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Crise da Americanas (AMER3) abre oportunidade para os concorrentes, diz AGR

Ana Paula Tozzi explica como o modelo de negócios das varejistas abre brechas para "inconsistências contábeis"

Crise da Americanas (AMER3) abre oportunidade para os concorrentes, diz AGR
Fachada da Americanas. Foto: Renata Mello
  • O rombo de R$ 40 bi na Americanas deve ganhar novos capítulos, mas já faz o mercado brasileiro se questionar: como uma empresa deixou passar um buraco bilionário em seus balanços?
  • Para Ana Paula Tozzi, head da AGR Consultores, trata-se também de um problema de governança corporativa
  • Ao E-Investidor, a especialista em varejo explica como a dinâmica do modelo de negócios abre brechas para "inconsistências contábeis"

O rombo bilionário na Americanas (AMER3) virou uma batalha judicial. Na sexta-feira (13), a companhia declarou à Justiça que as “inconsistências contábeis” comunicadas ao mercado eram de R$ 40 bilhões, e não 20 bilhões. A empresa entrou com uma “medida de tutela de urgência cautelar”, ganhando 30 dias para decidir se opta por uma recuperação judicial.

Uma história que ainda deve ganhar novos capítulos, mas que faz o mercado questionar como uma empresa deixou passar um buraco de R$ 40 bilhões em seus balanços.

Para Ana Paula Tozzi, head da AGR Consultores, trata-se de um problema de governança corporativa que não é novidade entre as gigantes do varejo brasileiro. Concorrente da Americanas, a Via (VIIA3) encontrou uma fraude contábil de R$ 1,19 bilhão em 2019. O Carrefour Brasil (CRFB3) também passou por algo parecido em 2010, quando detectou um rombo de R$ 1,2 bilhão.

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“É um problema de governança, de controles internos”, destaca Tozzi. “Não se pode subestimar a complexidade da governança das operações de varejo, nem minimizar a importância das auditorias internas e externas.”

A especialista explica que a dinâmica de compra, venda e distribuição dos produtos envolve varejistas, fornecedores e bancos; e colocar essa estrutura de financiamento nos balanços corporativos é o grande desafio. “É preciso ter um controle muito bem feito para evitar desequilíbrio no balanço. A partir daí começa uma briga de como isso vai ser lançado, porque tem tudo a ver com a remuneração variável dos executivos”, explica a head da AGR.

Nunca vimos uma ocorrência na ordem de grandeza que está havendo na Americanas

O que está acontecendo com a Americanas acende uma luz vermelha no setor varejista. Se há um lado positivo nesta história, é a forma como as outras companhias serão obrigadas a fortalecer suas estruturas de governança.

Um movimento que foi visto já na semana passada, quando investidores começaram a cobrar mais informações das varejistas. A Magazine Luiza, por exemplo, foi abrindo suas informações e conseguiu encerrar a semana como a maior alta do Ibovespa, como contamos nesta reportagem. 

“Para os concorrentes, há uma oportunidade com os fornecedores que trabalham para a Americanas, porque no momento zero todas as negociações com a companhia serão congeladas. O fornecedor vai ter que continuar distribuindo os volumes que eram direcionados para a empresa”, acrescenta Tozzi.

Ao E-Investidor, a especialista em varejo falou sobre o caso Americanas e possíveis repercussões. Confira:

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E-Investidor – Problemas nos balanços, como o caso Americanas, não são novidades no varejo. Por que isso acontece?

Ana Paula Tozzi – Para entender como os problemas acontecem é preciso explicar a dinâmica. Os varejos são os grandes canais de distribuição da indústria. Existem diversas políticas e estruturas de compra, então o produto vira apenas um detalhe. A estrutura de financiamento pode ser feita por um intermediário, como um banco, ou diretamente com os fornecedores. E aí começa a discussão: como contabilizar as verbas, os contratos etc.

É preciso ter um controle muito bem feito de modo que não gere desequilíbrio nos balanços. A partir daí começa uma briga de como isso vai ser lançado, porque tem tudo a ver com a remuneração variável dos executivos, baseadas em geração de EBITDA, prazo médio de compra e venda, receita líquida. A contabilização de todos esses tipos de variáveis, na governança de uma empresa, é onde começa o problema.

As ocorrências acontecem pela dificuldade de colocar todas essas variáveis nos balanços financeiros?

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Tozzi – Eu nem falaria na ingenuidade sobre “dificuldade”. É nessa negociação com o fornecedor que os varejos têm o seu diferencial competitivo, e existem diversos modelos de negócio no mercado. Mas cada uma dessas companhias precisa ter sobre o seu controle de governança, gestão de risco e auditorias internas e externas. Ou seja, o controle das estruturas que foram desenhadas e suas consequências.

Então o problema da Americanas é uma questão de governança corporativa?

Tozzi – É um problema de governança, de controles internos. Quando alguém fala que houve uma fraude, não é uma fraude simples. Para isso acontecer tem que envolver diversas áreas, porque não é uma única pessoa que faz esse tipo de contrato. Não é simples de fraudar. Não se pode subestimar a complexidade da governança das operações de varejo, nem minimizar a importância das auditorias internas e externas.

De que forma esse processo pode impactar no modelo de negócios das outras varejistas brasileiras?

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Tozzi – Para os concorrentes, há uma oportunidade com os fornecedores que trabalham para a Americanas, porque neste primeiro momento todas as negociações com a companhia vão ser congeladas. O fornecedor vai ter que continuar distribuindo os volumes que eram direcionados para a empresa aos demais.

Por outro lado, essa história também acende uma luz vermelha para todo o mercado. É igual quando há uma invasão hacker em uma operação; todo mundo para e olha para a própria segurança. É um efeito dominó, todo o varejo vai começar a pensar se tem algum tipo de exposição nesse sentido.

Qual o caminho para a reestruturação da Americanas?

Tozzi – Temos uma expectativa para uma certa mudança cultural do grupo, conhecido no mercado pela dificuldade de negociar, pelos prazos ruins. É uma empresa conhecida pela agressividade dos executivos em busca dos indicadores de performance, para que eles possam fazer os seus bônus.

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Eles precisam pensar o que na cultura e modus operandis da empresa os trouxe até aqui. Também precisam entender como chegaram nesse rombo e o que isso reflete do formato de remuneração variável, de avaliação de performance, de governança da empresa. Nunca vimos uma ocorrência na ordem de grandeza que está havendo na Americanas. E a questão disso vir de mais de 10 anos é surpreendente. O cerne da questão é tentar entender de onde vem esse tipo de tomada de decisão e porque isso se mantém assim há tanto tempo.

A Americanas conseguiu na Justiça um prazo de 30 dias para avaliar se solicita uma recuperação judicial (RJ). Qual a sua leitura?

Tozzi – As etapas que estão acontecendo são muito constrangedoras. O Sergio Rial permanecer apenas dez dias no cargo, o valor de R$ 20 bilhões e poucos dias depois um pedido de RJ. É ruim e está trazendo uma desconfiança para a cadeia de suprimentos e para o relacionamento com o mercado financeiro. A Americanas pediu a RJ com uma finalidade de renegociação com os bancos. Entendo que eles estão em busca da reestruturação da dívida, mas foi tudo muito rápido.

Isso torna o processo extremamente difícil para fornecedores e os bancos. Isso vai criar uma corrida nas instituições financeiras para executarem suas dívidas de curto prazo e, definitivamente, não é algo positivo. Para o varejo, a situação traz novamente uma insegurança e uma desconfiança dos investidores com relação às operações e a transparência dos varejistas com seus números e seus dados.

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