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Por que algumas ações disparam ou despencam após o IPO na Bolsa

Humor do mercado e IPOs concorrentes podem impactar no preço das ações após estreia na B3

Por que algumas ações disparam ou despencam após o IPO na Bolsa
As BDRs permitem o acesso de pequenos investidores às grandes empresas internacionais Foto: Pixabay
  • Há quase 50 candidatas na fila de IPOs. Com o volume de ofertas, os investidores precisam ficar atentos porque alguns fatores impactam o preço das ações após estreia na B3
  • Na terça-feira (2), a rede de farmácias Pague Menos e a construtura Lavvi iniciaram operação na Bolsa, com o preço de suas ações abaixo da faixa indicativa. Desde então, ambas têm registrado desempenhos bem diferentes

A crise financeira tem provocado um boom não só de novos investidores na Bolsa brasileira, mas também de empresas que recorrem ao mercado de capitais para dar uma turbinada no fluxo de caixa. Atualmente, há quase 50 candidatas na fila de IPOs (oferta inicial de ações) aguardando aval da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Nessa toada de ofertas, os investidores precisam ficar atentos à escolha dos papéis, já que alguns fatores impactam o preço das ações logo após estreia na B3.

Na terça-feira (2), a rede de farmácias Pague Menos (PGMN3) e a construtura Lavvi (LAVV3) abriram capital na Bolsa, com o preço de suas ações abaixo da faixa indicativa prevista no IPO. Desde então, o desempenho dos papéis tem registrado movimento de alta.

A PGMN3 encerrou o pregão de estreia com a ação cotada a R$ 10,30, uma alta de 21,18% em relação aos R$ 8,50 precificados no IPO. Nesta quarta-feira (3), o papel teve oferta máxima de R$ 11,30 e encerrou o pregão em R$ 10,40, uma alta de quase 1% em relação ao dia anterior. Vale lembrar que os R$ 8,50 ficaram abaixo do piso da faixa indicativa (R$ 10,22), e a rede de farmácias conseguiu captar cerca de R$ 859 milhões com a venda de 101.054.482.

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Já a Lavvi, que atua no segmento de médio e alto e pertence ao grupo Cyrela (CYRE3) – construção civil -, teve ação negociada a R$ 9 na terça-feira (2), valor 5,26% abaixo dos R$ 9,50 precificados na estreia na Bolsa. Nesta quarta-feira (3), a ação encerrou o dia cotada a R$ 8,86, uma queda de 1,55% em relação ao dia pregão anterior. O preço de R$ 9,50 também ficou abaixo do piso da faixa indicativa (R$ 11), com captação de R$ 1,16 bilhão.

Por que papéis que estrearam no mesmo dia performam de forma diferente?

Gustavo Akamine, analista fundamentalista e gestor de recursos da Constância Investimentos, explica que no processo de IPO, os bancos que coordenam a oferta tentam chegar a um valor que satisfaça tanto os interesses dos empresários quanto o dos investidores. Contudo, ele cita dois aspectos que podem influenciar o desempenho dos papéis no momento inicial de operação na Bolsa: o humor do mercado e as ofertas concorrentes.

Tanto a rede de farmácias, como a construtora, abriram capital em um momento próximo a outros pares. No caso de Pague Menos, as concorrentes Panvel (PNVL3) e D1000 (DMVF3) realizaram ofertas de ações recentemente na Bolsa, porém, a sequência foi de queda no preço dos papéis. A Lavvi, por outro lado, tem uma concorrência muito mais expressiva, seja pela pela quantidade de empresas do setor de construção civil listadas na B3, como pelas que ainda estão por entrar.

“No caso da Lavvi, há outras 20 ofertas de incorporadoras e empresas de propriedade imobiliária em busca do IPO. Isso gera concorrência, porque os investidores não estão olhando só a oferta dela”, esclarece Akamine.

O sócio da Acqua Investimentos, Bruno Musa, lembra que após o IPO, os investidores podem fazer uma espécie de correção no preço, avaliando se, de fato, ele condiz com os múltiplos da empresa.

“Ambas tiveram que jogar o preço para baixo e o mercado entendeu que a Pague Menos ficou em um preço barato para o múltiplo dela. A Lavvi, no entanto, continuou avaliada como cara e com uma desconfiança maior por parte do mercado”, analisa Musa.

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Além disso, no caso da rede de farmácias cearense, o sócio da Acqua destaca que houve uma demanda pelos papéis “muito maior do que a oferta”, o que poderia explicar o rateio alto. “Quem reservou as ações da Pague Menos sem lock-up levou 4,7% da reserva. Enquanto na Lavvi, quem reservou sem lock-up levou mais de 94%. Portanto, a demanda da Pague Menos, frente a oferta, foi muito maior do que a da Lavvi. O mercado entendeu desta maneira e acabou jogando o preço da Lavvi para baixo e puxando o da Pague Menos para cima”, afirma Musa.

Em tempo: o Lock-up funciona como uma “trava” que impede os investidores de venderem as ações por um período pré-determinado. Quando se faz uma reserva sem lock-up, essa reserva fica condicionada a rateio. Ou seja, quando a reserva é com lock-up, não há rateio (solução para lidar com o excedente de demanda pelas ações).

“A Pague Menos teve rateio de 4,7%. Isso significa que quem reservou R$ 1 milhão foi contemplado com 4,7% porque a demanda foi muito maior do que a oferta. Na Lavvi não. Houve um rateio de 94%, ou seja, quem reservou R$ 1 milhão, levou R$ 940 mil”, compara Muda.

Os dois especialistas reforçam que investir em uma empresa na estreia do IPO não é um movimento simples. É preciso realizar uma série de análises, aprofundando-se nos fundamentos e nos números da companhia. No caso de quem não tem familiaridade com o assunto, a recomendação é sempre procurar uma orientação especializada.

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