positivo para reforçar o capital do BB.
Para a Genial, a medida dá fôlego ao produtor que está com créditos em atraso, com possibilidade de alongamento do pagamento em até nove anos e um ano de carência.
“Acreditamos que o banco só captura o efeito positivo no capital se gerar operações com recursos próprios. A MP tem prazo de 120 dias para a concessão das operações. Acreditamos que o impacto total dessa medida em 2025 será marginal, com efeito cheio somente em 2026. Ou seja, o balanço do terceiro trimestre não deve sentir efeitos da medida”, explica a equipe da corretora.
A Ágora Investimentos estima crescimento de 4,9% da receita, impulsionado pela expansão da margem com o mercado e crescimento do crédito, que devem ser mais do que compensados pelas provisões. Os analistas estimam lucro líquido de R$ 3,22 bilhões para o 3T25, tombo de 66,1% em relação ao balanço equivalente ao intervalo de julho a setembro 2024.
“Prevemos um crescimento controlado dos gastos operacionais, mas com resultados menores da Previ e outras despesas mais altas, levando a uma contração de 9,6% no lucro antes dos impostos. Por fim, uma alíquota efetiva de imposto mais alta neste trimestre contribuirá ainda mais para a compressão dos resultados”, concluem Marcelo Mizrahi, do Bradesco BBI, e Renato Chanes, da Ágora, que assinam o relatório em conjunto.
Como devem ficar os dividendos do Banco do Brasil?
Os problemas financeiros que derrubaram as ações BBAS3 levaram o Banco do Brasil a cortar o payout de dividendos para 30%. (Foto: Adobe Stock)
Em um momento difícil, as estimativas dos analistas para os dividendos do Banco do Brasil não são positivas. Vale lembrar que a companhia modificou sua política de distribuição de proventos após o balanço do 2T25. A empresa pagava cerca de 40% do seu lucro em dividendos (payout), mas após os problemas financeiros decidiu reduzir a fatia para 30%.
Com um pagamento menor e o lucro em queda, as estimativas são de distribuição modesta. O Safra diz que o rendimento em dividendos de BBAS3 deve recuar de 12,7% em 2024 para 4,4% em 2025 e 4,9% no acumulado de 2026.
Os analistas da Ágora Investimentos, por sua vez, calculam dividend yield (rendimento em dividendos) do BB em 5,2% nos próximos 12 meses. A corretora reconhece que a empresa está fazendo de tudo para a melhorar a situação, principalmente após os anúncios feitos pela companhia em seu Investor Day — veja aqui o que foi anunciado no evento com acionistas realizado no fim de setembro.
“No futuro, embora reconheçamos as iniciativas da administração, ainda vemos um cenário desafiador para os empréstimos rurais, pois o pico da deterioração da qualidade dos ativos deve ser atingida no balanço do terceiro trimestre de 2025, enquanto os ajustes táticos e as iniciativas de venda cruzada do banco ainda precisam amadurecer.”
Recomendações e preços-alvo para BBAS3
Desse modo, os analistas da Ágora estão reticentes com a companhia e recomendam cautela com o ativo. A corretora tem recomendação neutra para BBAS3, com preço-alvo de R$ 21 para os próximos 12 meses, queda de 7,8% em relação ao fechamento de ontem.
Até a divulgação dos resultados do 3T25, o Safra tem recomendação neutra com preço-alvo de R$ 23, avanço de 0,96% na comparação com o último fechamento. A Genial recomenda manter o papel na carteira e calcula que Banco do Brasil (BBAS3) pode chegar a R$ 22,00 nos próximos 12 meses, baixa de 3,42%.