- Especialistas comentam sobre 1T23 ter sido mais turbulento, com incertezas sobre a política monetária e o rumo da inflação, o que atrapalhou o varejo
- Contudo, no 2T23, com a apresentação do arcabouço fiscal e dados econômicos positivos, que dão apoio para um possível início do corte de juros, o varejo ganhou força
- Americanas (AMER3) aparece como a pior queda do varejo na Bolsa, com um recuo de 88,19%. Já a campeã das altas foi C&A (CEAB3), que avançou 127,51%
O fim dos seis primeiros meses de 2023 chega e, com ele, os balanços de desempenho. No varejo, muita coisa rolou. Logo no início do ano, o caso das Americanas (AMER3) estremeceu o setor e colocou a companhia na posição de pior queda entre as varejistas do semestre, segundo levantamento da Quantzed, casa de análise e empresa de tecnologia e educação financeira para investidores.
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Com o passar dos meses, a economia brasileira foi se acalmando, com a apresentação do arcabouço fiscal e sinalizações de um provável início de corte de juros em agosto. Com isso, a Bolsa brasileira ganhou fôlego e chegou a ultrapassar os 120 mil pontos, o que também impulsionou empresas como C&A (CEAB3), que aparece como o destaque positivo do varejo no semestre.
“Acredito que a dinâmica mudou muito do primeiro trimestre para o segundo. No primeiro trimestre de 2023 a gente ainda tinha um estresse na curva de juros, com uma incerteza muito grande em relação ao rumo da inflação. Mas deu uma amenizada, como pudermos ver nos últimos dados divulgados”, diz Pedro Marcatto, operador de renda variável da B.Side Investimentos.
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Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados na terça-feira (27), embasam a fala do especialista. A última prévia da inflação, chamada Índice de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15), mostrou que a alta dos preços saiu de uma elevação de 0,51% em maio para uma desaceleração de 0,04% em junho. Considerando apenas os meses de junho, o resultado mensal foi o mais baixo desde 2020.
Fatores positivos para o varejo
A desaceleração na inflação, na visão de Marcatto, foi impulsionada pela queda nos preços dos combustíveis, o que favoreceu o setor de varejo. “Como é um dos principais insumos na cesta do IPCA, a gente vê um alívio na inflação. Com isso, a tendência é haver um aumento no consumo, o que favorece diretamente a receita das varejistas”, disse.
Outro ponto fica com a sinalização para um possível início de corte nos juros na economia, que já pode ser observado na curva futura, no segundo semestre de 2023. Apesar de ser ainda uma expectativa, a possível queda na Selic beneficia as varejistas, visto que muitas delas estão alavancadas – ou seja, pegam dinheiro emprestado para crescer e agora precisam devolver os empréstimos com juros.
“[Neste cenário futuro de queda de juros] as empresas que atendem a classe B e inferiores foram as mais beneficiadas. Isso porque essas varejistas têm uma elasticidade muito maior em relação à inflação do que as varejistas que atendem a classe A (ou seja, são mais afetadas pela inflação)”, explicou Marcatto.
As ações do varejo de maior queda
Mesmo com um cenário mais favorável para o varejo no final do semestre, parte das ações do setor acumula quedas expressivas no ano. Vitorio Galindo, head de Análise Fundamentalista da Quantzed, comenta sobre os fatores micros terem sido pontos-chave para as quedas no setor no primeiro semestre, mas cita que foram mais complexos do que aqueles que impulsionaram as altas, como a fraude da Americanas (AMER3). Confira abaixo os principais comentários dos especialistas sobre as ações que ficaram no vermelho até a metade de 2023.
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Americanas (AMER3)
O caso emblemático da Americanas (AMER3) chama a atenção e a coloca como o principal destaque negativo, recuando 88,19% no semestre. Na última sessão, desta quinta-feira (28), a ação estava cotada a R$ 1,16. Após reportar em fato relevante, no dia 11 de janeiro, um rombo contábil de R$ 20 bilhões em seu caixa, uma série de fatos ocorreram, desde a instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a fraude até a saída da varejista do Ibovespa.
“A empresa chegou a indicar, em junho, que houve realmente fraude em relação aos balanços passados. Além disso, a empresa já não vinha entregando bons resultados”, diz Fernandes. "Foi a maior fraude da história do País. Então é natural que seja a maior queda", completa Galindo. Segundo ele, a fraude também gerou uma desconfiança em relação ao crédito, enxugando os empréstimos, principalmente para as varejistas.
Assaí (ASAI3)
Os papéis do Assaí (ASAI3) aparecem em segundo lugar das piores quedas do varejo no primeiro semestre de 2023. Ao contrário da Americanas, que foi retirada do índice, o Assaí anda faz parte do Ibovespa. Nesses seis meses, segundo o levantamento, recuou 33,34%. Na última sessão, desta quinta-feira (28), a ação terminou o pregão cotada a R$ 13,35.
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“Muito dessa queda ocorreu por conta do ministro Haddad (Fernando Haddad, ministro da Fazenda), com a história de retirar algumas subvenções de empresas que utilizam o crédito de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), Programa de Integração Social (PIS) e Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (Cofins). Caso essa medida venha realmente a ser adotada, principalmente na reforma tributária, o Assaí será um dos maiores impactados”, explica.
Além disso, o especialista também cita a questão do follow-on (oferta subsequente de ações) por parte do acionista controlador, Casino. “Toda vez que a empresa emite novas ações isso acaba refletindo um pouco negativamente nos papéis”, completou.