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Queda de 37% na B3: um trimestre para o investidor esquecer

Primeiro trimestre de 2020 é o pior desde o início da medição do índice, em 1968

Queda de 37% na B3: um trimestre para o investidor esquecer
Foto: Renato Cerqueira/Futura Press
  • Coronavírus pesou muito, mas antes da pandemia o cenário já era de incerteza e aversão ao risco - o que prejudica as Bolsas de países emergentes em geral
  • A queda nos preços das ações da Petrobras e expectativa de adiamento das reformas macroeconômicas também contribuem com o abalo do Ibovespa
  • Fuga de dólares para o Exterior tem a ver com o envio ao Exterior dos lucros que o investidor estrangeiro teve nos últimos meses de 2019

Os investidores já contavam que o Ibovespa fecharia o trimestre em queda, mas não poderiam imaginar que esse período de 2020 entraria para a história como o pior do principal índice da B3, a Bolsa de Valores brasileira. Na terça-feira (31), o indicador encerrou os negócios aos 73.019 pontos, um recuo trimestral de 36,9%, o maior desde o início da medição, em 1968 – somente em março a retração foi de 29,9%. 

Parte da explicação para esse desempenho está na crise causada pelo novo coronavírus. Os efeitos na economia se tornaram mais sérios a partir de março, quando a doença começou a se propagar da China para a Europa e os Estados Unidos. 

Com a imposição de quarentena e o fechamento do comércio, houve uma queda muito forte na demanda, o que gerou insegurança aos mercados”, diz Henrique Esteter, da Guide Investimentos. “Em um cenário adverso, o investidor tende a focar em ativos com menor volatilidade. Mercados emergentes, como o Brasil, sentem mais o baque pois são considerados mais inseguros.”

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Antes mesmo do estouro da pandemia, porém, o cenário já acumulava outros fatores de incerteza que deixavam o investidor apreensivo e menos tolerante ao risco, como as tensões entre Estados Unidos e Irã. “Vale lembrar que este é um ano eleitoral nos EUA e não há clareza de quem irá vencer, o que também gera um fator de incerteza”, acrescenta Esteter.

Essa trajetória de aversão ao risco é bem ilustrada pela evolução do preço do ouro no período. O metal, considerado um porto seguro dos investidores em momentos de estresse no mercado financeiro, acumulou valorização de 17,90% em março e de 33,23% no trimestre. 

Reformas na geladeira e Petrobras

No ambiente doméstico, não bastassem os efeitos nocivos à economia por causa da quarentena, o coronavírus acabou aumentando o risco país. O ano começou no Brasil com a promessa de avanço na agenda das reformas macroeconômicas, mas a pandemia jogou um balde de água fria nessa expectativa.

O Congresso dificilmente vai tratar pautas de ajuste neste momento, que exige que se canalizem esforços no sentido de salvar vidas”, afirma Ricardo França, da Ágora Investimentos. “Isso acabou pesando mais sobre os ativos de risco, desencadeando um movimento de aversão a risco e saída da Bolsa.”

Outra questão que ajudou a piorar o desempenho da B3 no trimestre foi a redução do valor do petróleo, causada pela guerra de preços que Rússia e Arábia Saudita travaram em fevereiro. “O conflito fez o preço dessa commodity cair 60% e afetou as ações da Petrobras, que têm um peso substancial na composição do índice Bovespa”, diz França.

Fuga de dólares chamou a atenção

Outro dado que chamou a atenção neste mês foi a expressiva fuga de capital estrangeiro da Bolsa. Enquanto um volume de US$ 20,2 bilhões deixou o País entre fevereiro de 2019 e fevereiro deste ano, apenas em março de 2020 a saída foi de US$ 6,109 bilhões.

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O contexto de aversão ao risco justifica parte desse movimento, mas não o explica por completo. Como os meses de novembro e dezembro de 2019 foram de alta nos resultados da B3, muitos investidores estrangeiros aproveitaram para realizar lucros e enviar o dinheiro ao Exterior, o que é normal. Isso foi facilitado pelo bom momento que a Bolsa estava vivendo no final do ano.

Para o estrangeiro vender, precisa ter alguém para comprar. E nesse momento havia a contrapartida local. Então eles venderam as ações em escala de alta, sem atrapalhar o mercado e derrubar as cotações”, diz Victor Hasegawa, da Infinity Asset.

A queda foi fulminante

Nos dois primeiros meses do ano, quando a maré econômica começou a virar, ainda não havia clareza de que o coronavírus detonaria uma crise de proporções globais. Hasegawa conta que, em um primeiro momento, não houve uma fuga em massa da Bolsa porque se esperava que o abalo no Ibovespa fosse momentâneo. 

Todos estavam otimistas, achando que o índice cairia até 105 mil e voltaria a subir. Quando as bolsas mundiais começaram a cair e o Ibovespa atravessou a linha dos 100 mil pontos, os investidores resolveram reduzir a exposição da carteira ao mesmo tempo”, diz Hasegawa. “Quando alguém grita ‘fogo’, a porta fica pequena porque todo mundo quer sair. E não havia compradores para essas ações, o que tornou a queda ainda mais acentuada.”

O gestor de ações da Infinity ressalta que até a tecnologia foi responsável por potencializar o tombo da Bolsa. Como o trade é dominado por máquinas, quando uma venda maciça de ações entra no sistema, os algoritmos fazem o valor dos índices desabar. “A queda que na crise de 2008 levou 40 dias aconteceu agora em apenas uma semana”, ele comenta.

Investidor deve ter estômago, paciência e ajuda especializada

Enquanto o coronavírus mantém a economia em alerta e embaça o panorama do horizonte, a única certeza que se tem é que a volatilidade continuará intensa nos próximos meses. Quem já está na Bolsa precisa ter muita cautela nas próximas decisões.

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O mar está revolto. Investidores da B3 já perderam R$ 1,5 trilhão de patrimônio neste ano”, diz Einar Rivero, da Economática. “Tivemos uma recuperação tímida em alguns dias recentes, mas ainda não dá para ter clareza do que vem pela frente.”

 Ele pondera que o mau desempenho do último trimestre não é privilégio da B3. Na Bolsa norte-americana, por exemplo, o índice S&P500 caiu 20% no mesmo período. Trata-se da quarta maior queda desde que as medições começaram, em 1970.

Claro que ainda há boas oportunidades para quem mantiver as apostas em renda variável. Mas o investidor menos experiente precisa se cercar de bons profissionais do mercado para não cometer erros. “Fazer bons negócios é como escalar uma montanha. É uma tarefa muito fácil para quem tem preparo e está treinado”, diz ele.

 

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