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Tombo do PIB: -5,46% ou -8,1%? Como diferentes projeções afetam seus investimentos

BC e FGV têm previsões distintas para a economia brasileira em 2020

Tombo do PIB: -5,46% ou -8,1%? Como diferentes projeções afetam seus investimentos
Foto: Werther Santana/Estadão
  • Nesta segunda-feira (24), o Banco Central, por meio do Boletim Focus, reduziu queda do PIB pela oitava semana seguida e agora espera retração de 5,46% em 2020. FGV tem visão mais pessimista e acredita que tombo será de 8,1%
  • FGV projeta melhora apenas no 4T20. Já o mercado vê forte recuperação a partir do 3T20
  • Especialistas afirmam que, independentemente do cenário, as oportunidades estão na bolsa de valores, mas recomendam diversificação

Enquanto o Boletim Focus, do Banco Central (BC), melhora sua projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro de 2020 pela oitava semana consecutiva, agora com retração de 5,46%, conforme divulgado nesta segunda-feira (24), a Fundação Getúlio Vargas tem uma visão mais pessimista sobre o dado. Em estudo exclusivo ao E-Investidor, a instituição aponta que a queda do PIB será mais intensa e o tombo será de 8,1% no agregado do ano.

Embora ambos acreditem que a queda do PIB no 2T20 será expressiva, na casa de 10%, com relação ao 1T20, a grande diferença entre a projeção anual do mercado e da FGV se dá pela forma como enxergam a recuperação da economia brasileira nos dois últimos trimestres do ano.

A retração esperada pelo Focus é feita com base na mediana de projeções de mais de 100 instituições financeiras, que realizam suas análises individualmente. Já o da FGV é o resultado de um levantamento do Centro de Macroeconomia Aplicada (CEMAP) da instituição.

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O E-Investidor consultou a FGV e a Ágora Investimentos para entender o que sustenta as diferentes visões sobre o PIB brasileiro de 2020 e como os investidores devem se planejar para cada cenário.

Visão da FGV

Emerson Marçal, coordenador do CEMAP da FGV, afirma que a visão mais pessimista em relação ao PIB brasileiro se dá devido à velocidade da recuperação econômica do País. Ele diz que a economia reaqueceu nos dois últimos meses do 2T20 com a injeção de recursos por meio do auxílio emergencial. “O benefício estancou a queda. Ela ainda vai ser expressiva, mas seria bem pior sem ele”.

O coordenador ressalta que ainda não se sabe por mais quanto tempo o auxílio continuará sendo pago e que o governo também não pode pagá-lo para sempre. “O País tem que ter disciplina fiscal e uma hora teremos que voltar a normalidade”, diz ele, salientando que o benefício foi necessário e positivo, mas que sua manutenção por mais um trimestre seria “brutal para a dívida pública”.

Neste contexto, Marçal pontua que há muitas dúvidas sobre os resultados do 3T20, se o mecanismo de estímulo deixar de existir. O coordenador afirma também que setores como o de turismo vai continuar sofrendo no período, o que deve frear a retomada, na sua visão. “Tudo isso me deixa cético em relação a uma recuperação mais forte já no 3T20”.

Além disso, o coordenador frisa que o risco político voltou a preocupar no Brasil com o debate sobre furar o teto de gastos e pelo fato da pandemia ainda não estar totalmente controlada. “A chave é o que vai acontecer neste período, mas esses ruídos fazem a gente acreditar que a subida será mais lenta do que as pessoas estão esperando”.

Marçal acredita que a recuperação mais forte ocorrerá a partir do 4T20. “Por isso temos uma projeção do PIB de 2020 mais fraco que a do Focus”, diz ele.

Visão do mercado

Para José Francisco Cataldo, head de research da Ágora Investimentos, a queda do PIB não deve ser tão acentuada no agregado do ano, já que, segundo ele, a recuperação está sendo mais rápida do que o esperado. Por isso, com resultados mais positivos já no 3T20, o mercado segue reduzindo a retração do PIB.

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“Os indicadores estão vindo menos ruins que o esperado e isso corrobora com essa visão”, diz Cataldo, ressaltando os dados do comércio varejista e o setor de serviços, que registraram crescimento em junho de 12% e 5%, respectivamente, em relação a maio. O segundo interrompeu uma sequência de quatro meses seguidos de queda.

Outro fator apontado pelo head da Ágora é a forte recuperação que a Bolsa apresenta. Após queda superior a 45% até seu pior momento na crise, o Ibovespa apresenta quatro meses seguidos de alta. “Apesar da desvalorização superior a 10% no agregado do ano, o índice já se recuperou bastante por causa dessa perspectiva”, afirma Cataldo.

Ou seja, mesmo com o resultado negativo do 2T20, o mercado acredita que a economia já deve reaquecer a partir do 3T20 e os últimos trimestres do ano mais positivos vão contribuir para uma queda menos acentuada do PIB. “Maio e junho já foram melhores e a tendência para os próximos meses é continuar melhorando”, comentada Cataldo.

Como planejar os investimentos nos dois cenário?

Independentemente do cenário, as recomendações são as mesmas: as oportunidades estão no mercado acionário, mas o momento exige cautela e diversificar a carteira é fundamental. Com a Selic no piso histórico, de 2% ao ano, o que diminuiu a atratividade da renda fixa, os especialistas afirmam que o investimento mais recomendado continua sendo o mercado acionário.

Cataldo defende que a retomada dos IPOs e follow-ons sustenta a B3, que deve continuar em alta mesmo que o PIB caia no ano. “O investidor tem que fazer um stock picking e escolher ações com bons fundamentos, que ainda há espaço para valorização”, diz o head da Ágora.

Apesar disso, ele lembra a importância de diversificar o portfólio para se proteger, uma vez que o cenário ainda é de queda do PIB, apesar de menor do que o esperado na sua análise. “Isso [diversificação] é ainda mais importante em momentos de incertezas como o que passamos agora”, afirma Cataldo.

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Apesar de ter uma visão assumidamente mais conservadora em relação às finanças pessoais, o coordenador do CEMAP da FGV também vê na Bolsa as melhores oportunidades. Porém, ressalta a importância da diversificação, principalmente para os pequenos investidores.

“Com o cenário de recuperação mais lento que acreditamos, o Ibovespa tende a reajustar em algum momento e, por isso, as pessoas devem se proteger ainda mais”, diz Marçal.

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