- As ações da Petrobras estão oscilando bastante na Bolsa nos últimos dias, enquanto o mercado aguarda o novo Plano Estratégico da companhia para 2024 a 2028
- A expectativa é que as diretrizes de investimento da estatal sejam apresentadas na última semana de novembro, o que está fazendo analistas manterem um pé atrás com os papéis da companhia
- Aumento do capex, volta de investimentos pouco rentáveis, impacto nos dividendos; veja os principais pontos por trás do receio do mercado
Quem acompanha as ações da Petrobras (PETR3; PETR4) de perto pode ter observado os papéis oscilarem na Bolsa nos últimos dias. Nem mesmo o balanço do terceiro trimestre de 2023, divulgado na última semana com resultados sólidos e um lucro de R$ 26,7 bilhões, foi suficiente para tirar a incerteza que ronda a estatal.
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Em um mês massivamente positivo para as ações brasileiras até aqui, a PETR4 subia 5,67% até o fechamento desta sexta-feira (17), cotada a R$ 36,71. A PETR3 tinha alta 4,22%, a R$ 39,52. O Ibovespa, por sua vez, acumula uma valorização mensal de 10,28%.
Todo mês de novembro a Petrobras revisita seu Plano Estratégico, documento que estabelece as diretrizes e estratégias de investimento para os próximos cinco anos. A edição referente ao período entre 2024 e 2028, que substituirá o plano atual, deve ser conhecida nas próximas semanas – e explica o motivo de o mercado manter o pé atrás com uma das empresas que mais se valorizou no ano na Bolsa.
Analistas de investimentos têm dois receios principais, um quantitativo e outro qualitativo. O temor é que a Petrobras aumente o valor total de seus investimentos e direcione esse capital para projetos não tão rentáveis para a companhia. Um ponto que dialoga diretamente com um passado não tão distante na história da estatal em outras gestões do PT.
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“O medo do mercado é o histórico do governo, que no passado usou a Petrobras e o Plano Estratégico para fazer maus investimentos, colocando a estatal com a maior dívida de uma companhia listada no mundo na época”, destaca Vitorio Galindo, analista de investimentos CNPI e head de Análise Fundamentalista da Quantzed.
Ponto máximo
O plano estratégico vigente, de 2023-27, prevê investimentos de US$ 78 bilhões, mas fontes do mercado apontam que este montante passará para US$ 100 bilhões na diretriz de 2024-28. “Esse é o ponto máximo que eu e meus colegas esperamos de correção nesse plano. Se vier um valor maior que isso, pode sim trazer uma volatilidade maior nas ações”, diz Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos.
Mas a grande preocupação em relação a esse aumento de capex (recursos para investimentos) não é somente o valor nominal e sim para onde ele será destinado. Atualmente, 80% dos investimentos vão para a exploração e produção de petróleo, o negócio principal da companhia.
“A Petrobras tem um conhecimento muito forte em exploração e produção, principalmente em águas ultra profundas, na região do pré-sal. O mercado tende a interpretar investimentos nessa área como aqueles que continuarão trazendo retornos elevados”, explica Ricardo França, analista da Ágora Investimentos.
- Leia ainda: Quanto do risco político é real na Petrobras?
Há algum tempo, executivos da companhia dão sinais de que haverá um foco no investimento em energia renovável e transição energética. A quantidade destinada a esse ponto está no radar. “Se a Petrobras aumentar de uma maneira muito significativa os investimentos em outras áreas, isso poderia levar a uma dúvida sobre o nível de retorno que ela vai conseguir entregar com esses novos desenvolvimentos”, diz França.
A volta do investimento em refinarias também preocupa os analistas. Nos últimos anos, a companhia vendeu muitas unidades de refino, que tinham um retorno baixo – e os analistas não querem ver um passo atrás nesse quesito.
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“Gasta muito dinheiro para ser construído e historicamente foi um investimento horrível”, diz Flávio Conde, analista da Levante Ideias de Investimento, sobre as últimas experiências da estatal na construção de refinarias. “Os governos PT têm um histórico de investimentos malfeitos nesse sentido. Aquela refinaria de Pasadena, no Texas, a famosa refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco, são exemplos.”
Procurada pela reportagem, a Petrobras não respondeu até o fechamento do texto.
Dividendos em risco?
A nova política de dividendos da Petrobras, estabelecida no início deste ano, diz que a distribuição de proventos deve representar 45% do fluxo de caixa livre (FCL) da companhia. Na prática, o FCL é o que sobra da geração de caixa operacional de uma empresa após os investimentos. Isso significa que, aumentando o capex, a remuneração de investidores vai diminuir.
“É uma relação direta nesse caso. Quanto maiores os investimentos, menores os proventos pagos”, resume Ilan Arbetman, da Ativa.
Saiba mais: Dividendo menor da Petrobras (PETR4) ainda compensa o risco do investimento?
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Os dividendos da Petrobras já estão diminuindo. Como mostramos aqui, a companhia fez o maior corte na remuneração de acionistas do mundo. Os dados são do Índice Global de Dividendos da gestora britânica Janus Henderson, que trimestralmente mapeia as empresas que mais distribuem proventos na economia global. A estatal liderou este ranking em 2022.
Ainda não dá para cravar como o novo plano estratégico da Petrobras vai impactar os dividendos, nem se ele, por si só, vai tornar a ação menos atrativa do ponto de vista de remuneração de investidores. Ao menos, com as informações disponíveis até aqui.
França, da Ágora, explica que, ainda que o plano traga mesmo os US$ 100 bilhões em investimento, será preciso entender de que forma esse capex será distribuído ao longo dos cinco anos. Se a destinação for principalmente para a parte final do ciclo, a capacidade de pagamento de dividendos da estatal nos próximos dois a três anos não ficaria comprometida, diz o analista. “Nesse caso, o mercado receberia de uma maneira mais positiva.”
A perspectiva de yields (rendimentos) ainda altos é um dos principais motivos, inclusive, que fazem a Ágora manter a recomendação de compra para a PETR4. Com os resultados obtidos no terceiro trimestre de 2023, a Petrobras anunciou um pagamento de dividendos de R$ 1,34 por ação. Com isso, em termos anualizados, o dividend yield (rendimento de dividendos) da companhia está perto de 15%.
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Um sinal de que investidores não precisam sair correndo das posições.
Este também é o entendimento de Conde, da Levante. “O investidor pessoa física está muito feliz com o que a Petrobras tem pago de dividendos por trimestre, algo que nenhuma outra empresa distribui na Bolsa. Ele não tem opção melhor a ficar comprado e acredito que assim ele vai continuar”, afirma.
Uma posição diferente, diz o analista, dos investidores institucionais, que costumam antecipar qualquer risco a mais na estatal e se posicionar fora dos papéis. “O investidor profissional se antecipa muito e às vezes se antecipa exageradamente. O caso clássico é a própria Petrobras, na eleição. Um monte de gestor vendeu depois do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ser eleito e a ação é das que mais sobe na Bolsa esse ano”, ressalta.