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Ações fakes da Tesla, Apple e Amazon são negociadas em blockchains

As versões falsas de ações foram criadas pelos projetos Mirror Protocol e Synthetix no ano passado

Ações fakes da Tesla, Apple e Amazon são negociadas em blockchains
Foto: Panxunbin/Envato Elements
  • Versões falsas de Tesla Inc., Apple Inc., Amazon.com Inc. e outras grandes ações, bem como de alguns fundos de bolsa populares, foram criadas pelos projetos Mirror Protocol e Synthetix no ano passado.
  • Os tokens e a programação que possibilitam as negociações são projetados para refletir os preços dos títulos que rastreiam, sem nenhuma compra ou venda real das verdadeiras ações e papéis envolvidos.

(Michael P. Regan, WP Bloomberg) – Há anos, os poderes de Wall Street brincam com a ideia da viabilidade de mover o mercado de ações para um blockchain, a tecnologia subjacente às criptomoedas. Os inovadores do mundo em rápida evolução das finanças descentralizadas – ou DeFi – não estão esperando para ver como essas conversas vão se desenrolar.

Em vez disso, eles criaram versões sintéticas de ações que rastreiam algumas das maiores empresas do mundo. Em essência, o ethos anti-establishment do mundo criptográfico está sendo aplicado em um fac-símile do mercado de ações.

Versões falsas de Tesla Inc., Apple Inc., Amazon.com Inc. e outras grandes ações, bem como de alguns fundos de bolsa populares, foram criadas pelos projetos Mirror Protocol e Synthetix no ano passado. Os tokens e a programação que possibilitam as negociações são projetados para refletir os preços dos títulos que rastreiam, sem nenhuma compra ou venda real das verdadeiras ações e papéis envolvidos.

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Até agora, os volumes são apenas uma pequena fração daqueles que circulam nas bolsas regulamentadas. Mas, para os entusiastas da criptografia, a vantagem potencial é enorme. As ações sintéticas se juntam a um estranho mundo novo de ativos, como arte digital e vídeos dos jogos da NBA, agora negociados em blockchains. No entanto, ao contrário da arte moderna e do universo dos tokens não fungíveis, esses instrumentos levantam questões sobre como eles podem se encaixar no mercado de ações global e no setor de corretagem governado por milhares de páginas de regras de dezenas de países.

No momento, é um caso de inovação que está muito à frente da regulamentação.

Exatamente como Do Kwon gosta. Cofundador e CEO da Terraform Labs, a empresa sul-coreana que criou o Mirror Protocol em sua blockchain Terra, Kwon se imagina como uma espécie de Robin Hood das finanças dos dias modernos – à maneira de Vlad Tenev ou Chamath Palihapitiya. A DeFi “é tão poderosa para desbloquear serviços financeiros para pessoas privadas de direitos em todo o mundo”, disse ele por e-mail, que “é melhor agir rápido e quebrar as coisas. Esperar que as estruturas regulatórias fragmentadas se cristalizem antes de inovar é contraintuitivo”.

Para Kwon e outros proponentes desses novos ativos sintéticos, evitar as várias regras e barreiras do mundo financeiro é um recurso, não um bug. Abre oportunidades para a criação de riqueza atualmente disponíveis apenas para alguns poucos afortunados, disse ele. Os usuários podem negociar os tokens anonimamente 24 horas por dia, sete dias por semana, de qualquer lugar, livres de controles de capital, regras “conheça seu cliente” impostas aos corretores e outros atritos do sistema financeiro tradicional.

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Kwon disse que o Terraform Labs não gera nenhuma receita de taxas cobradas no Mirror Protocol. Estas vão para os usuários, como um incentivo para fornecer liquidez. A empresa lucra com uma criptomoeda criada por ela, a qual tende a aumentar de valor à medida que projetos como o Mirror crescerem em popularidade.

Funcionamento das ações sintéticas

Mas, então, como funcionam essas ações sintéticas? É complicado. Simplificando bastante, sob o Mirror Protocol [Protocolo Espelho], a ideia é manter os preços das ações sintéticas – ou “espelhadas” – na estimativa da coisa real, oferecendo incentivos para que os traders arbitrem as discrepâncias de preços e gerenciem o fornecimento de tokens. Os usuários podem criar, ou “cunhar”, novos tokens quando os preços estão muito altos e destruir, ou “queimar”, tokens quando os preços estão muito baixos, aumentando ou diminuindo os preços.

Por meio desses incentivos, os “sintetizadores acompanham de perto o preço do ativo do mundo real”, disse Kwon. “Mas eles ainda são apenas tokens num blockchain que fornece exposição explícita ao preço”.

Os tokens são negociados em mercados descentralizados e automatizados, como o Uniswap e o Terraswap, que permitem aos usuários comprar e vender os ativos diretamente no blockchain – um modelo diferente de trocas criptográficas centralizadas administradas por empresas como Coinbase Global Inc. e Binance.

Até agora, os volumes de negócios provavelmente não são altos o suficiente para fazer com que os executivos da Nasdaq ou da Bolsa de Valores de Nova York percam muito o sono. De acordo com o Coinmarketcap.com, os tokens espelhados da Apple, por exemplo, têm uma capitalização de mercado de cerca de US $ 34 milhões, diante dos cerca de US $ 2,3 trilhões da ação de verdade, o que constitui cerca de 1/1.000 do tamanho da criptomoeda da moda, o Dogecoin.

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Uma comparação de preços entre várias ações espelhadas e os títulos de verdade em vários momentos durante a semana passada mostra que a diferença pode variar de um centavo a vários dólares. Por exemplo: nas negociações da tarde em 30 de junho, o preço da Mirrored Tesla no CoinMarketCap.com foi quase US $ 6 mais alto do que o nível de US $ 684 sob os quais as ações reais estavam sendo negociadas no mercado de ações.

Ainda assim, os projetos merecem atenção por parte das instituições financeiras tradicionais, dadas algumas das ambições no espaço DeFi. Como a empresa de gerenciamento de ativos digitais Arrington XRP Capital escreveu em um relatório analisando e descrevendo seu apoio ao Mirror, o objetivo da DeFi não é simplesmente melhorar a experiência do usuário com o sistema bancário, mas também desmantelá-lo completamente. Essas novas ações sintéticas, escreveu a empresa, “são um dos cavalos de Tróia mais óbvios da DeFi nos mercados”.

Uma porta-voz da Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC) e representantes da Nasdaq, a bolsa de valores para a maioria das ações que estão sendo copiadas por produtos sintéticos, não quiseram comentar.

“Como esses produtos sintéticos não são regulamentados e não são negociados numa bolsa de valores nacional, acho que a SEC iria questioná-los”, disse Joseph Saluzzi, codiretor de negociação de ações da Themis Trading, que prestou depoimento ao Congresso em questões de mercado. “De acordo com a SEC, sua missão é proteger os investidores, manter os mercados justos, ordenados e eficientes e facilitar a formação de capital. Para mim, soa como uma questão de proteção ao investidor”.

Reguladores financeiros

A Binance, a maior bolsa de criptomoedas do mundo, já chamou a atenção do regulador financeiro da Alemanha por oferecer tokens vinculados ao desempenho de ações populares dos Estados Unidos, mas lastreados em ações de verdade. A Binance pode ter violado as regras de valores mobiliários ao emitir ações tokenizadas da Tesla, MicroStrategy Inc. e Coinbase, disse a BaFin em abril.

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Os reguladores também podem começar a olhar o espaço DeFi com mais atenção após algumas explosões espetaculares nas stablecoins – moedas digitais projetadas para rastrear de perto o valor das moedas nacionais (e que os traders do Mirror usam como garantia para cunhar novos tokens). Mark Cuban, proprietário do Dallas Mavericks e investidor entusiasta e influente da DeFi, recentemente pediu regulamentações para lidar com as criptomoedas depois de perder dinheiro quando uma delas despencou a zero em valor.

O bilionário investidor em criptografia Mike Novogratz, fundador e executivo-chefe da Galaxy Digital, tweetou recentemente que os players dos mercados de DeFi podem se arrepender se não começarem a cumprir as chamadas regras de “conheça seu cliente” e anti-lavagem de dinheiro.

“Invistam numa camada de compliance agora ou paguem o preço depois”, escreveu ele. “Se quisermos que esse ecossistema cresça, temos que reconhecer que precisamos operar dentro das regras que a sociedade estabelece”.

Kwon disse que o Terraform Labs ainda não teve nenhuma conversa com reguladores nos Estados Unidos ou em qualquer outro lugar sobre ações espelhadas. A empresa também não se comunicou com bolsas como a Nasdaq ou as empresas que gerenciam os fundos de índices que foram espelhados.

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Mas para impedir que ações espelhadas e outros ativos sintéticos sejam negociados, você teria de desligar o software de código aberto subjacente que compõe o blockchain e é usado por uma base de usuários global que inclui muitos players anônimos, acrescentou ele.

“Enquanto houver crentes fervorosos no grande panorama do que é possível com a tecnologia, desligar as criptomoedas, a DeFi ou os sintetizadores será um trabalho de Sísifo”, disse ele.

Tradução de Renato Prelorentzou.

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