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Empresas que adotam agenda ESG têm rentabilidade acima do Ibovespa

Desde a criação do ISE, em 2005, carteira ESG subiu 296%, contra 223% do total da Bolsa

Empresas que adotam agenda ESG têm rentabilidade acima do Ibovespa
Sustentabilidade (Crédito: Pixabay)
  • A adoção de uma agenda ESG traz diversos impactos positivos para uma empresa, como vantagens competitivas, melhora de reputação, maior lucratividade e melhora em seu valuation ao longo do tempo
  • Antes as métricas de avaliação de empresas usadas hoje pelo mercado consideravam apenas os aspectos financeiros, mas hoje os critérios ESG também fazem parte do filtro, pois são entendidos como complementares
  • Como o investidor comum não tem tempo, conhecimento e as informações necessárias para fazer a análise de todas essas empresas com viés ESG, a solução mais conveniente para ele é buscar um fundo de investimentos que tenha essa temática

Não é de hoje que a sigla ESG está no radar do mercado financeiro. A crescente preocupação com a sustentabilidade tem gerado reflexões sobre a função social das empresas e o papel do setor privado – incluindo o próprio mercado financeiro – na solução de desafios globais como a fome, a pobreza e as agressões ao meio-ambiente. E a pandemia do coronavírus torna a discussão ainda mais pertinente, ao revelar como ações e omissões de indivíduos ou grupos podem ter enorme impacto coletivo.

No mundo corporativo, isso se reflete em um número cada vez maior de empresas que têm se empenhado na busca de melhores práticas ambientais, sociais e de governança (que compõem a sigla em inglês ESG). Além de fazer sua parte na construção de um mundo mais ético, saudável e justo, essas companhias também conseguem resultados financeiros melhores – inclusive para os investidores.

Um estudo realizado pela Ágora Investimentos concluiu que a adoção de uma agenda ESG traz diversos impactos positivos para uma empresa, como vantagens competitivas, melhora de reputação, maior lucratividade e até uma melhora em seu valuation ao longo do tempo.

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“As empresas que fazem parte desse grupo têm vários diferenciais em relação às que não seguem esses parâmetros”, observa o superintendente de research da Ágora, José Francisco Cataldo. “Elas têm uma governança mais austera. E o próprio desempenho em Bolsa tende a ser mais positivo no longo prazo.”

Empresas com valores ESG performam melhor

De acordo com o relatório da Ágora, empresas preocupadas com questões ESG tendem a se destacar em seus nichos, já que o consumo consciente é uma tendência mundial. Além disso, constroem um bom relacionamento com o governo e a população, pois reconhecem seu papel de agentes transformadores da sociedade, sem colocar o lucro acima de tudo.

Isso não quer dizer, no entanto, que essas empresas ganhem menos dinheiro se pautando por valores sustentáveis. Ao contrário.

“Elas tendem a ter um negócio mais bem estruturado e uma qualidade superior de gestão, o que leva a um melhor desempenho sob o aspecto financeiro”, comenta Marcelo Nantes, superintendente de gestão de fundos da Bradesco Asset Management. “Com isso, também se tornam bons investimentos.”

Ele explica que, se antes as métricas de avaliação de empresas usadas hoje pelo mercado consideravam apenas os aspectos financeiros, hoje os critérios ESG também fazem parte do filtro, e em pé de igualdade. “Eles não são secundários, mas complementares à avaliação financeira direta”, afirma.

O impacto dos valores ESG na avaliação de cada empresa também é abordado pelo estudo da Ágora. “O mercado financeiro precifica positivamente as questões ESG nas ações das empresas, que merecerão um prêmio em seu valuation ao longo do tempo. E reconhece um risco adicional para as empresas que não incorporam esses conceitos”, escreve o documento.

O índice ISE se tornou uma régua importante

Uma ferramenta útil para aferir o impacto das práticas de sustentabilidade na performance de uma empresa é o ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial). Ele foi criado em 2005 para refletir o retorno médio de uma carteira teórica de ações de empresas de capital aberto listadas na B3 que incorporaram os valores ESG à sua pauta.

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Hoje, essa carteira (ISE3) é formado por papéis de 30 companhias: AES Tietê, B2W, Banco do Brasil, Bradesco, Braskem, BRF, CCR Ecorodovias, Cemig, Cielo, Copel, Duratex, EDP, Eletrobras, Engie, Fleury, Itaú Unibanco, Itaúsa, Klabin, Light, Lojas Americanas, Lojas Renner, Movida, MRV, Natura, Petrobras Distribuidora, Santander, Telefônica, Tim e Weg.

Desde a criação do índice, a carteira ISE3 apresentou rentabilidade positiva de 296%, contra 223% da carteira formada pelas ações que compõem o índice Ibovespa – uma diferença bastante considerável.

O índice serve como um referencial do mercado e um parâmetro padronizado para avaliar o desempenho dos investimentos com responsabilidade socioambiental. Além disso, agrega mais valor às empresas que compõem a carteira, justamente por explicitar que os ganhos delas são superiores que os das que não adotam práticas ESG.

“O ISE já é um benchmark importante. Não é fácil para uma empresa entrar nesse índice, que deve ganhar cada vez mais popularidade”, prevê Nantes.

Para o investidor comum, os números mostram que as ações de empresas com viés ESG são boas apostas. Mas ele não costuma ter tempo, conhecimento e as informações necessárias para fazer a análise de todas essas empresas. Por isso, a solução mais conveniente para ele é buscar um fundo de investimentos que tenha essa orientação.

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“É mais proveitoso o investidor comprar um fundo que siga essa estratégia ESG do que acompanhar cada uma dessas empresas. Os profissionais do fundo fazem a seleção das empresas para ele e sabem o melhor momento de entrar e sair dos papéis”, diz Nantes.

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No mercado brasileiro, novidades à vista

Os fundos ESG não são exatamente uma novidade: os primeiros vieram ao mundo na década de 70. Na Europa, onde surgiram os primeiros estudos, o mercado está tão maduro e engajado que os gestores que não olham para o tema acabam sendo preteridos. “Ali é uma obrigação do gestor, ele precisa se explicar ao cliente se não tiver ESG”, diz Rubens Henriques, CEO da Itaú Asset.

No Brasil, de acordo com dados da Anbima, os fundos sustentáveis representam uma fatia de 12% da indústria de fundos de ações; se considerarmos a indústria como um todo, a representatividade é de apenas 1%. O volume investido em junho era de R$ 543,4 milhões.

O Bradesco tem dois produtos com viés ESG: um fundo de renda variável criado em 2007 e outro de crédito privado, de 2011. Já o portfólio da Itaú Asset traz dois ETFs que seguem o tema ESG, um deles atrelado ao ISE e o outro, ao IGC (Índice de Governança Corporativa). Em breve, a casa lançará um fundo de gestão ativa em Bolsa, que também selecionará ações de empresas brasileiras com a mesma temática.

Na prateleira da XP, há dois produtos recentes com esse viés. Em junho, ela passou a oferecer um fundo indexado que acessa três ETFs internacionais focados em empresas ESG. No final de julho, foi a vez de um fundo de fundos que também segue estratégias ESG.

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Para Henriques, do Itaú, a adesão do investidor brasileiro ao tema ESG passa por um processo de aprendizado.

“ESG não tem a ver com doação, mas com perenidade e sustentabilidade. Esta crise despertou o ‘o quê’ e também o ‘como’. ESG é como as empresas lidam com pessoas e o valor delas. O interesse pelo assunto no Brasil ainda é pequeno, mas está crescendo”, ele acredita.

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