- Nas últimas semanas, o setor de frigoríficos vem sendo destaque nos noticiários com movimentações em torno da companhia de proteína animal BRF
- A concorrente Marfrig agora possui mais de 30% do capital social da BRF; a JBS também estaria entrando na disputa
- Apesar das movimentações, as recomendações para BRFS3 não são unânimes. Nível de alavancagem e custos dos grãos são pontos de atenção
O setor de frigoríficos vem sendo destaque nos noticiários com movimentações em torno da companhia de proteína animal BRF (BRFS3), especializada em suínos e aves e dona de marcas como Sadia e Perdigão.
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A primeira investida veio da Marfrig (MRFG3). Ela se tornou proprietária de 196,86 milhões de ações ordinárias da BRF, o que significa uma participação de 24,23% no capital social da concorrente. Não demorou muito para que expandisse ainda mais a exposição e chegou a uma participação de 31,66%, atitude que visa diversificar os investimentos e não pretende influenciar os rumos da BRF.
“A participação ora mencionada reflete a participação visada até o momento e esclarece que não pretende: (a) eleger membros para a administração de Companhia; (b) exercer influência sobre as atividades da Companhia; ou (c) promover alterações no controle ou na estrutura administrativa de Companhia”, explicou a Marfrig, em comunicado.
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A fatia adquirida pela empresa de alimentos está bem perto da ‘poison pill’ (pílula de veneno, em português), uma regra que define que qualquer acionista da BRF que chegue a obter uma fatia de 33,33fbps% do capital social deverá realizar uma oferta de ações com um prêmio de 40% sobre o preço atual dos papéis. O mecanismo visa dificultar que um único investidor assuma o controle da companhia.
Como resultado da movimentação, os papéis BRFS3 subiram após a Marfrig anunciar o primeiro aumento de participação. Contudo, logo surgiram rumores de que a Marfrig não seria a única interessada na BRF.
Concorrência de olho
De acordo com a coluna do jornalista Lauro Jardim em O Globo, a JBS (JBSS3) estaria planejando um contra-ataque. A empresa, dona das marcas Seara e Swift, estaria buscando parceiros para ajudar na compra ações da concorrente com o auxílio do banco BTG Pactual (BPAC11).
A operação da JBS sobre a BRF, entretanto, seria mais complexa do ponto de vista regulatório, uma vez que resultaria em uma concentração de mercado potencialmente expressiva. Por isso, a necessidade de obter parceiros na compra que pudessem fatiar o negócio.
“A JBS compraria o capital todo. Se isso acontecesse, seria um lucro bem rápido para Marfrig, que adquiriu as ações agora e provavelmente venderia com um prêmio enorme”, explica Sérgio Berruezo, analista de research da Ativa Investimentos. “Mas eu acredito que teria um problema com o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), porque ficaria Seara, Perdigão e Sadia dentro de uma mesma empresa.”
Metas da BRF
Fora os boatos em torno do interesse das concorrentes na empresa, a BRF anunciou na última sexta-feira (18) a compra do Grupo Hercosul, de alimentos para cães e gatos, por meio da subsidiária BRF Pet. A aquisição vai de encontro com os objetivos da empresa de se consolidar como um dos mais relevantes players no segmento de pet food até 2025.
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“Essa operação reforça o plano ‘Visão 2030’ da Companhia, que objetiva iniciativas em torno da inovação, sustentabilidade e crescimento, a estratégia projeta o desempenho da Firma para os próximos 10 anos, visando se tornar uma empresa global de alimentos de alto valor agregado”, ressalta Thayná Vieira, economista da Toro Investimentos.
Além da expansão no setor de alimentos para animais de estimação, a BRF pretende diversificar o portfólio e revolucionar o mercado de suínos de alto valor agregado.
Com todas essas novidades, os papéis BRFS3 acumulam uma alta de 33,3% no ano (até 21 de junho), aos R$ 29,38. Frente à expressiva valorização dos papéis, principalmente nas últimas semanas, o E-Investidor buscou recomendações para os ativos.
Visões opostas sobre ações da BRFS3
Apesar de a empresa estar aparentemente disputada, as ações da BRFS3 não são unanimidade entre especialistas. O principal questionamento não gira em torno das possíveis fusões, mas do custo dos grãos utilizados pela companhia e o nível de alavancagem (crescimento via endividamento).
Barruezo explica, por exemplo, que a Ativa Investimentos tem recomendação de compra para JBS, Marfrig e Minerva (BEEF3). Já para BRF a visão é neutra. “Das quatro empresas a BRF é que temos menos clareza sobre os resultados no médio prazo e entrega dos objetivos que a companhia vem prometendo”, afirma. “Por ser muito ligada a suínos e aves, ela tem uma exposição mais pesada aos custos dos grãos. E em uma ou duas safras, esses preços não irão cair do patamar atual, que é bastante alto.”
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O especialista vê a empresa muito perto do nível de alavancagem definido como meta da companhia, isto é, abaixo de 3x. “Hoje está em torno de 2,7x. Então quando você olha o fato de que o maior custo dela (grãos) estar elevado, sem perspectiva de melhora, e ao mesmo tempo a empresa está no nível de alavancagem que já é o máximo que pretende seguir, fica difícil de saber como ela irá cumprir o plano dela de expansão”, explica Barruezo.
Já Vieira acredita em perspectivas melhores para a BRF no longo prazo, com recomendação de compra. “Acreditamos no potencial da empresa de repassar o aumento dos custos dos grãos para os preços de suas vendas. A companhia deve se favorecer também da tendência de aumento nas vendas de produtos processados para o mercado brasileiro em conjunto com a forte demanda mundial”, explica.
Para Régis Chinchila, analista CNPI da Terra Investimentos, a recomendação também é de compra e com preço-alvo de R$ 32 a R$ 34. O especialista reconhece o risco relacionado aos resultados recentes da companhia, mas vê oportunidades com a melhora da economia brasileira.
“A BRFS3 entregou um balanço positivo no 1º trimestre de 2021, mas ainda com receita abaixo do esperado e uma alavancagem preocupante por conta da pressão nos custos, oriundo das altas constantes no preço do milho prejudicando as margens”, explica. “A expectativa de recuperação da economia brasileira, no caminho da vacinação em massa da Covid-19, continua sendo o ponto central da recomendação de longo prazo.”
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