A rainha Elizabeth II, a monarca com o reinado mais longo da história britânica, morreu aos 96 anos. (Foto: Yui Mok/AP)
A rainha Elizabeth II, a monarca com o reinado mais longo da história do Reino Unido, morreu “pacificamente” aos 96 anos, informou o Palácio de Buckingham na tarde desta quinta-feira (8). O estado de saúde da rainha já estava sob os holofotes desde quando, pela manhã, o Palácio informou que os médicos estavam preocupados com a saúde da rainha.
O Reino Unido possui um plano de longa data preparado para a ocasião, chamado de “London Bridge is Down” ou “Operação London Bridge”. O protocolo define exatamente o que deve acontecer nos próximos 10 dias, desde os preparativos do funeral aos primeiros compromissos oficiais do príncipe Charles, filho mais velho de Elizabeth II e sucessor ao trono, agora como rei aos 73 anos.
A morte da rainha Elizabeth II entra na conta de uma série de instabilidades que já vinham acontecendo no Reino Unido.
Na segunda-feira (5), Liz Truss, ex-ministra das relações exteriores de Boris Johnson, foi eleita primeira-ministra da nação depois que o premiê renunciou ao cargo. Johnson permaneceu no comando do governo inglês por pouco mais de três anos, mas se viu pressionado a renunciar após estourarem notícias de festas clandestinas realizadas pelo ex-primeiro-ministro na residência oficial de Downing Street, durante o período de lockdown no Reino Unido.
Tudo isso enquanto o Reino Unido tenta se fortalecer fora da União Europeia e em meio a uma crise econômica que toma o velho continente. Uma união de fatores, de pandemia da covid-19 à guerra entre Rússia e Ucrânia, que faz a inflação estar em alta por lá. “Liz Truss tem um difícil trabalho pela frente, pois pega o governo com uma crise institucional muito grande. Teve o Boris Johnson caindo por causa de escândalo, um cenário inflacionário difícil com o inverno pela frente, e agora morreu a monarca”, diz Pedro Tiezzi, analista de investimentos da SVN.
Essa toada de instabilidades já vinha penalizando a libra esterlina, moeda oficial do Reino Unido. Na segunda-feira (5), data da transição entre Johnson e Truss, a moeda recuou ao menor nível em 37 anos em relação ao dólar, valendo US$ 1,14 – o valor mais baixo desde 1985, de acordo com a Dow Jones Newswires. A queda aconteceu em meio aos temores de que o corte no fornecimento de gás russo à Europa empurre a economia britânica a um quadro de recessão grave.
E o investidor brasileiro nessa?
A princípio, a Bolsa de Londres vai ficar fechada somente por um dia, mas a imprensa britânica está relatando que o pregão poderia ser interrompido “potencialmente por vários dias”. Com todos esses fatores em jogo, o investidor brasileiro pode estar se perguntando se a situação do Reino Unido impacta de alguma forma seus investimentos no Brasil. Neste primeiro momento, muito provavelmente não.
A repercussão em termos econômicos da morte da rainha é muito baixa. Apesar de muito lamentável, não dá para dizer que é uma surpresa, muitas de suas funções já tinham sido passadas para o filho e para o neto”, pontua Mauro Morelli, estrategista chefe da Davos Investimentos. Para o especialista, a troca da primeira-ministra é muito mais importante em termos econômicos do que o falecimento da monarca, que não deve repercutir na economia do Reino Unido e, menos ainda, na economia de outros países como o Brasil.
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Para Rodrigo Jolig, CoCEO e portfólio manager global da Alphatree Capital, o novo governo de Truss está com “pinta” que vai aumentar gastos para tentar controlar o aumento dos preços de energia. “Nós aqui no Brasil sabemos muito bem como foi a experiência de 2014 e que isso não vai acabar bem. Lá no Reino Unido, a confiança está extremamente baixa, com juros subindo e a moeda apanhando. Mas parece ser um problema bem específico do Reino Unido, não vejo impactos diretos sobre os ativos brasileiros”, diz.
Visto que o agora rei Charles tem pouco poder sobre a política do Reino Unido, é na nova primeira-ministra Truss que o mercado está de olho. “Em termos de política monetária e econômica, a morte da rainha não muda nada. Está na mão da Liz, que assumiu o partido conservador, tomar decisões de maior impacto”, destaca Fabio Fares, especialista em análise macro da Quantzed.
Outra coisa que está no foco do mercado é a trajetória de juros por lá. Nesta quinta-feira (8), o Banco Central Europeu (BCE) anunciou uma alta de 75 pontos-base na taxa de juros europeia. O banco central inglês já tinha se adiantado, com a taxa atualmente em 1,75% e expectativa de um ajuste de 0,5 pontos percentuais na próxima reunião.
Para Mario Goulart, analista e criador do canal do Youtube “O Analisto”, o cenário no Reino Unido preocupa mais pelo fator macroeconômico, comum a outras economias desenvolvidas como os Estados Unidos. “A Inglaterra está sofrendo com a inflação, os preços de energia estão pela hora da morte e o BC tem que lidar com isso. O BCE hoje fez o seu aumento, sinalizando que podem vir novas altas, e noos EUA, o Federal Reserve também diz que a subida dos juros não vai parar. O cenário externo preocupa um pouco”, diz./COLABOROU ABEL FERREIRA