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Verde Asset: “O ministro da economia escolheu a desonra”

Carta de Luis Stuhlberger e Daniel Leichsenring aponta consequências desastrosas do abandono do teto de gastos

Verde Asset: “O ministro da economia escolheu a desonra”
Foto: Iara Morselli/Estadão
  • Em outubro de 2021, o fundo de ações da Verde Asset (Verde AM Ações) registrou uma queda de 12,39%, enquanto o Ibovespa caiu 6,74% no mesmo período
  • No relatório de gestão, a casa explica que o ‘triste mês’ foi negativamente impactado pelo possível abandono do teto de gastos, que poderá trazer consequências desastrosas ao País
  • “O Teto não é um instrumento que se opõe ao gasto social. Pelo contrário. O Teto força o Congresso e o Executivo a avaliarem onde faz sentido gastar mais, garantindo que políticas populistas não venham a ser implementadas em larga escala”, ressalta Stuhlberger e Leichsenring, no documento

Em outubro de 2021, o fundo de ações da Verde Asset (Verde AM Ações) registrou uma queda de 12,39%, enquanto o Ibovespa caiu 6,74% no mesmo período. No relatório de gestão, a casa explica que o ‘triste mês’ foi negativamente impactado pelo possível abandono do teto de gastos, oficializado na PEC dos Precatórios, que poderá trazer consequências desastrosas ao País.

“A esperada recuperação econômica, que seria natural com o fim das restrições sociais causadas pela pandemia, deve ser substituída por estagnação ou recessão”, afirma a gestora. Nessa conjuntura mais nebulosa, ações de empresas sólidas, líderes em seus respectivos setores e com ótima gestão, se destacam. “Nossa carteira de ações está focada neste perfil. Além das empresas citadas acima, nossos maiores investimentos são em Suzano, Vibra (antiga BR Distribuidora) e Localiza.”

O documento ainda trouxe uma longa carta, assinada pelo famoso gestor do Fundo Verde, CEO e CIO, Luis Stuhlberger, e pelo economista-chefe da casa, Daniel Leichsenring, sobre a direção que o governo vem tomando em relação às contas públicas. Intitulada ‘Auxílio, populismo e a falácia do 10×0’, o texto afirma que o ministro da economia Paulo Guedes “escolheu a desonra” ao apoiar a gastança acima do limite fiscal.

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“Instado a se justificar, o Ministro contrapôs o Teto à Política Social e sugeriu que o primeiro é a antítese da segunda — uma tese para lá de falaciosa e que atenta contra o bom senso”, ressalta Stuhlberger e Leichsenring, na carta. “O Teto não é um instrumento que se opõe ao gasto social. Pelo contrário. O Teto força o Congresso e o Executivo a avaliarem onde faz sentido gastar mais, garantindo que políticas populistas não venham a ser implementadas em larga escala.”

A Verde Asset vê como medidas populistas aquelas tomadas para gerar um benefício momentâneo, geralmente com objetivo eleitoral, mas que são insustentáveis e trarão malefícios no longo prazo. Um exemplo trazido pelos especialistas foi o período de grave irresponsabilidade fiscal ao longo do segundo governo de Dilma Rousseff, que jogou o País na pior recessão em 120 anos, com uma queda de 7,2% do PIB entre o 4º trimestre de 2014 e o 4º trimestre de 2016.

Agora, o governo Bolsonaro seguiria na mesma direção. Com o drible na âncora fiscal, em prol da criação do novo e temporário Auxílio Brasil (substituto do Bolsa Família, que deve vigorar apenas em 2022), a economia pode entrar em um grave ciclo de destruição: mais inflação, menor crescimento e juros mais altos, levando à “necessidade” de mais gasto público, que levará à mais inflação e assim sucessivamente.

“A solução correta para o problema estrutural da extrema pobreza teria sido focalizar os gastos públicos em favor do Bolsa Família, mas o governo abandonou qualquer proposta neste sentido”, afirmam os economistas da Verde. “Pressionado pela “ala política”, o governo resolveu jogar na lata do lixo a Emenda do Teto.”

A anuência de Paulo Guedes também é um fator de extrema preocupação. Para Stuhlberger e Leichsenring, enquanto a equipe econômica perdeu importantes nomes técnicos em outubro, como Bruno Funchal e Jeferson Bittencourt, secretários do Tesouro e Orçamento e do Tesouro Nacional, a ala política ganhou um novo e importante integrante: o próprio ministro da economia.

Soluções

Para a Verde Asset, a solução correta para ajudar a população face o aumento da pobreza e do desemprego, seria estender o auxílio emergencial para o ano que vem – desde que realmente tivesse um prazo definido para acabar.

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“Se gastássemos R$ 50 bi a mais em 2022, desde que temporário e sem mexer no arcabouço fiscal, seria muito menos danoso. Não jogaríamos fora as instituições fiscais que nos custaram tanto para construir, manteríamos o Teto, e evitaríamos esse desequilíbrio geral a que assistimos agora”, afirmam os especialistas da Verde.

PEC dos Precatórios

Até às 12h43, o Ibovespa subia 1,18%, aos 106 mil pontos, com os investidores de olho na votação em segundo turno da PEC dos Precatórios. A proposta muda a regra do teto de gastos, que poderá passar a ser corrigido pela inflação em 12 meses registrada de janeiro a dezembro de cada ano. Atualmente, o total de despesas do ano anterior é corrigido pelo IPCA acumulado em 12 meses até junho.

O ‘drible’ abre um espaço fiscal de mais de R$ 90 bilhões, para custear o Auxílio Brasil. Além disso, a proposta prevê o estabelecimento de um limite anual para o pagamento de precatórios e torna possível o parcelamento dessas dívidas.

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