Banco do Brasil traça plano para voltar pagar dividendos acima de 10% ao ano; veja detalhes (Foto: Adobe Stock)
O Banco do Brasil (BBAS3) apresentou um plano para recuperar rentabilidade em 2026 e reconquistar a confiança dos investidores, após queda nos lucros, disparada das Provisões para Devedores Duvidosos (PDD) e redução no pagamento de dividendos. A estratégia do banco estatal inclui foco em clientes de alta renda, expansão digital com 10 mil novas contratações e uso de garantias no agronegócio. Analistas ouvidos pelos E-Investidor avaliam o movimento como positivo, mas alertam que o retorno em dividendos polpudos, de dois dígitos, pode demorar.
Para o balanço do terceiro trimestre de 2025, que será divulgado em 12 de novembro, a presidente do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros, afirmou durante evento com investidores que inadimplência do agronegócio continua resiliente. A executiva, no entanto, destacou a expectativa de melhora a partir do quarto trimestre, com o arrefecimento da inadimplência e a redução das Provisões para Devedores Duvidosos (PDD).
A projeção para o próximo balanço surge após a inadimplência do agronegócio no Banco do Brasil saltar de 1,32% no segundo trimestre de 2024 para 3,49% no mesmo período de 2025. Esse aumento puxou a alta da inadimplência geral do banco, que passou de 3% no segundo trimestre de 2024 para 4,21% no segundo trimestre deste ano.
Com o agravamento da inadimplência, a companhia teve uma disparada anual de 103,8% nas Provisões para Devedores Duvidosos (PDD), que passaram de R$ 7,8 bilhões no segundo trimestre de 2024 para R$ 15,9 bilhões no mesmo período de 2025. Esse dinheiro é destinado a cobrir os calotes dos clientes. A cifra causou uma redução de 60% no lucro líquido do Banco do Brasil, que encerrou o segundo trimestre em R$ 3,8 bilhões.
Para resolver esse problema do agronegócio, o banco anunciou algumas medidas a serem adotadas já nos próximos meses. O vice-presidente de Controles Internos e Gestão de Riscos do BB, Felipe Prince, afirmou que o BB aumentou a exigência de garantias reais em imóveis da Safra 2024 e 2025 de 31% para 60% na safra 2025 e 2026. A ideia da empresa é mitigar as perdas em caso de calotes.
Na visão de Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, essa decisão é fundamental para trazer uma proteção para a empresa. “O banco já vinha substituindo garantias por opções mais robustas, como alienação fiduciária, essa nova meta é crucial para continuar nesse movimento, sobretudo diante dos problemas observados na atual safra”, explica Arbetman.
Já George Sales, especialista em mercado financeiro na Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), pondera que a medida pode limitar a capacidade de alguns produtores menores acessarem crédito, dado que nem todos têm imóveis disponíveis para garantir. “Em termos prudenciais, melhora o balanço e diminui a volatilidade das provisões, mas reduz a escalabilidade dos ganhos”, diz.
Além da estratégia interna, Medeiros ressaltou que a companhia conta com o apoio do controlador, o governo federal, para enfrentar a situação. Durante o Investor Day, realizado na semana passada, a diretoria do banco também comentou sobre a medida provisória que libera crédito extraordinário para a liquidação ou amortização de dívidas de produtores rurais afetados por eventos climáticos adversos.
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A expectativa é que a instituição receba cerca de 40% a 50% dos R$ 12 bilhões disponibilizados pelo governo. A divisão dos recursos será determinada por regulamentação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), gestor do programa.
Segundo analistas da XP Investimentos, a exigência de imóveis como garantia, combinada com o empréstimo do governo para a liquidação de dívidas dos clientes do agronegócio, deve proporcionar maior previsibilidade ao fluxo de caixa desses clientes, contribuindo para a redução das taxas de inadimplência do banco.
“O apoio governamental por meio de Medidas Provisórias pode beneficiar a ação BBAS3, reduzindo potencialmente a inadimplência no agronegócio e auxiliando os indicadores de capital, mas é improvável que seja suficiente para levar a uma forte recuperação no curto prazo”, dizem Bernardo Guttmann e Mateus Guimarães, que assinam o relatório da XP.
Banco do Brasil focará em novas linhas de negócio e traça melhora em tecnologia
A companhia também anunciou que vai concentrar esforços no segmento de alta renda. Durante evento com investidores, a CEO do Banco do Brasil afirmou que o banco deve atuar de forma mais estruturada nesse segmento a partir do próximo ano, aproveitando sua cadeia de valor. Ainda assim, Medeiros destacou que já no quarto trimestre de 2025 o BB deverá apresentar novidades voltadas à alta renda.
“É um público extremamente concorrido, o cliente de alta renda. Temos a prerrogativa de sermos o banco dos servidores públicos, o que nos traz uma vantagem competitiva muito grande, mas a gente quer mais”, disse.
Para Pedro Galdi, analista da AGF, esse é um movimento aceitável no mercado, até porque outros bancos, como o Bradesco, estão buscando fatia maior no agronegócio. Ou seja, a empresa deve diversificar sua fonte de receitas para não ficar dependente de um segmento. Já Carlos Braga, CEO da comsultoria Grupo Studio, diz que focar no segmento de alta renda em 2026 é uma estratégia inteligente, pois permite a diversificação e a ampliação da base de clientes, principalmente em um cenário de alta competição no mercado bancário.
“Essa entrada pode trazer ganhos significativos, pois o mercado de alta renda tende a ser mais lucrativo, com maior capacidade de geração de receitas por produtos e serviços financeiros diferenciados. Esse movimento deve não apenas fortalecer a marca do banco, mas também proporcionar uma nova fonte de receita, com maior margem de lucro”, pontua Braga.
O Banco do Brasil também planeja contratar 10 mil colaboradores capacitados no novo modelo digital, explorar 42 linhas de negócio e entregar 41 linhas de plataformas, que permitirão aumentar e escalar operações, com ganhos de eficiência e ampliação de mercado. A CEO do BB também afirmou que o banco começou a usar inteligência artificial no processo de concessão de crédito, tendendo a gerar ganhos com eficiência operacional e redução de risco.
Flávio Conde, analista da Levante Investimentos, diz que as medidas podem atrair clientes mais jovens, o que é fundamental para manter a boa perenidade do banco no longo prazo. “O aumento nas linhas de negócios e nas plataformas são relevantes para o avanço da receita da companhia. Ainda vemos a medida como positiva, mas insuficiente para resolver a atual situação do banco”, explica Conde.
Quando o Banco do Brasil voltará a ser um grande pagador de dividendos?
Mesmo após traçar um plano para 2026, os analistas dizem que a empresa não terá uma recuperação rápida. A XP Investimentos explica que os executivos reforçaram a visão de que a inadimplência do agronegócio deve continuar sob pressão, com uma melhora atrasada e mais gradual, e uma normalização provavelmente em níveis piores do que nos últimos anos.
Além disso, os analistas destacam que a desaceleração macroeconômica e as altas taxas de juros continuam afetando as carteiras de pessoas físicas e de pequenas e médias empresas, aumentando a pressão sobre os níveis de provisões. Eles também não preveem melhorias significativas na otimização de despesas no curto prazo.
“Nesse cenário, vemos outros nomes com melhor posicionamento geral no setor, como Itaú, enquanto o Banco do Brasil deve continuar enfrentando uma assimetria negativa de riscos e entregando uma recuperação lenta e incerta”, afirmam Bernardo Guttmann e Mateus Guimarães.
A corretora acredita que a companhia deve demorar a retomar dividendos de dois dígitos (dividend yield). Para 2026, a XP projeta um dividend yield de 5,5%, com a volta de pagamentos de dois dígitos apenas em 2030. Outros analistas compartilham a mesma expectativa, mas indicam um prazo ligeiramente menor
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A Monte Bravo é a casa mais otimista entre as consultadas. A corretora acredita que a companhia deve voltar a pagar dividendo de dois dígitos em 2027. Ainda assim, eles seguem a mesma linha da XP: não vale a pena aportar agora. “Continuamos com recomendação neutra, achamos que o curto prazo é desafiador e temos para 2026 um ano eleitoral que pode fazer o papel negociar descolado de melhorias”, disse Bruno Benassi, analista de Ativos na Monte Bravo.
Os analistas ouvidos pela reportagem ponderam que a ação é para o investidor com paciência de esperar até 5 anos para começar a receber dividendos animadores. Em suma, o mercado vê o plano do Banco do Brasil como algo louvável para resolver a atual situação da companhia. No entanto, a deterioração do agronegócio e as dificuldades das demais carteiras devido à Selic elevada tendem a transformar a corrida do Banco do Brasil (BBAS3) para recuperação em uma maratona em vez de uma prova de 100 metros rasos.