- Fundada em 2019, a ASA Investments é o braço de gestão de recursos do grupo fundado por Alberto Joseph Safra
- O ASA Hedge Multimercado já nasceu com um patrimônio de cerca de R$ 100 milhões, proveniente dos sócios e gestores. Até o final de março, a rentabilidade estava em 18,1% no acumulado dos últimos 12 meses
- De acordo com o gestor, materiais e commodities agrícolas são temas interessantes para os próximos anos na indústria de fundos
O ano era 2019 quando Márcio Fontes resolveu vender a Itaim Asset para a ASA Investments. A empresa é um braço de gestão de recursos do grupo fundado por Alberto Joseph Safra, com a ideia de transformar a gestora de recursos em uma espécie de Black Rock do Brasil. Na época, Fontes não sabia que pela frente teria de enfrentar um dos seus maiores desafios: a pandemia da covid-19.
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A gestora iniciou a captação do seu primeiro produto, o ASA Hedge Multimercado, em 2021. O que motivou Fontes a vender sua asset para o grupo foi a certeza de que a ASA pode potencializar recursos e estrutura.
O produto já nasceu com um patrimônio de cerca de R$ 100 milhões, proveniente dos sócios e dos gestores. Até o final de abril, registrava uma rentabilidade de 11,13% no acumulado de 12 meses.
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“Nosso projeto é, de fato, ambicioso”, diz o Chief Investment Officer (CIO) ou estrategista-chefe de investimentos da gestora. “Uma das coisas que estamos investindo bastante é em trazer excelentes gestores para dentro do grupo.”
Confira a entrevista na íntegra.
E-Investidor – Com o cenário da pandemia, quais foram os maiores desafios para a captação do fundo?
Márcio Fontes – A dificuldade de não ter o contato direto com as pessoas. Mas estamos entregando um bom retorno por meio dos novos recursos tecnológicos, que permitem conversar com a equipe e expor nosso trabalho. O fundo está aí com cinco anos e uma rentabilidade extraordinária, com certeza uma das melhores da indústria.
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E-Investidor – Quais são as tendências da indústria de fundos para este ano?
Fontes – De maneira geral, materiais e commodities agrícolas são temas interessantes para os próximos anos e que serão bem suportados. Na minha visão, fundos que têm esse foco são interessantes. Entretanto, há uma agenda macro muito bacana no mundo para os próximos 10 anos. Estamos nos tornando um mundo com estímulos fiscais. No passado, tínhamos basicamente os incentivos vindos de estímulos monetários. Os multimercados macro têm bastante a explorar dentro dessa nova realidade.
E-Investidor – Ainda há dificuldade de atrair investimento estrangeiro. O risco fiscal é uma questão que tem afastado a entrada de novos recursos?
Fontes – Essa é uma matéria sensível. Achamos que, de certa maneira, o Brasil já foi prejudicado por não fazer uma sinalização absolutamente clara em relação a sua intenção nesse plano. Apesar de estarmos vivendo um momento de baixo investimento estrangeiro na nossa dívida pública, talvez o menor ponto em muitos anos, tivemos, recentemente, um aumento no mercado de equities. Há muito espaço para aumentar caso melhoremos a nossa questão fiscal.
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Isso, de fato, vem afetando a performance dos nossos ativos. Se não fizermos uma sinalização clara no sentido de mostrar à comunidade internacional que nós temos um plano para estabilizar a nossa relação de dívida bruta contra o PIB, acho que continuaremos sofrendo com essa questão.
E-Investidor – Quais setores podem despertar interesse nos investidores estrangeiros?
Fontes – Temos um pipeline muito interessante de investimentos em licitações nos setores de infraestrutura no Brasil, como o segmento de gás, água e esgoto. Nesse setor de infraestrutura, o governo tem trabalhado bem e temos uma esteira de muita coisa que vai ser oferecida em termos de licitação nos próximos meses.
E-Investidor – O risco fiscal pode ser, também, o calcanhar de aquiles para a recuperação da economia neste ano?
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Fontes – Sem dúvidas, o risco fiscal inibe os investimentos. Esse é um fato retrator para o PIB não só deste ano, como também para os próximos anos caso a gente não faça o endereçamento dessa questão. Temos instrumentos para fazer isso, entretanto, precisamos ir em frente com eles.
Além disso, tem também uma outra questão que pode frustrar o nosso PIB de 2021: o endividamento das famílias brasileiras, que hoje está, no máximo, em mais de 50% da renda anual das pessoas. Os brasileiros pagam hoje juros em torno de 22% a 23% do que recebem mensalmente.
Todos esses fatores mostram que o nosso consumidor não tem muito espaço para surpreender para cima no gasto, mesmo com a abertura da economia.
E-Investidor – No ano passado, a Taxa Selic atingiu o seu menor nível da história. Este ano, o Copom já elevou o juro básico da economia para 3,5% ao ano. Como isso afeta a estratégia dos fundos?
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Fontes – A reforma da previdência, a reforma trabalhista e a de teto de gastos compõem um arcabouço institucional e fiscal que o Brasil conquistou. Isso faz com os juros fiquem em patamares mais baixos. Recentemente, conseguimos a independência do nosso Banco Central, o que também é crítico nesse sentido.
Estamos passando por uma situação cíclica, na qual a inflação está voltando a fatores ligados a quebra da cadeia global de produção e alguma incerteza fiscal. Esses dois pontos, na nossa visão, devem elevar os juros para 6%, segundo as estimativas da equipe econômica.
Com 6% de juros e uma inflação que deve passar um pouco abaixo de 5%, mas que no ano que vem retorna entre 3% à 4%, estamos falando de um juros real de em torno de 2,5 %. Esse é um patamar de juros real que estimula as pessoas a irem para veículos de investimento alternativo, buscando elementos que vão te dar um retorno superior ao que você obteria deixando seu dinheiro no overnight.
E-Investidor – Em uma entrevista recente você disse que tem a intenção de tornar a ASA em uma espécie de BlackRock do Brasil. Quais os desafios para alcançar a maior gestora do mundo?
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Fontes – Nosso projeto é, de fato, ambicioso e passa por alguns desafios. Uma das coisas em que estamos investindo bastante é em trazer excelentes gestores para dentro do grupo. Gestores que, eventualmente, já possuem a sua própria asset independente, mas que enxergam a ASA Investments como um potencializador em termos de recursos em termos de estrutura e, porventura, queiram se juntar a nós.
Para isso, temos que montar um plano consistente de remuneração para trazer essas pessoas, de forma que consigam ter ganhos tão grandes quanto teriam nas suas gestoras independentes, só que com a segurança de uma instituição centenária e mundial.
E-Investidor – E o que te motivou a vender a Itaim Asset para a ASA?
Fontes – Um dos desafios como gestor independente é justamente ter a musculatura para investir em equipe e recursos que, cada vez mais, aumentam a demanda e também tem a questão de você ter uma institucionalização, ou seja, um grupo que seja identificado como forte perante aos clientes e que traga a demanda pelos seus produtos.
Apesar da nossa boa performance, precisávamos realizar esse casamento, que foi celebrado com a ASA Investments e representado na figura do Alberto, nosso fundador. No sentido da institucionalização, acreditamos no investimento de ter a estrutura que temos hoje, com 30 pessoas já envolvidas no projeto de gestão do nosso principal produto que é o ASA Hedge. Isso só foi possível por meio da parceria dessa incorporação que promovemos entre a Itaim Assets e a ASA Assets, que está embaixo do grupo ASA Investments e tem outros braços além da asset.
E-Investidor – Quais são os próximos produtos no radar da gestora?
Fontes – Estamos começando nosso trabalho de venda e lançamento de produtos por meio do fundo ASA Hedge Multimercado, que já é um produto com sete anos de existência, consagrado com alta rentabilidade e tem uma equipe entrosada.
O projeto do ASA Investments em particular consolidado na gestora ASA Asset é de ser um projeto de multigestão, ou seja, temos vários produtos premium embaixo da gestora, como se fossem sub gestora, cada um com sua própria equipe. Queremos trazer essa mesma qualidade que temos na gestão do ASA Hedge em outros produtos.