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O que o payroll, dado mais esperado pelo mercado financeiro na semana, diz para os investidores?

Informação sobre empregos nos EUA ajuda a definir qual será o corte de juros pelo banco central americano, o Fed

O que o payroll, dado mais esperado pelo mercado financeiro na semana, diz para os investidores?
Veja o que esperar da decisão do Fed após dados do Payroll (Foto: Envato Elements)

Os Estados Unidos (EUA) tiveram uma criação de 142 mil vagas de emprego em agosto, mostram dados do payroll nesta sexta-feira (6). O número ficou abaixo do esperado pelo mercado, que aguardava uma criação de 165 mil vagas de emprego. O dado era muito aguardado pelo mercado para definir qual seria o corte de juros pelo banco central americano, o Federal Reserve (Fed). No entanto, mesmo após os dados, economistas ouvidos pelo E-Investidor ainda não chegaram a um consenso.

Na visão de Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos, os dados vieram divergentes, o que preocupou o mercado. O economista lembra que, embora a geração de emprego tenha sido abaixo da esperada, o salário médio por hora veio levemente acima da expectativa.

“O payroll, que é o principal dado, teve um número bem inferior, confirmando a desaceleração rápida do mercado de trabalho nos Estados Unidos. Acredito que o Banco Central americano possivelmente vai conseguir reduzir os juros nas próximas três decisões, mesmo com um salário maior para os trabalhadores”, explica Cohen.

Ainda que ele concorde que o Fed deva reduzir juros na próxima reunião, o especialista prevê que o primeiro corte deve ser de 0,25 ponto porcentual. Segundo ele, essa medida deve ser tomada para não gerar choques na economia americana e a inflação não voltar rapidamente, pois, segundo ele, é necessário mais dados para que a equipe de Jerome Powell faça cortes mais profundos.

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“Reduzir em 0,50 ponto porcentual agora é um risco muito grande e o Fed não deve fazer isso. Pode ser que na próxima decisão isso mude, talvez com mais informações que tragam segurança para aumentar o ritmo”, argumenta Cohen.

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Números do payroll já eram esperados?

Segundo André Valério, economista sênior do Inter, o mercado de trabalho americano dá mais um indício de enfraquecimento, mas sem apontar para uma recessão. Segundo ele, a tendência é de enfraquecimento, como indicam as revisões dos resultados passados. Entre março de 2023 e março de 2024, a quantidade de empregos criados foram revistas em mais de 800 mil a menos que o divulgado inicialmente.

Ele comenta também que, no resultado de hoje, as divulgações dos últimos dois meses também foram revistas para baixo, sendo 86 mil empregos a menos que o divulgado inicialmente. “É um resultado com bastante nuances, mas os dados são em linha com um melhor equilíbrio entre oferta e demanda por emprego”, comenta Valério.

Segundo ele, a média móvel de 3 meses de adição do payroll desacelerou rapidamente nos últimos meses, de uma média de 200 mil empregos por mês para os atuais 117 mil. Para o especialista, essa é uma tendência que pode preocupar o Fed, mas não a ponto de demandar um forte estímulo via política monetária. “Sendo assim, esperamos que o Fed inicie o ciclo de cortes na próxima reunião do dia 18, cortando 25 pontos-base em cada uma das três reuniões restantes nesse ano”, diz o economista sênior do Inter.

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“O Ibovespa caiu, mas por oscilações naturais de mercado e segue na faixa histórica dos 136 mil pontos”, pontua Brayan Campos, operador de renda variável da Manchester Investimentos.

Os investidores avaliam o payroll: a despeito de ter havido menor geração de vagas de emprego em agosto ante julho nos EUA, houve avanço do salário médio. Neste sentido, tende a reforçar as apostas de queda de 0,25 ponto porcentual dos juros nos Estados Unidos a partir de setembro, dado que as condições do mercado de trabalho no país não parecem tão desfavoráveis a ponto de levar a uma recessão. Mais cedo, a precificação indicava aumento das apostas de um recuo do juro básico nos EUA de 0,50 ponto porcentual neste mês.

Campos diz que os mercados já contavam com um arrefecimento. “De certa forma, é um payroll positivo ao reforçar essa expectativa de queda, mas não necessariamente de meio ponto porcentual”, avalia Campos.

Para Silvio Campos Neto, sócio da Tendências Consultoria, os dados do mercado de trabalho americano evidenciam um enfraquecimento, mas não indicam que o setor esteja afundando. Como ressalta, a taxa de desemprego até caiu um pouco em agosto e houve avanço do ganho médio salarial. Este quadro, segundo o economista, corrobora com a ideia de corte de juros pelo Fed. Contudo, pondera que “este conjunto de dados não deixa claro se o Fed começará a queda em 0,50 ponto porcentual.”

Este comportamento mais para o negativo das bolsas internacionais tende a atrapalhar um fechamento positivo do Índice Bovespa na semana, dado que até o fechamento de ontem acumulava elevação de apenas de 0,37%. Se avançar, será o quinto ganho semanal seguido.

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Agora, as expectativas dos investidores ficam por discursos de dirigentes do Federal Reserve (Fed) nesta sexta-feira, a poucos dias da definição de política monetária americana, que será no dia 18. Mais cedo o presidente do Fed de Nova York, John Williams, adotou um tom suave, ao afirmar que “agora é apropriado baixar a taxa dos fed funds.”

Também no próximo dia 18, o Banco Central do Brasil (Bacen) divulga a sua decisão sobre a taxa Selic, que atualmente está em 10,50% ao ano. Aliás por aqui, apesar do arrefecimento do Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI) em agosto para 0,12% ante 0,83% em julho, o dado ficou acima da mediana de 0,09% das expectativas. Deste modo, tende a reforçar as preocupações com a desancoragem das expectativas.

Há quem defenda um corte de 0,50 ponto porcentual pelo Fed após o payroll

Para Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, a criação de 142 mil empregos em agosto nos EUA, abaixo das expectativas, segue validando um mercado de trabalho em desaceleração, apesar da surpresa positiva no aumento dos salários. Segundo ele, é provável que o Fed adote uma postura mais incisiva em relação aos cortes de juros.

“Embora a inflação ainda esteja acima da meta, a fraqueza do mercado de trabalho acaba sendo um sinal de que uma flexibilização monetária mais intensa é necessária. A mudança nas apostas, conforme o CME, acaba sendo uma consequência dessa divulgação de payroll que fez com que agora o mercado passe a acreditar que a maior probabilidade passa a ser o corte de 0,50 ponto porcentual na taxa”, diz Lima.

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Segundo dados da plataforma FedWatch, o mercado está dividido sobre essa questão de corte de juros. Nesta sexta-feira, a plataforma diz que 57% do mercado estima que o Fed Funds deve sair da faixa dos 5,5% a 5,25% para 5,25% a 5% ao ano, um, corte de 0,25 ponto porcentual. Já 43% do mercado estima um corte de 0,50 ponto porcentual, com o Fed Funds indo de 5,5% a 5,25% ao ano para 5% a 4,75% ao ano.

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Para José Alfaix, economista da Rio Bravo, os dados foram recebidos como um “aviso” para o Fed, que deve se atentar mais à celeridade do enfraquecimento do mercado de trabalho. Ele disse que o resultado traz alívio para o Banco Central americano, que já expôs a intenção de manter o desemprego próximo a esse intervalo. De qualquer maneira, ele observa que a interpretação do resultado foi mista entre os agentes do mercado.

“A expectativa de alguns é de que o Fed tenha uma mão mais firme na reunião do dia 18 de setembro e a de outros é de que deve ser feito gradualmente. A única unanimidade é que estamos próximos ao início do ciclo de corte de juros, sem certeza da sua intensidade”, salienta Alfaix após os dados do payroll.

(Com informações do Broadcast)