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Por que o mercado desaprova nova política industrial de R$ 300 bilhões

Governo apresentou, nesta segunda-feira (22), um conjunto de medidas para levar o País à “neoindustrialização”

Por que o mercado desaprova nova política industrial de R$ 300 bilhões
Foto: Werther Santana/Estadão
  • Nesta segunda-feira (22), o Governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou a “Nova Indústria Brasil” (NIB), uma nova política industrial que busca impulsionar a indústria nacional até 2033 e reverter a chamada “desindustrialização precoce do país”
  • No primeiro triênio do programa (2024 a 2026), cerca de R$ 300 bilhões serão disponibilizados para financiamentos
  • Mercado vê reedição de políticas que não deram certo em mandatos petistas anteriores e sinalização de falta de responsabilidade com contas públicas

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou nesta segunda-feira (22) a Nova Indústria Brasil (NIB), uma nova política industrial que busca impulsionar o setor nacional até 2033 e reverter a chamada “desindustrialização precoce do País”. No primeiro triênio do programa (2024 a 2026), cerca de R$ 300 bilhões serão disponibilizados para financiamentos.

Deste montante, pelo menos 80% deve ser custeado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), ou seja, uma quantia de R$ 250 bilhões, conforme noticiado pelo Estadão. A NIB tem como pilares seis “missões”, que incluem o investimento na modernização das cadeias agroindustriais nacionais, complexo econômico industrial de saúde, infraestrutura e saneamento, transformação digital da indústria, bioeconomia e tecnologias para a defesa nacional.

Um dos objetivos é de que em 10 anos, 70% das necessidades nacionais em medicamentos, vacinas, equipamentos e dispositivos médicos sejam produzidos no Brasil. “A nova política prevê a articulação de diversos instrumentos de Estado, como linhas de crédito especiais, recursos não-reembolsáveis, ações regulatórias e de propriedade intelectual, além de uma política de obras e compras públicas, com incentivos ao conteúdo local, para estimular o setor produtivo em favor do desenvolvimento do País”, afirma o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.

Na Bolsa, o plano para a chamada “neoindustrialização” foi encarado com bastante negatividade pelos investidores. Com o anúncio das medidas, o Ibovespa aprofundou as quedas e terminou a sessão com uma desvalorização de 0,81%, aos 126.601,55 pontos.

Reedição de erros na nova política industrial

Gustavo cruz, estrategista da RB investimentos, vê o “novo” plano industrial como uma reembalagem de políticas aplicadas em mandatos petistas anteriores e que foram notadamente malsucedidas, apesar do alto investimento. “O mercado recebe mal porque ele ecoa muito com algumas políticas que não tiveram sucesso no passado e foram tentadas em diversos momentos do primeiro e segundo mandato de Lula e Dilma Rousseff”, afirma Cruz.

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O estrategista ressalta que a indústria nacional encolheu nas últimas duas décadas, em um movimento natural associado à globalização e à competição com as empresas estrangeiras. E que o protecionismo às companhias brasileiras já se provou ineficaz para superar essa lacuna.

“Quando a gente conversa com médicos e enfermeiros que atendem no Sistema Único de Saúde (SUS), eles sempre questionam o porquê dessa insistência em produtos nacionais, já que o resultado é a falta de produtos”, diz Cruz. “Para a população, tanto faz se é produzido no Brasil, na China ou em qualquer outro lugar do mundo, desde que não falte e seja de qualidade. Se é R$ 0,70 mais caro produzir no Brasil, não faz sentido insistir em produzir aqui.”

A mesma visão é compartilhada por Marcelo Boragini, sócio da Davos Investimentos. “O mercado vê com uma repetição de um modelo que a gente já sabe que não funcionou”, diz. Para o executivo, um dos equívocos claros está na exigência do “conteúdo local” nos produtos.

“É uma política que não só onera as contas públicas, como também faz com que fiquemos totalmente desconectados com as cadeias globais de valor”, afirma Boragini. “E o que o mercado agora mais teme, após esse anúncio da nova política industrial do governo, é gerar um temor de descontrole das contas públicas e, consequentemente, menor espaço para redução da taxa de juros básica aqui.”

Luccas Fiorelli, sócio da HCI Invest, aponta que a preocupação com a ruína das contas públicas cresce entre os investidores em função da apresentação desta nova política industrial. “O fiscal está se deteriorando – já vimos nesse mês de janeiro uma saída de investidor estrangeiro. Se o ministro da fazenda, Fernando Haddad, não deixar o cenário mais claro em relação ao fiscal, ou seja, de como o governo vai pagar essa conta, essa imprevisibilidade vai acabar punindo o Ibovespa”, diz.

Quem sai ganhando com a nova política industrial

Se a implicação das contas públicas causam temor, na outra ponta há setores que podem ser beneficiados pelos investimentos. De acordo com a Ágora Investimentos, o fomento ao setor agrícola pode aumentar a produtividade e os volumes de grãos para a Rumo (RAIL3), cuja recomendação da casa para os papéis é de compra.

Já o financiamento para projetos de infraestrutura provavelmente será positivo para CCR (CCRO3) e EcoRodovias (ECOR3), que também são recomendações de compra da Ágora. “Incentivos à transformação digital e à transição energética também poderiam beneficiar a WEG (WEGE3) – neutra, preço-alvo de R$ 37,00 –, enquanto as tecnologias para defesa nacional deveriam levar a novos negócios de defesa para a Embraer (EMBR3) – compra, preço-alvo de R$34,00 –”, afirma a corretora, em relatório.

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