É o segundo resultado trimestral positivo consecutivo – no terceiro trimestre do ano passado, a companhia apresentou lucrou líquido de US$ 7,8 milhões, o primeiro desde o IPO (abertura de capital) na Nyse (Bolsa de Nova York), feito em dezembro de 2021. No acumulado de 2022, a Nu Holding teve lucro ajustado de US$ 204,1 milhões.
Este resultado do quarto trimestre de 2022 pode representar um divisor de águas, já que a empresa demonstrou a rentabilidade tão aguardada pelos investidores. Quando chegou à Nyse, uma das grandes dúvidas em relação ao Nubank era se o banco digital conseguiria dar lucro para compensar o alto preço que estava sendo pago pelos papéis.
Na sua estreia na Bolsa de Nova York, a companhia foi avaliada em US$ 41,5 bilhões, mais que os valores de mercado do Itaú, Santander e Bradesco. Isto, vale lembrar, sem ter histórico consistente de lucro e rentabilidade. O valor do Nubank, até então, estava no crescimento esperado e os resultados futuros.
Os prejuízos subsequentes à abertura de capital e o cenário global de juros e inflação mais altos, que elevam a inadimplência, acabaram por minar o desempenho das ações. Somente no ano passado, a NUBR33 desvalorizou 60%. Atualmente, o valor de mercado do Nu está em US$ 20,9 bilhões, metade do que valia nos seus primeiros pregões como companhia listada. Os dados foram levantados por Einar Rivero, head comercial do TradeMap.
Mesmo com o lucro apresentado neste último balanço, os analistas enxergam que o preço pago pelos papéis segue bastante elevado. Por isso, ainda não indicam a compra. Leduc, do Itaú BBA, atualizou a recomendação para os ativos de underperform (equivalente à venda) para marketperform (neutro). “Apesar das avaliações ainda altas e das questões de longo prazo, as expectativas parecem ajustadas e reconhecemos a evolução positiva das receitas”, diz.
O mesmo fator é ressaltado pelo BTG Pactual, que vê um cenário macro difícil no Brasil em 2023. Segundo o banco, os juros dos empréstimos devem permanecer mais altos e pressionar o crescimento da carteira de crédito, além de elevar a inadimplência. A dificuldade do Nu de ganhar mercado entre o segmento de alta renda também seguem no radar. “É difícil justificar o tamanho de seu valor de mercado com base em seu mercado endereçável atual. O risco-retorno também permanece desfavorável, então permanecemos neutros”, afirmam os analistas, em relatório.
Guimarães, da XP, reconhece o momento positivo dos papéis, mas também segue cauteloso e permanece neutro em NUBR33.
O balanço
A instituição financeira chegou a 74,6 milhões de clientes, contando as operações no Brasil, Colômbia e México, o que significa um aumento de 38% em 12 meses. No período, a receita média por cliente saiu de US$ 5,6 para US$ 8,2, com um crescimento de 55% no número de depósitos, para US$ 15,8 bilhões, e de 82% do portfólio sujeito a ganho de juros (carteira de crédito), para R$ 4 bilhões.
Outro fator importante é que, pela primeira vez, a Nu Holding expôs separadamente os resultados da operação brasileira. A Nu Brasil atingiu 70,9 milhões de clientes, com lucro líquido de US$ 138 milhões, frente ao prejuízo de US$ 30 milhões registrado 12 meses antes. A margem de lucro líquida saltou de -3,8% no quarto trimestre de 2021, para 12% em igual período de 2022, enquanto o retorno sobre o patrimônio (ROE) saiu de -2% para 40%.
Para efeito de comparação, o ROE da operação brasileira do Itaú (ITUB4) ficou em 21% em 2022. Bradesco (BBDC4) e Santander (SANB11) apresentaram rentabilidades anualizadas de de 3,9% e 16,3%.
Em reação ao resultado recorde do “roxinho”, as BDRs (títulos negociados na B3, que são atrelados a empresas listadas no exterior) do Nubank saltaram 3,72% no pregão da última quarta-feira (15), primeiro após a divulgação do balanço. No acumulado de 2023, a NUBR33 acumula valorização de 36,3%, aos R$ 4,62.
“O Nubank divulgou pela primeira vez que sua operação brasileira já é rentável. Os mercados gerais devem receber bem os resultados”, afirma Pedro Leduc, analista CNPI do Itaú BBA, que viu como principal destaque do balanço o aumento de 30% da receita líquida de juros (NII), para US$ 688 milhões. “As receitas de serviço também cresceram fortemente […] e a eficiência melhorou. Essas forças compensam a fraqueza no crescimento da carteira de empréstimos pessoais.”
Os números também vieram acima do esperado pelo BTG Pactual, que diz estar surpreendido com os resultados entregues pela companhia desde o IPO. “O Nu realmente parece ter ‘desvendado’ o código do produto de cartão de crédito para clientes de baixa renda no Brasil, e provou sua capacidade de ser um produtor de baixo custo”, afirmam os analistas Eduardo Rosman, Thiago Paura, Ricardo Buchpiguel e Vitor Melo, que assinam o relatório da casa.
Matheus Guimarães, analista do setor financeiro da XP, compartilha da surpresa em relação aos resultados. “Apesar da inadimplência mais alta, seus indicadores operacionais mantiveram a tendência positiva, aumentando sua alavancagem operacional”, diz, em relatório. “Além do forte desempenho dos KPIs (indicadores), que impulsionaram a receita, a Nu conseguiu manter os custos e despesas sob controle.”