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JBS (JBSS3) vai rastrear desmatamento na Amazônia por fornecedores indiretos

Plataforma levará cinco anos para ser totalmente implementada

JBS (JBSS3) vai rastrear desmatamento na Amazônia por fornecedores indiretos
(Foto: Ueslei Marcelino/Reuters)
  • Ao monitorar fornecedores, JBS oferece resposta a uma das mais apontadas causas para o desmatamento na Amazônia
  • JBS monitora 50 mil fornecedores diretos, mas ainda não tem método eficaz para monitorar fornecedores dos fornecedores
  • Plantas fechadas por causa da covid-19 e saída do fundo Nordea por questões ambientais contribuem para ano de 13% de desvalorização das ações da empresa

(Bloombeg) – A JBS, maior produtora de carne do mundo, decidiu dar uma resposta às crescentes críticas sobre sua abordagem ao desmatamento na Amazônia. A empresa de carne bovina está desenvolvendo uma plataforma para monitorar todos os seus fornecedores de gado na Amazônia, segundo o diretor-presidente Gilberto Tomazoni, que disse que levará cinco anos para implantar o novo sistema de rastreamento. A iniciativa aborda o principal obstáculo para conter o desmatamento ligado à pecuária: os fornecedores indiretos.

“Finalmente resolveremos a questão do monitoramento dos fornecedores de nossos fornecedores”, disse Tomazoni, em entrevista por telefone.

A JBS (JBSS3) disse que não compra gado em sua cadeia de abastecimento direto de áreas desmatadas na Amazônia, onde monitora 50.000 produtores diariamente em uma área maior que a Alemanha. Na última década, a empresa bloqueou compras de 9.000 fazendeiros devido a práticas em desacordo com sua política. Ainda assim, como todos os outros frigoríficos brasileiros, a empresa falha no rastreamento do gado em toda a sua cadeia de abastecimento. Os fornecedores indiretos incluem fazendas onde os animais jovens são criados antes de serem vendidos para operações maiores que engordam o gado e o vendem para matadouros.

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A última mudança da JBS ocorre dois meses depois que seu principal rival brasileiro, a Marfrig Global Foods (MFRG3), anunciou um plano de cinco anos para implementar seu sistema de rastreamento de abastecimento para a Amazônia.

Fracasso no rastreamento é visto como motor para desmatamento na Amazônia

O fracasso em rastrear toda a cadeia de abastecimento junto com as práticas prejudiciais de alguns fazendeiros são vistos como alguns dos principais motores do desmatamento da Amazônia, que esteve em destaque no ano passado, pois as imagens da floresta em chamas geraram indignação global. Nos últimos meses, a JBS foi acusada pelo Greenpeace, Anistia Internacional e The Bureau of Investigative Journalism de comprar gado criado em áreas desmatadas. Em julho, a Nordea Asset Management decidiu para de investir da JBS por causa de sua abordagem na Amazônia.

A JBS, junto com seus pares brasileiros Marfrig e Minerva, se comprometeu a encerrar suas ligações com o desmatamento na Amazônia em 2009, após um relatório do Greenpeace. Na última década, as empresas de carne bovina desenvolveram sistemas para monitorar todos os fornecedores diretos, mas grupos ambientais dizem que demorou muito para monitorar os indiretos.

A JBS aposta que sua nova plataforma proporcionará sigilo suficiente para convencer os fornecedores a permitir que a empresa tenha acesso a documentos que evidenciam movimentos de trânsito dos animais, normalmente considerados informações privadas. O acesso a essa documentação é fundamental para que as empresas de carne rastreiem o movimento do gado.

“Vamos sinalizar aos fornecedores de gado que temos um prazo para isso – depois de 2025, fazer parte da plataforma será uma condição para vender gado para a JBS”, disse Marcio Nappo, diretor de sustentabilidade da JBS. A expectativa da empresa é ter a plataforma pronta ainda este ano e iniciar um programa piloto de monitoramento em Mato Grosso no próximo ano.

Ações da JBS (JBSS3) acumulam queda de 13% em 2020

As ações da JBS caíram cerca de 13% este ano, apesar de a empresa registrar lucros recordes. Além das preocupações dos investidores com a Amazônia, a empresa também está sob escrutínio público, já que suas fábricas de carne dos EUA ao Brasil e Austrália enfrentaram casos de covid-19. Além disso, os investidores estão esperando pela venda dos 21% de participação do BNDES de 21% na JBS.

Mesmo assim, Tomazoni disse que o anúncio sobre a Amazônia não é uma resposta ao mercado.

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“Não estamos olhando para o público para definir a organização da equipe. Olhamos para o quadro geral, queremos construir algo real”, disse Tomazoni. “O desempenho das ações no curto prazo não atrapalha meu sono, pois estamos fazendo de tudo para garantir a sustentabilidade da empresa no longo prazo”.

JBS cria fundo de R$ 1 bilhão para desenvolvimento sustentável

O plano da JBS para combater o desmatamento na Amazônia também envolve apoiar fazendas para que cumpram as leis ambientais do Brasil. A gigante da carne também está empenhada em fornecer assistência aos agricultores para aumentar a produtividade.

A empresa criará um fundo para financiar projetos de desenvolvimento sustentável da região. A meta é arrecadar R$ 1 bilhão (US$ 182,7 milhões) até 2030, enquanto a JBS investirá R$ 250 milhões em cinco anos. Para cada contribuição de terceiros ao fundo, a JBS igualará o valor em até US$ 500 milhões até 2030.

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