- Nesta terça-feira (1º), o economista Gustavo Pimenta assume oficialmente o posto de presidente da mineradora Vale (VALE3) para um mandato de três anos
- O nome de Pimenta para a liderança de uma das maiores empresas da Bolsa foi encarado, desde o início, com positividade. Gustavo Cruz, estrategista da RB investimentos, aponta que o agora CEO já era conhecido como alguém “extremamente responsável” com as finanças das empresas
- Pimenta inicia seu mandato com duas questões importantes no radar: a desaceleração econômica da China e as questões relacionadas ao estouro de barragens em Mariana e Brumadinho (MG)
Nesta terça-feira (1º), o economista Gustavo Pimenta assume oficialmente o posto de presidente da mineradora Vale (VALE3) para um mandato de três anos. O executivo já era vice-presidente de finanças e relações com investidores da empresa desde novembro de 2021. Antes, atuou na AES Corporation, onde foi diretor financeiro, e no Citigroup, na área de estratégia e M&A do Citigroup.
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O nome de Pimenta para a liderança de uma das maiores empresas da Bolsa foi encarado, desde o início, como um movimento positivo. Gustavo Cruz, estrategista da RB investimentos, aponta que o agora CEO da Vale já era conhecido como alguém “extremamente responsável” com as finanças das empresas, além de demonstrar preocupação com fatores ambientais, sociais e de governança (ESG).
“Ele tem um discurso de fazer economias na casa de US$ 1 bilhão por ano. Algo que, se que for entregue, obviamente vai trazer uma impressão muito favorável em termos de eficiência operacional”, afirma Cruz. Para o especialista, o novo “chairman” tem o perfil de priorizar valor e não volume, quando o assunto é a produção de commodities.
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“Se ele perceber que a demanda pelas commodities produzidas pela mineradora não está tão forte assim para o futuro, não vai sair fazendo grandes expansões e investimentos. Pode, inclusive, reduzir turnos – algo que obviamente desagrada a parte política, mas que era a visão considerada pelos investidores como a correta”, diz o estrategista da RB.
Vale lembrar que no início do ano ventilou-se a possibilidade de o Governo estar atuando para interferir na sucessão da mineradora, que tinha Eduardo Bartolomeo como CEO. Logo, a indicação de um executivo considerado técnico serviu para acalmar os ânimos dos investidores.
China e julgamento de ex-CEO da Vale no radar
Pimenta inicia seu mandato na Vale com duas questões importantes no radar. As ações da mineradora surfam um momento bastante positivo após a China anunciar um megapacote de estímulos econômicos. O país, que é o principal mercado consumidor de minério da Vale, sofre uma desaceleração econômica após o colapso do mercado imobiliário. Desde a pandemia de Covid-19, tenta reaquecer a economia com pacotes de estímulos.
O último pacote, divulgado na semana passada, é bastante agressivo e inclui incentivo à concessão de crédito imobiliário e corte nos juros de empréstimos. Com a perspectiva de que, com as iniciativas, a gigante oriental volte a crescer e demandar minério de ferro, a VALE3 saltou 5,5% nos últimos seis pregões.
Contudo, a situação chinesa deve continuar no foco, até porque o pacote econômico pode ter efeito apenas no curto prazo. Vale lembrar que apesar do impulso recente, a VALE3 cai 11,36% no ano. “Existe o desafio setorial, que é a desaceleração econômica da China e o impacto disso na demanda e preços do minério de ferro. Até para superar essa adversidade, a companhia precisa seguir entregando melhorias de produtividade e custos, temas que têm afetado a tese nos últimos anos e que serão importantes desafios para o novo CEO”, diz Ruy Hungria, analista da Empiricus Research.
O segundo ponto que deve integrar as preocupações de Pimenta são as negociações relacionadas ao estouro de barragens em Mariana e Brumadinho (MG) e o pagamento de indenizações. Também nesta terça-feira (1º), por exemplo, ocorre o julgamento de ex-executivos da Vale na CVM em função de possível responsabilidade na tragédia de Brumadinho, que matou mais de 270 pessoas.
O ex-CEO da mineradora, Fábio Schvartsman, e o ex-diretor, Gerd Peter Poppinga, são acusados de falta de diligência no caso. “O que o mercado espera é que esse novo CEO consiga fechar um acordo sobre os desafios de Mariana e Brumadinho”, afirma João Abdouni, analista da Levante Inside Corp.
Além disso, Pimenta deve endereçar os problemas em relação à concessão da linha férrea de Carajás (EFC) – o Governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está cobrando R$ 20 bilhões para permitir que a Vale continue operando a ferrovia. Isto porque o contrato, renovado no Governo Bolsonaro, teria subavaliado os ativos.
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“O mercado está acreditando que o Gustavo Pimenta consiga se alinhar com os membros dos governos federais e estadual, a ponto de conseguir fechar um acordo razoável – que ele consiga encerrar esses ruídos que não têm exatamente a ver com mineração, níquel e cobre”, afirma Abdouni, que não vê a questão da China pesando mais do que as discussões em torno das tragédias de Brumadinho e Mariana. “Sobre a desaceleração da China, não tem muito o que Pimenta possa fazer, está além do controle.”
Recomendações para Vale (VALE3)
Hungria, analista da Empiricus Research, vê um ambiente macro difícil para a Vale em função da desaceleração da China, questão que pode ser estrutural e não resolvida com esse novo pacote econômico. Ainda assim, a VALE3 é uma boa aposta para quem está focado em dividendos. O rendimento em dividendos (DY, dividend yield) deve ser de 8%.
“A Vale está na nossa série focada em dividendos porque muito do pessimismo associado à ação já parece precificado nos preços atuais. Além disso, tanto pessimismo abre espaço para surpresas positivas, como os estímulos anunciados na China nos últimos dias e, quem sabe, avanços operacionais entregues pela nova gestão”, diz Hungria.
Já Abdouni, da Levante, enxerga um exagero de pessimismo em relação à Vale (VALE3). “A situação da Vale é muito melhor do que o mercado faz crer que seja”, diz. “A morte do petróleo e do minério é decretada desde 1850 e ainda não aconteceu.”
Ele ressalta que, embora a China enfrente uma desaceleração, o crescimento econômico esperado ainda é relevante, de 5% este ano. Por isso, o analista não crê em uma demanda por minério que se torne extremamente mais baixa do que os patamares atuais. Além disso, o país ainda teria muitas cartas na manga para manter esse patamar de expansão em 5% por muitos anos.
“O que temos é uma visível guerra do Ocidente contra o Oriente. A China é o principal player do Oriente, então o mercado do Ocidente acredita que a China vai operar mal”, afirma Abdouni. “Mas o país está com uma taxa de juros de 2% e pode levar isso a zero, afrouxar as condições monetárias.”
O analista da Levante mantém recomendação de compra para VALE3, com preço-alvo de R$ 75. A projeção representa um salto de 18% em relação ao patamar da última segunda (30), de R$ 63,51. “A sensação que eu tenho é de que o futuro da Vale é mediano”, afirma Abdouni.
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