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Ação da Petrobras (PETR4) está cara ou barata? Veja a conclusão do mercado

Papel da estatal está sempre no radar do investidor, mas analistas divergem quanto ao valor do ativo. Entenda

Ação da Petrobras (PETR4) está cara ou barata? Veja a conclusão do mercado
Plataforma de petróleo no mar. (Foto: Freepik)
  • A estatal é uma das empresas de maior peso na Bolsa brasileira.
  • Muita gente fica de fora por uma série de fatores, como medo de ingerência.
  • A petroleira tem suas operações afetadas pelo preço do petróleo.

A Petrobras (PETR3; PETR4) é uma das empresas de maior peso na Bolsa brasileira e sonho de consumo de investidores institucionais e de varejo. Mas muita gente fica de fora por uma série de fatores, como medo de ingerência política, por exemplo. Ainda assim, dado o tamanho da companhia – são quase 40 mil empregados – e o volume de proventos distribuídos a cada ano – foram R$ 87,8 bilhões em 2022 – o interesse se mantém.

A ação mais buscada da empresa, a PETR4, que é preferencial (PN), reporta alta de 18,42% nos últimos 12 meses, e a PETR3, o papel ordinário (ON), reporta alta de 15,37% nos últimos 12 meses. A primeira encerrou a sessão do dia 1º em alta de 1,09%, cotada a R$ 35,12, e a segunda em alta de 1,16%, cotada a R$ 38,28. Do lado dos investidores, há quem considere o preço do papel caro, bem como há quem considere barato.

De maneira geral, a estatal tem suas operações afetadas pelo preço do petróleo, cujo tipo Brent encerrou a sessão do dia 1º de novembro em queda de 0,46%, cotado a US$ 84,63, e o tipo WTI encerrou a sessão em queda de 0,71%, a US$80,44. Qualquer notícia acerca da commodity pode refletir no preço da ação da Petrobras e, por isso, o mercado monitora o setor diariamente.

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No dia 31 de outubro o BB Investimentos divulgou relatório destacando que aquele mês foi palco de aquisições que sinalizam que as grandes companhias globais do setor ainda entendem que o segmento deve continuar rentável e com elevada demanda.

Primeiro foi a Exxon Mobil (XOM), que adquiriu a Pioneer Natural Resources, por US$ 58 bilhões, em sua maior aquisição desde 1999. De acordo com o BB, a Pioneer é uma grande produtora de xisto e a aposta da Exxon envolve utilizar sua capacidade de escala para reduzir custos.

Depois, foi a vez da Chevron (CVX) anunciar a aquisição da Hess, por US$ 53 bilhões. Com o negócio, a Chevron terá 30% de mais de 11 bilhões de barris na Guiana, que vem se firmando como uma das regiões de maior crescimento do mundo.

Tema mal recebido

Em relação à Petrobras, o banco de investimentos destacou – acerca da proposta de mudanças no estatuto – que a companhia anunciou para 30 de novembro a votação de um conjunto de mudanças. “O tema foi mal recebido pelo mercado, com a companhia perdendo mais de R$ 30 bilhões em valor de mercado no dia”, lembrou.

Porém, no entendimento do banco a reação negativa foi superior aos impactos práticos em sua governança atual. Em se tratando da criação de reserva estatutária, após a divulgação do manual de participação para a assembleia geral extraordinária (AGE), ficou mais claro que a companhia poderá alocar até 70% do lucro líquido ajustado do ano, até o limite do capital social (R$ 205,4 bilhões).

“Assim, considerando a manutenção da política de dividendos (45% do fluxo de caixa livre) e o fato de a retenção também poder ser destinada para dividendos extraordinários, juros sobre o capital próprio (JCP) ou recompras, entendemos que as mudanças não alteram a tese da companhia ou nosso viés positivo.” O BB Investimentos tem recomendação de compra, com preço-alvo em R$ 42.

Mas a ação está cara ou barata?

De acordo com Davi Malveira, sócio responsável pelo setor de commodities da Perfin, o valuation (valor da empresa) por diferentes métricas parece barato mesmo diante da alta deste ano. A ação PETR4 negocia com desconto para sua média histórica, no entanto, estas métricas assumem um preço do petróleo Brent para o ano que vem de US$ 85, que pode ser impactado pela alta volatilidade.

Ele explica que os potenciais vetores altistas para o petróleo são a redução da oferta da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e as tensões geopolíticas com as guerras do Oriente Médio e do Leste Europeu. “Uma possível queda pode estar atrelada ao cenário de desaceleração tanto dos Estados Unidos quanto da China, que são dois dos maiores mercados globais dos derivados de petróleo”, diz.

O especialista também afirma que o resultado da divisão do valor da empresa sobre lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (EV/EBITDA) é uma das métricas mais utilizadas para as empresas de commodities, sendo que a Petrobras está negociando em nível semelhante ao das companhias junior oil (jovens petroleiras), como 3R Petroleum (RRRP3) e Petrorecôncavo (RECV3). “Porém, gerando mais caixa e pagando mais dividendo”, pontua.

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Dado o tamanho da empresa, Malveira elenca que a melhor comparação ocorre com pares internacionais: “A Petrobras negocia com desconto médio de 35% quando comparamos com Chevron, Exxon, BP, Shell e Repsol”, ressalta, acrescentando que o principal motivo do desconto está atrelado aos riscos da governança corporativa, tendo em vista que os tópicos recentes mais debatidos sobre Petrobras foram a sustentabilidade de retorno sobre os investimentos em eólica offshore e a política de reajuste de preço de derivados em linha com a paridade internacional.

A Perfin tem recomendação neutra para Petrobras, pois, “apesar de barata, existem motivos persistentes para que não ocorra expansão de múltiplo na empresa e o potencial de valorização está bastante dependente do dividendo a ser pago.”

Mercado dividido

Ruy Hungria, analista da Empiricus Research, explica que hoje a Petrobras negocia por 4x lucros, em comparação a múltiplos de 8x a 10x das grandes companhias no exterior, além de um dividend yield (rendimento de dividendos) maior também. Esse quadro resulta em um papel “descontado”.

Entretanto, há um motivo para esse desconto: o fato de o governo ser controlador e de existir a possibilidade de uma mudança drástica na companhia que faça os lucros e os dividendos desabarem. “Esta é a razão pela qual o mercado está sempre tão dividido, visto que os resultados são ótimos, os dividendos também, mas tudo pode mudar com uma canetada”, destaca.

Neste momento, a Empiricus tem recomendação neutra para as ações, já que apesar de barata na comparação com as pares, PETR4 está negociando bem acima de sua própria média de preço/lucro, o que diminui a assimetria neste momento. “Mas se o papel continuar caindo até um nível em que o risco versus retorno faça sentido, PETR4 pode ficar interessante”, afirma.

A preferência da Empiricus é pela 3R Petroleum, que apesar de ter um pouco mais de riscos operacionais, está bastante barata, além de não sofrer os mesmos riscos de interferência política.

E a governança?

Para Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, a Petrobras deveria estar na vanguarda quando o assunto é governança. No entanto, a proposta de mudança do estatuto não é algo considerado positivo pelo especialista.

Ele explica que o processo de governança da Petrobras pesa bastante na tese de investimento e a criação da reserva não mexe com os dividendos regulares, mas com os proventos extraordinários, considerado por ele como a “cereja do bolo”.

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Em relação ao preço da ação, ele ressalta que esse papel já subiu bastante e não está tão barato quanto já esteve. “Para a gente aqui, ele está bem neutro e hoje a gente acha que o preço está muito mais perto do justo do que descontado”, destaca.

Arbetman lembra que no dia 9 de novembro a Petrobras deverá divulgar o balanço referente ao terceiro trimestre de 2023 e a petroleira poderá, nesta ocasião, revisitar o guidance (orientação de investimento), possivelmente propondo um aumento no capex (despesa de capital, um movimento ligado aos investimentos) de produção.

A Ativa está posicionada em Prio (PRIO3).

Do que trata a mudança no estatuto?

A Petrobras realizará uma AGE dia 30 para votar as propostas de alteração do seu estatuto. Em nota ao mercado, a petroleira explica – sobre a reserva de capital – que esta só poderá ser constituída após a realização do payout (porcentagem do lucro líquido distribuído como dividendos) estabelecido na atual política de remuneração (45% do fluxo de caixa – capex ou fluxo de caixa livre), garantindo um dividend yield (dividendo sobre o preço da ação) para 2024.

“A reserva também não pode exceder o capital social da empresa”, destaca, acrescentando que ela terá um limite de até 70% do lucro líquido, o que, na visão dos analistas, é bastante elevado.

Tanto Arbetman quanto Malveira não veem a mudança do estatuto com bons olhos e o analista da Perfin ressalta que esse movimento criou uma flexibilidade para pagar menos dividendos extraordinários e contratar pessoas com perfil menos institucional/profissional.

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Hungria vai justamente nesta linha, indicando que o fim do veto para escolhas dos administradores também é ruim, já que abre brechas para possíveis indicações políticas de pessoas que não tenham condições técnicas de gerir uma empresa do porte da Petrobras.

Os apontamentos dos analistas levam a crer que os investidores que se mantêm à distância de PETR3 e PETR4 se pautam por cautela e por temores quanto à imprevisibilidade por parte da diretoria da estatal, bem como do governo.

PETR4

  • BTG recomenda compra, com preço-alvo em R$ 39;
  • XP Investimentos recomenda compra, com preço-alvo em R$ 36,70;
  • Genial Investimentos tem recomendação de manutenção, com preço-alvo em R$ 38;

Balanços

Vale lembrar que no segundo trimestre de 2023 a Petrobras reportou lucro líquido de R$ 28,782 bilhões, queda de 47% frente aos R$ 54,33 bilhões do segundo trimestre de 2022.

Já no primeiro trimestre de 2023 a estatal reportou lucro líquido de R$ 38,1 bilhões, ou 14,4% a menos frente ao primeiro trimestre de 2022.

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