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- A Petrobras teve uma alta de 2,4% da sua produção do segundo trimestre de 2024 na comparação com o segundo trimestre de 2023
- Analistas do mercado dizem que números vieram em linha com o esperado
- Os especialistas esperam dividendos robustos para a Petrobras, mas se dividem sobre o que o investidor deve fazer com a ação
A Petrobras (PETR3; PETR4) divulgou seu relatório de produção e vendas na noite da última segunda-feira (29). A companhia teve uma produção total de 2,69 milhões de barris diários (boed) de óleo equivalente no segundo trimestre de 2024, uma alta de 2,4% em comparação com o mesmo período do ano passado. Em relação ao primeiro trimestre de 2024, a cifra corresponde a uma queda de 2,8%. Por isso, analistas do mercado financeiro afirmam que o número representa uma diminuição no lucro da empresa, mas que os dividendos distribuídos pela petroleira devem continuar robustos.
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Na visão de Acilio Marinello, Managing Director da Essentia Consulting, o grande ponto do trimestre foi a produção de petróleo ser menor, com uma queda de 3,6% na comparação entre o segundo trimestre de 2024 e o primeiro trimestre de 2024. “Isso ocorreu devido às paradas para manutenção, algo planejado pela empresa para evitar qualquer problema com acidentes, que até poderiam ser prejudiciais ao meio ambiente”, aponta.
O especialista considera até positivo que a empresa tenha realizado essas paradas, justamente para realizar as manutenções necessárias e evitar que o pior acontecesse. Além disso, ele reforça que a manutenção também é benéfica para o campo manter uma produção estável no longo e médio prazo.
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Já Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, comenta que a estatal apresentou dados de venda e produção dentro do esperado. Ele observa que a menor produção deve ser compensada parcialmente pelo aumento do preço do petróleo Brent. No refino, o aumento das vendas e a queda das importações devem ajudar, mas os menores preços de derivados no país manterão as margens de lucratividade próximas às do primeiro trimestre de 2024.
“Acreditamos que os dados de vendas e produção, em síntese, vieram em linha com o esperado. Esperamos uma reação neutra do mercado ao relatório de hoje”, aponta Arbetman, que assina o relatório da Ativa.
Como deve ser o balanço da Petrobras?
Analistas da XP Investimentos comentam que os números de produção apontam para um resultado financeiro muito mais fraco no segundo trimestre de 2024. A corretora espera que a petroleira lucre US$ 146 milhões no segundo trimestre de 2024, uma queda de 96,7% em comparação com o mesmo período de 2023. No ano anterior, a companhia lucrou US$ 5,8 bilhões entre abril e junho.
A XP acredita que esse lucro menor deve ocorrer por causa de diversos fatores, como a menor produção e um acordo fiscal não recorrente. No fim de junho, a Petrobras fechou um acordo fiscal de R$ 45 bilhões. A companhia aderiu a um edital da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) e da Receita Federal publicado em maio, com regras para adesão à transação no contencioso tributário.
Do valor total do acordo, cerca de R$ 35 bilhões são pendências com a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) e aproximadamente R$ 10 bilhões com a Receita Federal. Em meio a esses acontecimentos, a XP espera que a Petrobras reporte um Lucro antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização (Ebitda, na sigla em inglês) entre US$ 10,7 bilhões e US$ 12,7 bilhões.
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“A Petrobras deve reportar um resultado mais fraco do que o esperado, mas ainda bom. O risco aqui é que o resultado mais recente incorpore efeitos recorrentes do primeiro trimestre de 2024 que se repetiriam no segundo trimestre de 2024”, dizem Regis Cardoso e Helena Kelm, que assinam o relatório da XP.
O que esperar dos dividendos da Petrobras?
A Petrobras teve um ano conturbado em relação aos seus dividendos. A companhia passou por forte turbulência no mercado após mudar o pagamento de proventos no balanço do quarto trimestre de 2023. Os números foram apresentados ao mercado na noite do dia 7 de março de 2024. Antes do balanço, o antigo CEO da companhia, Jean Paul Prates, afirmou que “seria necessário que a Petrobras fosse cautelosa com dividendos extraordinários”. Ele disse ainda que “os acionistas vão entender”.
As declarações repercutiram negativamente entre os investidores, com as ações da empresa recuando 5,16% no dia 28 de fevereiro. Mesmo com os sinais do ex-CEO de que os dividendos não seriam tão robustos, os analistas da XP esperavam um pagamento de US$ 3,9 bilhões em dividendos mínimos, mais um depósito de US$ 5,5 bilhões em dividendos extraordinários, totalizando US$ 9,4 bilhões em proventos.
No entanto, isso não ocorreu. A petroleira anunciou o pagamento de US$ 2,9 bilhões, cerca de 2,7% de yield. Em reais, a quantia aprovada foi de R$ 14,2 bilhões. O montante representa o pagamento mínimo de dividendos estipulado pela empresa. Em comunicado enviado ao mercado, a companhia disse que a distribuição está alinhada à Política de Remuneração aos Acionistas, aprovada em 28 de julho de 2023.
“Em caso de endividamento bruto igual ou inferior a US$ 65 bilhões, a Petrobras deverá distribuir aos seus acionistas 45% do fluxo de caixa livre”, informou. O caso repercutiu negativamente no mercado, com as ações da companhia desabando 10,57% no dia 8 de março. Diversas casas de análise cortaram a recomendação da companhia de compra para neutra. Após a reação negativa do mercado, a gestão de Prates encontrou um meio-termo e passou a pagar 50% dos dividendos extraordinários.
Ainda assim, o caso deixou o mercado receoso com a empresa, e a situação piorou com a troca de CEO. A saída de Jean Paul Prates e a entrada de Magda Chambriard também deixou o mercado apreensivo. No entanto, a executiva conseguiu acalmar os analistas ao comentar que não faria investimentos que não trouxessem retornos atrativos e que o pagamento dos dividendos ocorreria se a empresa obtivesse lucro e estivesse financeiramente saudável, como manda a lógica empresarial.
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Em meio a esses antecedentes e com base no relatório divulgado ontem, os analistas fizeram suas projeções de dividendos para a estatal no balanço do segundo trimestre de 2024. Arbetman, da Ativa, calcula que a Petrobras deve pagar R$ 1,05 por ação referente ao balanço do segundo trimestre. Se a Petrobras mantiver esse ritmo ao longo do ano, o dividend yield anualizado seria de 11,2%.
“Apesar da expectativa pela manutenção de um dividendo forte, reforçamos nossa preferência atual por outras empresas do setor de óleo e gás que disponham de menor risco político, valuation menos esticado e, assim, melhor relação risco em relação ao retorno”, explica o analista da Ativa Investimentos.
A corretora tem recomendação neutra para as ações da Petrobras com preço-alvo de R$ 44, uma potencial alta de 19,3% em comparação com o fechamento de segunda-feira (29), quando a ação encerrou o pregão a R$ 36,88. Já a XP tem recomendação de compra com preço-alvo de R$ 45,10, um provável crescimento de 22,29% das ações em relação ao fechamento de segunda-feira.
Em relatório, Regis Cardoso e Helena Kelm afirmam que esperam um pagamento de dividendos de US$ 2,7 bilhões no segundo trimestre de 2024, o que deve entregar um rendimento trimestral de 3,2%. De forma anualizada, o provento seria equivalente a 12,8%. “Notamos que esperamos um impacto menor do acordo fiscal (de R$ 3,6 bilhões) no fluxo de caixa devido a depósitos judiciais, pagamentos diferidos e outros ajustes. De fato, esperamos que o total do fluxo de caixa líquido do acordo seja de R$ 2,5 bilhões em um período de doze meses”, explicam os analistas da XP.
Marinello, da Essentia Consulting, reforça a perspectiva da XP. Ele reconhece que a empresa pode apresentar riscos para o investidor devido a interferências políticas. No entanto, ele comenta que a lei das estatais e as medidas tomadas a partir de 2016 conseguem blindar a empresa de uma forte interferência, tornando o papel da companhia atrativo para o longo prazo.
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“Apesar da volatilidade que o papel pode registrar no curto prazo, a Petrobras (PETR4) é uma empresa que traz muita lucratividade e pode entregar bons retornos em dividendos, sendo interessante para o investidor. O ideal é ter uma pequena fração da empresa na carteira”, aponta Marinello.