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Queda generalizada: como foi o primeiro pregão do novo governo Lula

Ibovespa encerrou o primeiro pregão do Lula 3 com uma queda de 3,06% aos 106.376,02 pontos; só 8 ações subiram

Queda generalizada: como foi o primeiro pregão do novo governo Lula
Lula tomou posse como presidente da República pela 3ª vez no domingo (1). Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
  • O Ibovespa encerrou o primeiro pregão após a posse do presidente Lula (PT) com uma queda de 3,06% aos 106.376,02 pontos
  • Apenas 8 ações subiram no pregão, com destaque para Méliuz (CASH3), CSN (CSNA3) e Suzano (SUZB3)
  • No lado negativo, incerteza fiscal e MP que mantém isenção nos combustíveis derrubaram São Martinho (SMTO3); as estatais Petrobras (PETR4) e Banco do Brasil (BBAS3) também sofreram

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a equipe iniciaram os trabalhos com posse e discursos de ministros, encontros com lideranças internacionais e revogação de medidas adotadas na gestão anterior. Em meio à agenda cheia do Executivo, atos e declarações na primeira segunda-feira (2) de 2023 ajudaram a derrubar a bolsa de valores.

O Ibovespa encerrou o primeiro pregão do Lula 3 com uma queda de 3,06% aos 106.376,02 pontos. Apenas 8 das 90 ações que compõem o índice teórico da B3 fecharam o dia em alta: Méliuz (CASH3) liderou a ponta positiva subindo 3,39%, com investidores repercutindo acordo comercial da empresa com o banco BV; seguida de Suzano (SUZB3) e CSN (CSNA3), com altas de 1,53% e 1,17% respectivamente, na esteira da valorização do dólar frente ao real.

A moeda americana encerrou o dia cotada a R$ 5,36, com uma alta de 1,51%. Com os mercados americanos e asiáticos ainda fechados, o cenário político foi o principal catalisador do desempenho nesta segunda-feira.

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Entre as muitas sinalizações dadas pelo novo governo, a que parece estar fazendo maior preço na bolsa é o decreto editado na noite de domingo, logo após a posse: uma medida provisória para renovar por dois meses, até o dia 28 de fevereiro, a isenção dos impostos federais sobre a gasolina e o álcool combustível. Um benefício concedido pelo governo Jair Bolsonaro que retira a cobrança de PIS/Pasep e Cofins de produtos como gasolina, diesel e gás de cozinha para segurar o aumento dos preços, mas que tem um custo relevante no orçamento do País.

“No final do ano houve um rumor de que o novo governo pudesse acabar com as isenções tributárias de combustíveis, o que significaria adicionar cerca de 50, 70 basis na inflação de curto prazo, mas liberar R$ 50, R$ 60 bilhões das contas públicas”, pontua Dan Kawa, CIO da TAG Investimentos.

Entendia-se que o fim da isenção seria um sinal positivo do novo governo em direção à responsabilidade fiscal, um tema que vem sendo fortemente cobrado pelo mercado financeiro desde que a PEC de Transição foi aprovada. “A não confirmação dessa medida traz à tona novamente a discussão de qual será o caminho que esse governo vai seguir e quais vão ser as medidas que eventualmente serão adotadas para trabalhar o lado das receitas e não só da despesa. Hoje, especificamente, isso está pesando bastante”, explica Kawa.

A perspectiva de que o preço da gasolina deve continuar mais baixo pesou para que as ações da São Martinho, empresa do setor sucroenergético e ligada ao etanol, liderasse as quedas do dia no Ibovespa. A SMTO3 fechou o pregão com um tombo de 11,39% aos R$ 23,50.

Sem o espaço nas contas públicas que poderia ser liberado com o fim da isenção nos combustíveis, a fala de Lula no discurso de posse dizendo que irá revogar a “estupidez” do Teto de Gastos fez ainda mais preço, impulsionando uma alta nos juros futuros que penalizou ações ligadas à economia doméstica. Além da São Martinho, as ações que mais caíram no dia foram as do Grupo Soma (SOMA3) e da Hapvida (HAPV3), que encerraram o pregão com desvalorização de 8,78% e 8,66% respectivamente.

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“Setores mais sensíveis ao comportamento de juros caem com mais força e com queda superior ao Ibovespa, como é o caso do índice Small, índice de consumo e índice de construção”, destaca Leandro Petrokas, diretor de Research e sócio da Quantzed.

Estatais de volta ao radar

Desde que Lula foi eleito, no final de outubro, o mercado vem reprecificando as ações das duas maiores estatais brasileiras: a Petrobras (PETR3/PETR4) e o Banco do Brasil (BBAS3). As duas companhias surfaram no viés mais liberal da gestão anterior, atingindo resultados recordes que incluíram pagamento de dividendos gordos aos acionistas.

Agora, com um governo de esquerda de volta ao poder, o receio de maior intervenção na condução dessas empresas tem feito esses papéis caírem muito. Com peso grande no Ibovespa, as ações ordinárias da Petrobras (PETR3) encerraram o dia com queda de 6,67% aos R$ 26,17, enquanto as ações preferenciais (PETR4) cederam 6,45% a R$ 22,92.

Lula já vinha dando indícios de que alteraria os rumos na estatal, o que foi confirmado em decreto editado pelo presidente que retira algumas companhias do programa de privatizações, interrompendo qualquer plano de desestatização da Petrobras. No discurso de posse, o presidente ainda prometeu “resgatar o papel das instituições do Estado, bancos públicos e empresas estatais no desenvolvimento do país”.

As ações do Banco do Brasil também foram penalizadas, encerrando o pregão desta segunda com queda de 4,23%, cotadas a R$ 33,26.

“O discurso da posse do presidente sinaliza como muitos já esperavam que o motor do desenvolvimento da economia brasileira será o Estado e empresas públicas, deixando o próximo governo com uma ‘cara’ mais intervencionista”, afirma Daniel Abrahão, especialista em mercado financeiro e assessor na iHUB Investimentos. “Há quem diga inclusive que isso gerou certo desconforto sob o ministro Haddad, que tentou logo pela manhã reafirmar o compromisso com a responsabilidade fiscal”.

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Recém diplomado, Fernando Haddad fez seu primeiro pronunciamento como ministro da Fazenda, defendendo que responsabilidade fiscal e social devem andar juntas e se comprometendo a enviar um novo modelo de âncora fiscal ao Congresso Nacional ainda no primeiro semestre do ano. Mas, no meio de tantos acontecimentos, a fala parece ter passado batida, como mostramos nesta reportagem.

Na visão de Dan Kawa, da TAG, seis meses parece tempo demais tendo em vista a leitura negativa que faz o mercado sobre a política fiscal. “Traz de novo à tona as incertezas de que o País está à mercê nesse começo de mandato e não parece que o governo está com pressa de anunciar medidas do lado da recomposição de receitas”.

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