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Por que o mercado “abraçou” Bolsonaro após posse e desabou com Lula

Entenda as diferenças entre o primeiro pregão da gestão anterior e da atual

Por que o mercado “abraçou” Bolsonaro após posse e desabou com Lula
Bolsa caiu mais de 3% nesta segunda-feira (2). Foto: Amanda Perobelli/Reuters
O que este conteúdo fez por você?
  • Logo no primeiro pregão do governo Bolsonaro, Ibovespa subiu 3,56% e atingiu a máxima histórica
  • A conjuntura é o completo oposto do que ocorreu nesta segunda-feira (2), primeira sessão após a cerimônia de posse do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
  • A desconfiança em relação à responsabilidade do novo governo com as contas públicas do pesa sobre a Bolsa

O primeiro pregão após a cerimônia de posse de Jair Bolsonaro, em 2019, foi de otimismo entre os investidores. O mundo passava por um bull market e a equipe econômica do novo governo brasileiro agrada o mercado, o que se traduziu no desempenho do Ibovespa: o principal índice de ações da B3 fechou o dia 2 de janeiro em alta de 3,56% e atingiu a máxima histórica de 91.012,32 pontos.

Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil, relembra o otimismo do período. “Os investidores estavam animados com equipe econômica liberal, reformista, capitaneada por Paulo Guedes (ex-ministro da Economia de Bolsonaro). Uma esperança de dias muito melhores com a proposta apresentada pelo governo eleito e que trouxe euforia para o mercado”, diz.

Já Fábio Sobreira, analista chefe e sócio da Harami Research, ressalta que o momento era muito mais oportuno. “Tínhamos uma bolsa que já vinha subindo desde 2016, pós impeachment da Dilma, na esteira de todas as reformas feitas por Michel Temer. Hoje estamos em bear market, por causa de política, crise e recessão no exterior, guerras acontecendo e etc. Precisamos mencionar o contexto.”

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A conjuntura é o completo oposto do que ocorreu nesta segunda-feira (2), primeira sessão após a cerimônia de posse do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O Ibovespa registrou uma queda de 3,06%, aos 106.376,02 pontos – maior tombo desde novembro do ano passado. A desconfiança em relação à responsabilidade do novo governo com as contas públicas do pesa sobre a Bolsa. Lula decidiu tirar estatais como Petrobras e Correios do programa de privatizações e já sinalizou uma atuação forte junto às empresas públicas.

Essa postura de maior intervenção nas estatais derrubou as ações da Petrobras (PETR4) e o Banco do Brasil (BBAS3), que fecharam o primeiro pregão do ano em baixa de 6,45% e 4,23%, respectivamente. Além disso, os nomes escolhidos para liderarem os principais ministérios não agradaram os investidores.

Também preocupa o novo modelo de âncora fiscal que deve ser apresentada pelo atual ministro da Fazenda Fernando Haddad até o fim do primeiro semestre. A nova regra fiscal substituirá o atual teto de gastos, que limita as despesas primárias e foi classificado por Lula como uma “estupidez”.

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Soma-se a isso o fato de Haddad ter tido sua primeira derrota ao se posicionar contra a prorrogação da isenção de impostos sobre combustíveis. No final, a desoneração foi estendida por 60 dias. “Os primeiros momentos do Lula já são muito complicados. Os dois discursos deles na cerimônia de posse foram praticamente uma profissão de fé na intervenção na economia”, afirma Mario Goulart, analista de investimentos e criador do canal no Youtube ‘O Analisto’.

Segundo Goulart, as falas do líder do PT de tornar o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) um indutor da reindustrialização no Brasil é uma ideia velha, com um verniz novo. “Na prática, isso é a escolha de ‘campeões nacionais’”, diz. “O Bndes acaba sendo um subsidiador de empresas de baixa viabilidade. Estaremos dobrando a aposta na ‘nova matriz econômica’ do Governo Dilma.”

Sobreira, da Harami Research, afirma que a situação do Ibov tende a permanecer negativa enquanto perdurar o sentimento de incerteza e discursos negativos. “Não acredito que a bolsa vá subir no mês de janeiro. Estatais devem ter dificuldade de se recuperar no curto prazo”, diz.

A taxa básica de juros em 13,75% ao ano, com expectativa de continuarem em dois dígitos com o aumento do risco fiscal, deve intensificar o afastamento dos investidores da bolsa. No início do governo Bolsonaro, a taxa estava em 6,5%. “Essa saída da bolsa demora, mas está acontecendo. O cenário do primeiro mês do governo Lula é o oposto do cenário no governo Bolsonaro”, explica Sobreira. “Algumas PECs continuarão ser discutidas, medidas provisórias serão assinadas, é isso que ditará o ritmo do mercado no curto prazo.”

Sem lua de mel

Diferentemente de Bolsonaro, o presidente Lula começa o seu terceiro mandato sem passar por uma lua de mel com o mercado. Os investidores, logo nos primeiros dias, começam a precificar o possível aumento do risco-País em função de eventuais irresponsabilidades com as contas públicas.

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Vale lembrar que o ex-presidente Bolsonaro, que foi bem recebido pelos agentes financeiros após sua posse, também deu sustos nos investidores com consecutivas trocas na presidência da Petrobras, o “calote” dos precatórios” e medidas consideradas eleitoreiras, como o aumento do Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600 na véspera das eleições.

“Apesar da comunicação do governo Bolsonaro não ser a mais assertiva, houve a entrega do resultado econômico, então do ponto de vista do mercado foi positivo”, afirma Alves, da Ação Brasil. Agora, a expectativa é de que Lula também surpreenda, apesar dos sustos iniciais. “Todos torcem para que esse filme não se torne de terror ao longo dos próximos 4 anos.”

Na visão de Goulart, Bolsonaro e Lula são muito mais parecidos do que admitem ser. “O Bolsonaro foi eleito sob a égide de um pacote de reformas, um ideário mais liberal, apesar de ele, pessoalmente, não ter histórico de liberal. Nos quase 30 anos que esteve como deputado, o ex-presidente foi um cara muito mais próximo de Lula do que vendeu em campanha”, afirma.

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