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Americanas (AMER3): o que a recuperação judicial sinalizaria ao investidor?

Americanas declarou dívidas de R$ 40 bilhões e ganhou prazo de 30 dias para decidir por recuperação judicial

Americanas (AMER3): o que a recuperação judicial sinalizaria ao investidor?
Americanas identificou inconsistência contábil de R$ 20 bi. (Crédito: Divulgação)
  • Nesta sexta-feira (13), as Americanas declararam dívidas de R$ 40 bilhões na Justiça e entraram com uma "medida de tutela de urgência cautelar"
  • Essa medida suspende a possibilidade de um bloqueio, sequestro ou penhora de bens da empresa, assim como adia a obrigação de pagamento de dívidas até que um pedido de recuperação judicial seja feito
  • Mario Goulart, analista de investimentos e criador do canal no Youtube 'O Analisto', vê a informação como um balde de água fria em quem ainda ansiava por uma retomada no curto prazo

Empossados há dez dias, o CEO das Americanas (AMER3), Sérgio Rial, e o CFO, André Covre, renunciaram aos cargos na quarta-feira (11) após a descoberta de “inconsistências contábeis” de R$ 20 bilhões nos balanços da empresa. No dia seguinte, quinta-feira (12), as ações da varejista sofreram uma queda histórica de 77%.

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu 3 processos para apurar o rombo, investidores minoritários já procuram uma forma de processar a empresa. Confira a cobertura completa do caso.

Agora, o caso ganhou um novo capítulo. Nesta sexta-feira (13), as Americanas declararam dívidas de R$ 40 bilhões na Justiça e entraram com uma “medida de tutela de urgência cautelar”, segundo informações publicadas pela coluna do jornalista Lauro Jardim, de O Globo, e confirmadas pelo Broadcast/Estadão. Entenda nesta matéria por que as ações da empresa subiram 50% nesta sexta-feira.

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Essa medida suspende a possibilidade de um bloqueio, sequestro ou penhora de bens da empresa, assim como adia a obrigação de pagamento de dívidas até que um pedido de recuperação judicial seja feito. A decisão do juiz da 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, Paulo Assed, teria dado ainda um prazo de 30 dias para que a empresa peça a recuperação judicial, se avaliar ser este o caso.

No pedido à Justiça, a Americanas teria explicado que “as inconsistências contábeis exigirão reajustes nos lançamentos da companhia, o que poderá impactar nos resultados finais divulgados nos respectivos exercícios anteriores, com alteração do grau de endividamento da empresa”.

Por isso, a descoberta do rombo bilionário inicial acarretaria “no vencimento antecipado e imediato de dívidas em montante aproximado de R$ 40 bilhões”.

Mais cedo, nesta sexta-feira, relatório do BTG Pactual já adiantava que o valor de R$ 20 bi, divulgado inicialmente pela Americanas, parecia ser um número preliminar.

O que acontece agora?

Flávio Conde, analista de ações da Levante Ideias de Investimento, ressalta que, se confirmada, a notícia é péssima. Para frente, a expectativa é que os investidores assistam à varejista “minguar” de tamanho.

“Entendo essa decisão como uma maneira de proteger os bens da companhia. Entretanto, para o mercado é muito ruim, porque não só as dívidas bancárias e debêntures serão adiadas, como a companhia vai entrar em um ritmo muito mais lento”, afirma Conde.

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Uma das consequências esperadas é o adiamento do pagamento aos fornecedores, que tenderão a não renovar vendas com a varejista. “Eu esperava que o grupo da 3G Capital já tivesse se pronunciado, dito que entraria com algum capital de R$ 4 ou R$ 5 bilhões para ajudar a companhia. Porém, ninguém é obrigado a fazer”, afirma Conde. “Para as ações em bolsa, será uma queda muito forte na segunda-feira (16)”.

Mario Goulart, analista de investimentos e criador do canal no Youtube ‘O Analisto’, vê a informação como um balde de água fria em quem ainda ansiava por uma retomada no curto prazo. “O que vai acontecer é que a empresa vai continuar operando com volatilidade, sem definição, como a maioria das empresas que entra em recuperação judicial.”

Já para Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos, o que está acontecendo com as Americanas é uma prova de que os investidores, em especial os minoritários, estão longe de ter todas as informações necessárias para tomar uma decisão.

Ter cautela e diversificação na carteira é uma das saídas para não ficar exposto ao “risco da ruína”, ou seja, amargar um grande prejuízo em função de um único ativo. Outro ponto, levantado por Alves, é que o “cisne negro” da Americanas deve respingar sobre outras companhias do setor.

“Fica a pergunta também para o mercado: quais outras empresas estão na mesma situação ou em situação parecia que Americanas? Isso sem dúvida vai ser questionado nos próximos meses”, diz Alves.

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Para o especialista da Ação Brasil Investimentos, a perspectiva é que o episódio faça com que o crédito fique mais escasso e que os investidores aumentem a desconfiança, principalmente com as empresas de varejo. “Até porque um detalhe no balanço pode transformar uma empresa queridinha dos gestores em um desastre financeiro do dia para a noite”, diz Alves.

O cenário complexo é reforçado por André Damasio, líder de renda variável da WIT Invest. Na visão dele, só o fato de uma recuperação judicial ser citada provoca receio no mercado e dificilmente os papéis responderam positivamente nos próximos dias. “Sabemos que a Americanas pertence a um grupo grande, capitalizado e que é de confiança por parte dos bancos. Mas eu acredito que nas próximas semanas esse papel não vá voltar a subir tanto, mas ele se mantenha nesse patamar”, afirma Damasio.

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